Manuscrito

Carta de Allan Kardec para Amélie Boudet [18/09/1862]

Quinta-feira, 18 de setembro de 1862.

Minha boa Amélie,

Cheguei sábado à noite em Lyon, onde encontrei tuas duas cartas que me tranquilizaram quanto a tua saúde, a qual, eu espero, esteja ainda boa. Antes de te escrever, eu esperei que a grande sessão ocorresse, para te informar a respeito; ela aconteceu ontem à noite. Mais de 700 pessoas estiveram reunidas; não creio já ter falado diante de uma assembleia tão numerosa, e no entanto falei com tanta confiança quanto [se estivesse] diante de 20 ouvintes. Meu discurso impressionou bastante, e vai ter resultados incalculáveis. Ponho-me a te escrever hoje, para receber tuas notícias aqui, antes da minha partida, que será na segunda-feira, dia 22. É preciso então que te organizes para que eu possa receber tua carta até domingo.

Gostaria de te escrever longamente, mas isso me é impossível. Direi somente que, até o último momento, era muito incerto se teríamos a permissão para a reunião; o cardeal se opunha a isso com todas suas forças; foi preciso fazer uma consulta a Paris, por despacho telegráfico; parece que veio uma ordem para deixar acontecer [o evento], e a autorização foi dada imediatamente. Uma conspiração havia sido organizada para causar desordem na reunião, para vaiar etc. Fomos advertidos e todas as providências foram tão bem tomadas que a trama foi impedida, e tudo transcorreu na mais plena ordem, todo mundo ficou muito satisfeito, exceto os perturbadores. Tenho todos os detalhes da intervenção dos Espíritos nesse caso; eles queriam essa sessão, e o que fizeram para impedir o tumulto é realmente incrível.

A morte do marechal Castellane chegou inopinadamente na noite do dia anterior; e não deixa de estar relacionada a isso.

Tivemos na reunião dois chefes superiores da direção geral da polícia e o comissário de polícia, que vieram como amigos, e cuja presença inesperada se impôs aos maliciosos. Esses senhores ficaram muito satisfeitos e me fizeram muitos cumprimentos e elogios.

Até a minha partida, vou visitar diferentes grupos particulares, e segunda-feira vou para Avignon, e de lá para Sète, depois para Toulouse, Bordeaux etc. Parece que em Lyon foi uma verdadeira vitória, pois a oposição era colossal.

Apressado pelo tempo, limito-me a te dizer que estou bem; os Espíritos me dando a força física e moral necessária.

Antes de deixar Lyon, vou te escrever para te dar mais detalhes, se eu tiver tempo para isso. Como não sei quanto tempo gastarei durante a viagem, escreva-me para a casa do senhor SabòÉmile Sabò nasceu em 17 de janeiro de 1828 em Bastia. Era funcionário da estrada de ferro Midi Railway Company. Seu primeiro envolvimento com o Espiritismo foi através da sua sogra Marguerite Clémence Lajarriges, que era membro e médium da Sociedade Espírita de Paris. Sabò, empenhado com o avanço da doutrina espírita na cidade de Bordeaux, passou a escrever cartas e artigos. Em 1863, fundou a revista La Ruche Spirite Bordelaise. Em outubro de 1864, Sabò passou a ser secretário de Allan Kardec. No final de sua vida, Sabó desapareceu misteriosamente com apenas 43 anos de idade.
Sinopse biográfica
, em Bordeaux.

Conto naturalmente contigo para a locação [do terreno] na avenida de Ségur; é desnecessário dizer que o que tu fizeres será bem feito.

O senhor e a senhora Villon te enviam mil cumprimentos; direi somente uma palavra a respeito deles: é que se eu estivesse doente em sua casa, a criança deles seria talvez menos bem cuidada.

Mandes lembranças minhas para os nossos amigos.

Teu muito amado,

A.K.

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Jeudi 18 7bre 1862.

Ma bonne Amélie,

Je suis arrivé samedi soir à Lyon où j’ai trouvé tes deux lettres qui m’ont rassuré sur ta santé, qui, je l’espère, est toujours bonne. J’avais attendu de t’écrire que la grande séance ait eu lieu pour t’en rendre compte ; elle a eu lieu hier soir ; plus de 700 personnes ont été réunies ; je ne crois pas encore avoir parlé devant une assemblée aussi nombreuse, et pourtant j’ai parlé avec autant d’aplomb que devant vingt auditeurs. Mon discours a produit une grande sensation, il va avoir des résultats incalculables. Je tiens à t’écrire aujourd’hui pour avoir de tes nouvelles ici avant mon départ qui a lieu lundi 22. Il faut donc t’arranger pour que je reçoive ta lettre d’ici dimanche.

Je voulais t’écrire longuement, mais cela m’est impossible. Je te dirai seulement que jusqu’au dernier moment, on était fort incertains si l’on aurait la permission de se réunir ; le cardinal s’y opposait de toutes ses forces ; il a fallu en référer à Paris par dépêche télégraphique ; il paraît qu’ordre est venu de laisser faire, et l’autorisation a été donnée immédiatement. Un complot avait été organisé pour faire du désordre dans la séance ; pour siffler &. Nous étions avertis et toutes les mesures ont été si bien prises que le complot a été déjoué, et que tout s’est passé dans le plus grand ordre, et que tout le monde a été très satisfait, sauf les perturbateurs. J’ai tous les détails de l’intervention des Esprits dans cette affaire ; ils voulaient cette séance, et ce qu’ils ont fait pour prévenir le tumulte est vraiment incroyable.

La mort du maréchal Castellane arrivée inopinément la veille au soir, n’y est pas étrangère.

Nous avions à la réunion deux chefs supérieurs de la direction générale de la Police et le commissaire de Police qui sont venus comme amis et dont la présence inattendue a imposé aux malveillants. Ces messieurs ont été très satisfaits et m’ont fait beaucoup d’amitiés et de compliments.

D’ici à mon départ je vais aller visiter différents groupes particuliers, et lundi je me rendrai à Avignon, et de là à <Sète> puis à Toulouse, Bordeaux &. Il paraît qu’à Lyon c’est une véritable victoire remportée, car l’opposition était formidable.

Pressé par le temps, je me borne à te dire que je me porte très bien, les Esprits me donnant la force physique et morale nécessaire.

Avant de quitter Lyon, je t’écrirai pour te donner de plus amples détails si j’en ai le temps. Ne sachant le temps que je resterai en route, écris-moi à Bordeaux chez M.r Sabò.

Je m’en rapporte naturellement à toi pour la location de l’avenue de Ségur ; il va sans dire que ce que tu feras sera bien fait.

M.r et M.e Villon te font mille amitiés ; je ne dirai qu’un mot à leur sujet, c’est que si j’étais malade chez eux, leur enfant serait peut-être moins bien soigné.

Ne m’oublie pas auprès de nos amis.

Ton bien affectionné,

A.K.

18/02/1862 Comunicação
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