Manuscrito
Marennes, 8 de outubro de 1862.
Minha boa Amélie, embora não tenha nada de particular para te contar, aproveito um pequeno instante para te dar minhas notícias, que são sempre boas, pois continuo perfeitamente bem. Cheguei aqui ontem à noite, às seis horas. O senhor Blanchard foi pegar-me de carro na descida do barco a vapor; eu só tive tempo para jantar antes de ir à reunião, que começou às oito e meia e se prolongou até as onze e meia; se eu não tivesse encerrado a sessão, ninguém pensaria em ir embora. Havia cerca de sessenta pessoas, dentre as quais cinco moradores de Méchey, entre eles o senhor Drouhet, tabelião, um dos assinantes. Eles gastaram oito horas para chegar em Marennes, e como tinham compromisso no dia seguinte, partiram de volta à uma hora da manhã; isso é o que se pode chamar de zelo e fé. Tudo confirma o que se dizia da facilidade com que o Espiritismo se difunde nas regiões de Charente.
Recebi aqui uma acolhida das mais simpáticas. Vou almoçar nesta manhã na casa da senhora onde ocorreu a reunião; ela é uma médium muito boa, e se encontra na posição de Anaïs, isto é, ela tem uma dor no pé muito semelhante, atribuída a uma antiga torção, e para a qual todos os médicos declararam não saber o que fazer; foram empregados meios que agravaram a dor. Há algum tempo ela segue as prescrições de seu guia espiritual, e está melhor. Ela não sofreu tanto quanto Anaïs, mas consegue apenas dar alguns passos em seu quarto. Pobre Anaïs, de quem tenho pena, assim como dos seus! Manda-lhes lembranças.
Parto à tarde para Rochefort; amanhã, quinta-feira, 9, estarei em Saint-Jean- d’Angély, onde me esperam com impaciência, pois o presidente da sociedade espírita me escreveu quando eu estava em Bordeaux; lá, certamente não serei menos bem recebido do que nos outros lugares. Se minha viagem é cansativa, posso dizer que ela nada me deixa a desejar quanto à satisfação; é uma série contínua dos mais tocantes testemunhos de simpatia. Não falo dos discursos; haveria material para fazer um volume.
Adeus, boa Amélie, deixo a pena de lado, porque estão vindo me buscar para almoçar. Eu te escreverei de Angoulême para te dizer o dia e a hora de minha chegada. Estava esquecendo de te dizer que as pessoas na casa de quem vou almoçar me [disseram] que ficariam encantadas em te conhecer, e que ficariam muito felizes se me acompanhasses em minha próxima viagem. Estou encarregado de transmitir os cumprimentos deles a ti e à esposa do... [ileg.].
Adeus novamente e até breve.
Allan Kardec
Peço para dizer aos membros da Sociedade o quanto lamento por não ter podido voltar a Paris para as primeiras sessões, mas o interesse do Espiritismo ainda me manterá alguns dias longe dos meus colegas. Peço que aceitem minhas desculpas…



Marennes, 8 8bre 1862.
Ma bonne Amélie, quoique je n’aie rien de particulier à te mander, je profite d’un petit instant pour te donner de mes nouvelles qui sont toujours bonnes, car je continue à me porter parfaitement. Je suis arrivé ici hier soir à 6 heures ; M.r Blanchard était venu me prendre en voiture à la descente du bateau à vapeur ; je n’ai eu que le temps de dîner pour aller à la réunion qui avait lieu à 8 heures ½ et qui s’est prolongée jusqu’à 11 h ½ ; si je n’avais levé la séance, personne ne songeait à s’en aller ; il y avait environ 60 personnes. Dans ce nombre étaient 5 habitants de <Méchey>, entr’autres M.r Drouhet notaire, un des abonnés ; ils ont fait 8 heures pour se rendre à Marennes, et comme ils avaient à faire le lendemain, ils sont repartis à 1 heure du matin ; c’est là ce qu’on peut appeler du zèle et de la foi. Tout confirme ce qu’on disait de la facilité avec laquelle le Spiritisme se répand dans les contrées de la Charente.
J’ai reçu ici un accueil des plus sympathiques. Je vais déjeuner ce matin chez la dame où a eu lieu la réunion ; elle est très bon médium, et se trouve dans la position d’Anaïs, c’est-à-dire qu’elle a un mal de pied en tout semblable, attribué à une ancienne entorse, et pour lequel tous les médecins ont déclaré ne savoir que faire ; on a employé des moyens qui ont aggravé le mal ; depuis quelque temps elle suit les prescriptions de son guide spirituel, et elle se trouve mieux. Elle n’a pas autant souffert qu’Anaïs, mais elle peut à peine faire quelques pas dans sa chambre. Pauvre Anaïs que je la plains ainsi que les siens ! Ne m’oublie pas auprès d’eux.
Je pars après midi pour Rochefort ; demain jeudi 9 je serai à St. Jean d’Angély où l’on m’attend avec impatience car le président de la société spirite m’a écrit à Bordeaux ; je n’y serai sans doute pas moins bien reçu qu’ailleurs. Si mon voyage est fatiguant, je puis dire qu’il ne me laisse rien à désirer pour la satisfaction ; c’est une série continuelle de témoignages les plus touchants de sympathies. Je ne parle pas des discours ; il y aurait de quoi en faire un volume.
Adieu bonne Amélie, je quitte la plume, parce qu’on vient me chercher pour déjeuner. Je t’écrirai d’Angoulême pour te dire le jour et l’heure de mon arrivée.
J’oubliais de te dire que les personnes chez qui je vais déjeuner, m’ont [dit] qu’elles seraient charmées de faire ta connaissance, et qu’elles seraient très heureuses si tu m’accompagnais à mon prochain voyage. Je suis chargé de leurs compliments pour toi, comme à la femme du … [illis.].
Adieu encore et à bientôt.
A.K.
Je te prie de dire aux membres de la Société combien je regrette de n’avoir pu revenir à Paris pour les premières séances, mais l’intérêt du Spiritisme me retiendra encore quelques jours loin de mes collègues. Prie les d’agréer mes regrets...