Manuscrito

Carta de Amélie-Gabrielle Boudet para Allan Kardec [19/09/1862]

Paris, 19 de setembro de 1862.

Recebi esta manhã, meu bom amigo, tua carta datada de Lyon; tinha recebido também a última, de Thonon. É tua culpa se eu não te respondi neste último local; tu me dizias que irias estar em Lyon por volta da quarta-feira, então pensei que seria melhor escrever para Lyon. Estou feliz de saber que estás bem e, sobretudo, que a viagem às montanhas da Sabóia te fez bem, mas esperava cartas mais longas; nesta região, tu devias estar com tempo. É preciso ter piedade da minha solidão, que é um verdadeiro recolhimento; e quando esperei dez dias por uma carta tua, que é minha única preocupação, e recebi apenas algumas linhas, juro que foi uma grande decepção, que me entristece ainda mais. Depois de quase um mês que tu partiste, não tive mais distrações além da pobre mãe Henry, que vem no domingo e dorme uma parte do tempo. Algumas raras visitas; domingo, o casal Dozon e o casal <Aimonval>, que te dizem mil coisas amáveis. Aqui, o senhor d’Ambel, Cousin e /2/ Delanne, que vieram saber notícias tuas e que me enchem de elogios. Felizmente, Marie retomou seu temperamento habitual; a tempestade passou, pois era insustentável.

Como não recebi resposta sobre o aluguel, acertei por <550> francos. Pediram-me para pôr um quadro de fotografias no pórtico, espero tua resposta para concedê-lo. <Propus para o jardim um gabinete [de] faia que, aliás, não me foi pedido.>

Poderias indicar onde se encontra a chave dos locais do térreo? Ela não está atrás da porta, onde costumávamos pendurá-la.

Um amigo do novo inquilino perguntou por quanto gostaríamos de alugar o terreno em frente à capela; seria para fazer um jardim. Perguntei ao Bigaud; ele estima esse tipo de aluguel em 10 <sols> o metro; então pensei em fazer assim, exceto a dedução de 100 francos. Tu me dirás o que pensas.

O valor esperado foi alcançado, estamos em 708; eu vendi as coleções. Uma nova carta do senhor de Lachâtre, que enviou um pedido de 444 francos, que /3/ eu mandei enviar a Belleville pelo pobre Brun.

O senhor Dumas está aqui. Ele me trouxe diversos produtos argelinos como tela, lenço, pantufas, além de uma comunicação de Santo Agostinho.

Vi recentemente o doutor Russe, e outro dia a senhora Robyns; ela espera que os negócios se ajeitem, e me confirmou as intenções do doutor para com o Espiritismo, acrescentando que ela o incentivava, sem deixar transparecer. Ela esperava muito de uma entrevista com um engenheiro de primeira ordem, que poderia, ele mesmo, montar o negócio.

Envio hoje ao senhor Jolibois, de Albi, O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns. Tu também não tens que ir a esta cidade? Esse senhor é arquivista departamental.

Recebi ontem uma carta de São Petersburgo, de um russo que dá seu endereço à sua Excelência Apollon Boltin, e que pede autorização para publicar em russo os livros dos Espíritos e dos Médiuns; além disso, seu retrato. Hoje, visita de outro russo, da Bessarábia, que fez o mesmo pedido; ele pegou as coleções e virou assinante.

Fiquei dez dias em casa, na /4/ Avenida de Ségur, mas, desde terça-feira, escolhi ficar aqui; estava muito cansada. Trabalhar no jardim desde às 6 da manhã e, depois, as duas viagens e os serviços do escritório, <as águas> etc. era demais. Eu desisti disso, embora seja ainda mais triste.

Anaïs continua mais ou menos na mesma, mas parece que ela está começando a tossir; embora o senhor Henry ainda diga que vai curá-la, eles vão retornar a Belleville no dia 26, não podendo mais permanecer aqui, seja pelo dinheiro, seja pela senhora Demonval, que está muito cansada, ou devido à administração dos vinhos, que reclama do estado das coisas e ameaça retirar o depósito. Pobres pessoas, como são infelizes!

Estou muito incomodada com nossa ajudante; ela está grávida novamente.

Estou muito contente com os resultados da sessão em Lyon. Acredito, como tu, que isto terá grandes resultados para a propaganda; os opositores devem estar muito irritados. Vejo, seguindo teu itinerário, que não vais estar aqui no dia 3; eu não esperava por isso.

Adeus, meu bom amigo, beijo-te como te amo, e muito ternamente. Amélie.

Agradece por mim à família Villon pelos bons cuidados que ela vem te dando e dá meus cumprimentos.

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Paris le 19 7bre 1862.

J’ai reçu ce matin, mon bon ami, ta lettre datée de Lyon, j’avais reçu en son temps la dernière de Thonon. C’est ta faute si je ne t’ai pas répondue dans ce dernier pays, tu me disais, que tu serais à Lyon, vers le mercredi, alors j’ai pensé qu’il valait mieux t’écrire à Lyon ; Je suis heureuse de te savoir bien portant & surtout que le voyage t’ait fait du bien dans les montagnes de la Savoie, mais j’espérais de plus longues lettres, tu devais avoir le temps dans le pays ; il faut avoir pitié de ma solitude qui est une véritable retraite ; et quand j’ai attendu 10 jours une lettre de toi, qui est ma seule préoccupation, et que je reçois quelques lignes, j’avoue que c’est un grand désappointement qui m’attriste encore plus ; depuis bientôt un mois, que tu es parti, je n’ai eu d’autres distractions que la pauvre mère Henry, qui vînt le dimanche et qui dort une partie du temps ; quelques rares visites ; Dimanche Mr et Mad Dozon & Mr et Mad <Aimonval> qui te disent mille choses aimables. Ici Mr d’Ambel, Cousin et /2/ Delanne qui sont venus savoir de tes nouvelles & qui me chargent de compliments. Heureusement que Marie a repris son caractère ordinaire ; l’orage est passé car ce n’était pas tenable.

Ne recevant pas de réponse pour la location, j’ai terminé à <550> f. On me demande de mettre un tableau de photographie à la porte cochère, j’attends ta réponse pour l’accorder ; J’ai défendu dans le jardin un cabinet <hetré> du reste on ne me l’a pas demandé.

Pourrais-tu indiquer où se trouve la clef des lieux du rez de chaussée ? elle n’est pas derrière la porte ou on l’accrochait ordinairement.

Un ami du nouveau locataire a demandé combien on voudrait louer le terrain qui est vis-à-vis de la chapelle ; ce serait pour faire un jardin ; j’ai demandé à <Bigaud> ; il estime ce genre de location à 10 <sols> le mètre alors j’ai pensé le faire sauf déduction 100 f. Tu me diras ce que tu en penses.

Le chiffre présumé est atteint, nous sommes à 708 ; j’ai vendu des collections. Une nouvelle lettre de Mr de Lachâtre qui a envoyé un mandat de 444 f que /3/ j’ai fait toucher à Belleville par le pauvre Brun.

Mr <Dumas> est ici, il m’a apporté divers produits algériens ; comme Écran, fichu, pantoufle, & &, & une communication de St Augustin.

J’ai vu dernièrement le Doctr Russe, et un autre jour Mad Robyns, elle espère que les affaires s’arrangeront, et elle m’a confirmé les intentions du doctr pour le spiritisme, ajoutant qu’elle poussait à la roue sans en avoir l’air ; elle espérait beaucoup d’une entrevue avec un ingénieur de 1er ordre qui pourrait lui-même monter l’affaire.

J’expédie aujourd’hui à Mr Jolibois d’Albi les livres des Esprits et des Méd. Ne dois-tu pas aller aussi dans cette ville ? Ce Mr est archiviste départl.

J’ai reçu hier une lettre de St Petersbourg d’un russe qui donne son adresse à son Excellence Apollon de Boltinne ; qui demande l’autorisation de publier en russe les livres des Esp. M. & Qu’est. ; de plus ton portrait ; aujourd’hui une visite d’un autre Russe de la Bessarabie qui a fait la même demande ; il a pris les collections et il s’est abonné.

J’ai passé 10 jours en résidence à /4/ l’Avenue de Ségur, mais depuis mardi j’ai élu domicile ici ; j’étais trop fatiguée ; travailler au jardin depuis 6 h du matin et puis les deux voyages & les commissions du bureau, <deseaux> &&. C’était trop. J’y ai renoncé bien que cela soit plus triste.

Anaïs est toujours à peu près de même cependant il paraît qu’elle commence à tousser ; quoique Mr Henry dise toujours qu’il la guérira ils vont retourner à Belleville le 26, ne pouvant plus rester là, soit pour l’argent soit pour Mad Demonval qui est très fatiguée soit pour l’admon des vins qui se plaint de cet état de choses et menace de retirer le dépôt. Pauvres gens qu’ils sont malheureux !

Je suis bien contrariée pour notre concierge la voilà encore enceinte.

Je suis bien contente des résultats de la séance de Lyon, je crois comme toi que cela doit avoir de grands résultats de propagande ; les opposants doivent être bien vexés ; je vois d’après ton itinéraire que tu ne seras pas ici le 3 ; je ne l’espérais guère.

Adieu mon bon ami je t’embrasse comme je t’aime et bien tendrement. Amélie.

Remercie pour moi la famille Villon des bons soins qu’elle te prodigue & fais bien mes amitiés.

09/09/1862 Carta de Amélie Boudet para Allan Kardec
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