Manuscrito

Carta de Allan Kardec para Amélie Boudet [20/08/AAAA]

/4/ Senhora

Senhora Rivail

Rua Tiquetonne, nº 10

Paris

[Carimbos da frente] LYON 20 DE AGOSTO 41 (68)

PARIS, 21 DE AGOSTO 41 (60)

/1/ Lyon, sexta-feira, 20 de agosto.

Recebi tua carta esta manhã, minha querida Amélie; ela me deu grande prazer ao descobrir que tua saúde está um pouco melhor; espero que não pares no caminho e faças integralmente o que for prescrito. Quanto a mim, tive uma nevralgia que me fez sofrer como um condenado durante alguns dias; agora está melhor. Mas como o foco vem de uma inflamação das gengivas, fico com uma raiva terrível quando esforço o maxilar para comer, o que me obriga a fazer abstinência; como não é perigoso, não me preocupo com isso. E sei que está perto do fim.

Não tenho novidades sobre meus negócios aqui, senão que o senhor Girardin veio me ver na quarta-feira à noite; seja para visitar-me, seja para me prevenir pessoalmente (independentemente do comunicado que eu havia recebido) que um serviço seria realizado no dia seguinte, às 9 horas. Conversamos por muito tempo, mas sobre coisas indiferentes; de propósito, evitei dizer qualquer coisa que pudesse fazer alusão à minha tia.

Quando vi o senhor Quinson no dia seguinte à minha visita ao senhor Girardin, ele já sabia, pelo senhor Laborie, do apelo que ela tinha feito; o senhor Girardin ficou muito satisfeito, mas o senhor Laborie não pôde vê-lo sozinho e falar-lhe do negócio. Desde então, não vi mais o senhor Quinson; fui até sua casa, sem encontrá-lo, de modo que não sei o que aconteceu. Acabo de escrever uma mensagem ao senhor Girardin para perguntar-lhe o dia da retirada dos selos; será também uma forma de ter algo dele, que te enviarei para tu consultares.

Vejo com prazer a persistência de Mariette em suas esperanças; isso me dá coragem, e confesso que são essas garantias que me levaram desde o começo a não desistir, quando vi o desenrolar das coisas. São essas mesmas aparências que me fizeram quebrar a cabeça /2/ para ver se não havia um modo de aproveitar a posição. Ora, eis o que espero: ou o senhor Girardin, cedendo a um espírito de equidade, e talvez de amor próprio, me dará uma nova parte ou ele recusará. Se ele se negar a entregar-me, se não quiser privar seus filhos de uma parte da fortuna, então mandarei sondá-lo para ceder-me o usufruto, o que não o privaria dos fundos, e para mim seria ainda um bom negócio. Enfim, em última análise, explicarei minha posição de maneira que ele não poderá, sem ser desprovido de coração, recusar-se a me dar apoio e assistência para meus negócios, nem que seja a título de empréstimo, se não o quiser de outro modo. Espero então que, de uma maneira ou de outra, eu obtenha algo de útil. Enfim, pode ocorrer alguma circunstância, mas isto é mais um desejo que qualquer outra coisa, que talvez possa pressionar o senhor Girardin; está no inventário que será efetuado quando os selos forem retirados. Não espero encontrar novas disposições a meu favor, pelo contrário; poderia ser que, em algum escrito, ela quisesse justificar a minha exclusão por algumas causas de que já suspeito, e que se voltariam a meu favor, como, por exemplo, que não sou filho de meu pai. Eu queria muito que houvesse algo desse tipo, pois isso me seria favorável. Mostrando certa inclinação para atacar esse testamento, por ser fundado em um motivo que posso provar ser inexato, o senhor Girardin poderia, como eu disse, buscar evitar um processo que, em todo caso, o colocaria em uma posição desagradável. Comunica todas essas reflexões à Mariette e pergunta-lhe o que ela pensa. O que me dá esta ideia é que os sonâmbulos sempre disseram pensar que, por ser tão precavida, minha tia acabaria cometendo algum deslize; ora, acredito que já o tenha feito ao não ter me dado nada. Se ela tivesse me deixado apenas uma bagatela, eu não poderia reclamar, porque diriam que minha parte estava dada; não tendo nada, minha posição torna-se mais interessante.

/3/ Tu estavas bem inspirada ao incitar-me a não atrasar minha partida; esse atraso, segundo o que me disseste, não teria servido para muita coisa em Paris e teria sido prejudicial aqui, pois ele ficou muito feliz por me encontrar na cerimônia fúnebre; minha presença causou um bom efeito, e meio dia de atraso teria me privado dessa possibilidade.

Mal posso esperar pela decisão do terceiro árbitro no caso Pitolet; pergunta à Mariette o que ela pressente e inteira-me a respeito. Parece que meu tio poderia ter se apresentado em meu nome. Pede a meu tio também para consultar a senhora de St. sobre este assunto o mais rápido possível, a fim de informar-me ao mesmo tempo; sua capacidade para decifrar os escritos deve tornar essa pesquisa mais fácil para ela do que para qualquer outro sonâmbulo. Quanto ao pedido que faz Victor, de documentos relativos ao quadro para o qual foi designado, não sei de quais precisa que eu possa lhe dar, senão a autorização da sede da polícia e da soma do comissário; não tenho outros. Deves encontrá-los em uma das pequenas gavetas da minha escrivaninha; devem estar em uma destas, marcadas aqui com uma cruz.

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Acabei de receber a resposta do senhor Girardin, que me avisa que a retirada dos selos ocorrerá amanhã. Incluo aqui um pedaço de seu bilhete para o submeteres à Mariette. Deixa-a ver se, no momento em que ele escreveu, já haviam sido feitas propostas, o que ele pensa e qual será o resultado disso.

Vou jantar na segunda-feira, na casa de Duhamel, com o senhor Quinson. Deveria ir hoje ao campo, na casa de Rigollet, mas, preferindo escrever-te, perdi a hora da locomoção. Também não poderei ir até lá amanhã, por causa da retirada dos selos. No domingo, haverá uma grande festa em Lyon para a recepção do Duc d’Aumale e do 17° Regimento de Linha, o que me dará grande prazer, como podes adivinhar.

Adeus, minha boa Amélie,

Teu muito afetuoso.

HLDR.

PS: Como não me contas da saúde de meu tio, presumo que ele esteja bem. Receberás esta carta no domingo e, como me responderás no mesmo dia, não te esqueças de que as cartas são levadas mais cedo neste dia.

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/4/ Madame

Madame Rivail

Rue Tiquetonne n° 10

Paris

[Cachets au recto] LYON 20 AOUT 41 (68)

PARIS 21 AOUT 41 (60)

/1/ Lyon vendredi 20 août

J’ai reçu ta lettre ce matin ma bonne Amélie : elle m’a fait un bien grand plaisir en m’apprenant que ta santé est un peu meilleure ; j’espère que tu ne t’arrêteras pas en chemin et que tu feras exactement jusqu’au bout tout ce qui sera prescrit. Quant à moi j’ai eu une névralgie qui m’a fait souffrir comme un damné pendant quelques jours ; cela va mieux maintenant : mais comme le siège vient d’une inflammation des gencives, il me prend des rages épouvantables quand je me fatigue la mâchoire à manger ; ce qui fait que je suis obligé de faire abstinence ; comme cela n’est pas dangereux je ne m’en inquiète pas. Je sais d’ailleurs que cela touche à la fin.

Je n’ai rien de nouveau quant à mes affaires ici ; sinon que M. Girardin est venu me voir mercredi soir ; soit pour me faire visite, soit pour me prévenir de vive voix, (indépendamment du faire part que j’avais reçu) qu’un service serait célébré le lendemain à 9h du matin. Nous avons causé assez longtemps ; mais de choses indifférentes ; j’ai à dessein évité de rien dire qui peut faire allusion à ma tante.

Lorsque j’ai vu Mr Quinson le lendemain de ma visite à M. Girardin, il savait déjà l’appel qu’elle avait produit, par Mr Laborie ; Mr Girardin avait été fort satisfait ; mais Mr Laborie n’avait pu le voir seul et lui parler de l’affaire. Depuis je n’ai pas revu Mr Quinson ; je suis allé chez lui sans le rencontrer, de sorte que je ne sais ce qui se sera passé. Je viens d’écrire un mot à Mr Girardin pour lui demander le jour de la levée des scellés ; ce sera en outre un moyen d’avoir de lui quelque chose que je t’enverrai pour consulter.

Je vois avec plaisir la persistance de Mariette dans ses espérances ; cela me donne du courage, et j’avoue que ce sont ces assurances qui m’ont engagé dès l’abord à ne pas lâcher la partie quand j’ai vu comment cela tournait. Ce sont ces mêmes apparences qui m’ont fait me creuser la cervelle /2/ pour voir s’il n’y avait pas un moyen quelconque de tirer parti de la position ; or voici ce que j’espère ; ou Mr Girardin cédant à un esprit d’équité et peut-être d’amour propre me fera une part nouvelle, ou il refusera. S’il refuse de me faire un abandon, s’il ne veut pas priver ses enfants d’une partie de cette fortune, alors je le ferai sonder pour m’en céder l’usufruit ce qui ne le priverait pas du fonds et pour moi serait toujours une bonne affaire. Enfin en dernière analyse j’expliquerai ma position de manière qu’il ne pourra, sans être dépourvu de cœur, de refuser à me prêter appui et secours pour mes affaires, ne fut-ce qu’à titre de prêt, s’il ne veut pas autrement. J’espère donc que d’une manière ou de l’autre il m’en reviendra quelque chose d’utile. Enfin il peut se présenter une circonstance, mais ceci est plutôt un désir qu’autre chose, qui pourrait peut-être forcer un peu la main à Mr Girardin ; c’est dans l’inventaire qui sera fait lors de la levée des scellés. Je n’espère point y trouver de nouvelles dispositions en ma faveur, au contraire ; il se pourrait que dans quelque écrit elle eut voulu justifier mon exclusion par quelques causes que je soupçonne, et qui tourneraient à mon avantage, comme p. ex. que je ne suis pas le fils de mon père. Je voudrais pour tout au monde qu’il y eut quelque chose de semblable ; car alors cela me donnerait bon jeu. En montrant quelque velléité d’attaquer ce testament, comme étant fondé sur un motif que je puis prouver être inexact, Mr Girardin pourrait bien, comme je l’ai dit, chercher à éviter un procès qui, dans tous les cas le mettrait dans une position désagréable. Communique toutes ces réflexions à Mariette et demande-lui ce qu’elle en pense. Ce qui me donne cette idée, c’est que les somnambules ont toujours dit qu’elles pensaient qu’à force de précautions ma tante finirait par faire quelque maladresse ; or je crois que c’en est une d’abord de ne m’avoir absolument rien donné. Ne m’eut-elle laissé qu’une bagatelle, je n’aurais pu rien réclamer, parce qu’on aurait dit que ma part avait été faite ; n’ayant rien ma position devient plus intéressante.

/3/ Tu as été bien inspirée de m’engager à ne pas retarder mon départ ; ce retard d’après ce que tu me dis ne m’aurait pas servi à grand-chose à Paris, et m’aurait été préjudiciable ici ; car il a été fort heureux que je me sois trouvé à la cérémonie funèbre ; ma présence a été d’un bon effet ; une demi journée de retard m’en eut ôté la possibilité.

Il me tarde bien de connaître la décision du tiers arbitre dans l’affaire Pitolet ; demande à Mariette ce qu’elle en pressent et fais m’en part. Il me semble que mon oncle aurait pu s’y présenter en mon nom. Prie aussi mon oncle de consulter à ce sujet Me de St. le plus tôt possible afin de m’en informer en même temps ; l’aptitude de cette dernière à déchiffrer les écrits doit lui rendre cette recherche plus facile qu’à toute autre somnambule. Quant à la demande que fait Victor des pièces relatives au tableau pour lequel il est assigné, je ne vois pas quelles sont celles dont il ait besoin et que je puisse lui remettre, <si ce> n’est l’autorisation de la préfecture de police et la sommation du commissaire ; je n’en <ai pas> d’autres. Tu dois les trouver dans un des petits tiroirs de mon bureau ; ce doit être dans un de ceux du milieu marqués ici par une croix.

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Je reçois à l’instant la réponse de Mr Girardin qui me prévient que la levée des scellés aura lieu demain. Je joins ici une partie de son billet pour te servir auprès de Mariette. Qu’elle voie si au moment où il l’a écrit, il lui avait déjà été fait des ouvertures ; ce qu’il pense, et ce qui en résultera.

Je dine lundi chez Duhamel avec Mr Quinson. Je devais aller aujourd’hui à la campagne chez Rigollet, mais préférant t’écrire, j’ai laissé passer l’heure de la voiture. Je ne pourrai non plus y aller demain à cause de la levée des scellés. Dimanche grande fête à Lyon pour la réception du Duc d’Aumale et du 17° régiment de ligne, ce qui me fera un très sensible plaisir, comme tu le penses.

Adieu ma bonne Amélie,

Ton bien affectionné.

HLDR.

P.S. Comme tu ne me parles pas de la santé de mon oncle, je présume qu’il se porte bien. Tu recevras cette lettre dimanche, et comme tu me répondras le même jour, tu n’oublieras pas que les lettres sont levées plus tôt ce jour là.

18/10/1873 Título de propriedade - Amélie Gabrielle Boudet
06/01/AAAA Comunicação
01/05/AAAA Comunicação
20/09/AAAA Carta de Allan Kardec para Amélie Gabrielle Boudet
20/11/AAAA Rascunho de carta de Allan Kardec para Amélie Gabrielle Boudet
27/11/AAAA Comunicação