Manuscrito
Comunicação [27/11/AAAA]
Senhora Costel
A alma
27 de novembro de 1863
Minha filha, vou falar-lhe da origem da alma, uma questão obscura, já muito debatida, mas ainda não resolvida.
Os estudos espíritas estão ampliando, cada vez mais, os alcances dos conhecimentos terrestres. Conforme nossos ensinamentos crescem sob a inspiração dos Espíritos astrais, podemos tentar guiar o homem no labirinto obscuro e confuso dos destinos passados e futuros. A alma é de origem divina. Este ponto é aceito sem contestação. Segundo a tradição bíblica, o pecado fez com que esta filha do Céu caísse de sua grandeza primitiva e a submeteu às misérias de provações sucessivas, que a levarão a conquistar novamente o Paraíso Perdido. O estudo atento dos princípios físicos e morais da Criação demonstra a lei universal do progresso, que funde, uns aos outros, os anéis da corrente terrestre, mas não dá, em nenhum lugar, o exemplo da retrogradação: a águia não volta a ser um ácaro; a alma elevada ao santuário não volta a ser pecadora.
Deixemos esta vã discussão e abordemos o princípio doutrinário: a alma é uma molécula de fogo que emana diretamente do Criador. Esta molécula, como as da natureza física e animal, é entregue às suas próprias condições. Ela possui em si um caráter indestrutível de vida; após sua encarnação /2/ na carne, ela flutua inerte e desperta ignorante de si mesma nos círculos inferiores da existência inicial. Ela se chama instinto. Até a conquista do livre-arbítrio, que a consagra como alma! Aqui se assinala a imensa diferença que separa o princípio humano do princípio animal, que é essencialmente finito em sua essência. As raças dos animais se perpetuam sem progredir? Essa imobilidade evita qualquer confusão, impede a menor aproximação entre a vida animal, irresponsável, submetida aos únicos instintos da raça, e a vida material e espiritual do homem, móvel como as ondas e profunda como a eternidade!
A alma é a emanação direta de Deus. Esta sublime emanação assume seu caráter sagrado na luta das provações: os círculos em que ela cumpre sua gravitação permanecem quase estacionários, ao passo que ela os atravessa e passa, ardente como o fogo, brilhante como a chama. Deus, no entanto, não fez exceção à sua adorada obra; ele a submeteu ao princípio genérico do desenvolvimento, e mesmo ao da morte aparente, que a vela por um momento para adorná-la com as forças adquiridas para o movimento universal. Peço-lhes que abandonem, portanto, em nome da lógica, a ideia impossível da degradação da alma.
Termino este escrito incompleto que entrego às meditações dos espíritas que se dispuserem a aceitar as palavras do antigo filósofo.
Jean Reynaud
Mm. Costel
L’âme
27 Novembre 63
Ma fille, je vais vous parler de l’origine de l’âme, obscure question, déjà bien débattue, mais non encore résolue.
Les études spirites reculent chaque jour les limites apportées aux connaissances terrestres. Nos enseignements grandissent sous l’inspiration des Esprits astraux, nous pouvons essayer de guider l’homme dans le labyrinthe obscur et confus de ses destinées passées et futures.
L’âme est d’origine divine. Ce point est admis sans conteste. Selon la tradition Biblique, le péché a fait déchoir cette fille du Ciel de sa grandeur primitive, et l’a assujettie aux misères d'épreuves successives qui lui feront conquérir de nouveau le Paradis Perdu. = L’Étude attentive des principes physiques et moraux de la Création démontre la loi universelle du Progrès, qui soude les uns aux autres les anneaux de la chaîne terrestre, mais elle ne donne nulle part l’exemple de la rétrogradation, et l’aigle ne devient pas plus ciron, que l’âme élevée dans le sanctuaire n’est devenue pécheresse.
Laissons cette vaine discussion, et abordons le principe doctrinal : l’âme est une molécule de feu émanant directement du Créateur. Cette molécule, comme celles de la nature physique et animale, est livrée aux conditions qui lui sont propres. Elle porte en elle un caractère indestructible de vie, après son incarnation /2/ dans la chair, elle flotte atone et s’éveille ignorante d’elle-même dans les cercles inférieurs de l’existence initiatrice. Elle s’appelle instinct. Jusqu’à la conquête du libre arbitre qui la sacre âme ! Ici se marque la différence immense qui sépare le principe humain du principe animal qui est essentiellement fini dans son essence. Les races des animaux se perpétuent sans progresser? Cette immobilité prévient toute confusion, elle empêche le moindre rapprochement entre la vie animale irresponsable soumise aux uniques instincts de la race et la vie matérielle, et spirituelle de l’homme, mobile comme les flots et profonde comme l’éternité !
L’âme est l’émanation directe de Dieu. Cette émanation sublime revêt dans la lutte des épreuves son caractère sacré : les cercles dans lesquels elle accomplit sa gravitation demeurent presque stationnaires, tandis qu’elles les franchit et les dépasse, ardente comme le feu, et brillante comme la flamme. = Dieu n’a pourtant pas fait d’exception pour son œuvre chérie, il l’a soumise au principe générique du développement, et même de la mort apparente qui la voile un moment pour la rendre parée des forces acquises au mouvement universel. Abandonnez donc, je vous en prie, au nom de la Logique, l’idée impossible de la déchéance de l’âme. =
Je termine cet incomplet exposé que je livre aux méditations des Spirites qui veulent bien accueillir les paroles de l’ancien Philosophe.
Jean Reynaud
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