Manuscrito

Carta de Allan Kardec para Amélie Boudet [03/10/1862]

Bordeaux, sexta-feira, 3 de outubro de 1862.

Minha boa Amélie, cheguei a Bordeaux na segunda-feira ao meio dia e, a partir desse mesmo dia, começaram as reuniões e as visitas, que não me deixaram descansar nem por um instante; todo dia eu me dispunha a te escrever mais extensamente, mas sempre era impedido disso; queria especialmente te escrever ontem para dar alguns detalhes sobre a sessão desta noite, mas a hora do correio passou, sem que me fosse possível fazê-lo. Não quero, no entanto, retardar mais para te dar minhas notícias; continuo muito bem, exceto um dia em que tive a mesma coisa que no ano passado, mas isso não durou mais do que 24 horas, sem qualquer consequência.

Amanhã vou te escrever um pouco mais longamente para responder a respeito da avenida de Ségur; hoje literalmente não tenho mais tempo para postar minha carta, e a cada instante vem alguém me incomodar.

Pretendia partir de Bordeaux no domingo de manhã, mas eis que uma circunstância me força a adiar minha partida para terça-feira de manhã. Se, como desejo, tu me escreveres, faça-o de modo que tua carta chegue no máximo até segunda-feira; depois disso eu não permanecerei mais de um dia onde estiver, de modo que não saberei te indicar um local preciso. Sou obrigado a ir a Marennes, aonde vou por mar, o que me atrasará em alguns dias.

Nada te direi então sobre minha viagem, salvo que não poderia estar mais satisfeito; o resultado supera minhas esperanças e toma proporções inteiramente inesperadas, assim como me haviam anunciado os Espíritos em Paris e em Lyon.

É impossível receber uma acolhida mais amável e mais atenciosa; em toda parte minha palavra é recebida como a de um oráculo. Sinto a faculdade de improvisação se desenvolver em mim, e estou eu próprio espantado com a facilidade com que falo.

Por mais satisfação que eu sinta nessa longa viagem, não vejo a hora de voltar para casa e ficar perto de ti, mas entendo que é um dever que cumpro e que dará seus frutos.

Adeus então, querida Amélie, abraço-te, de todo meu coração, como não há dúvidas.

A.K.

Meu endereço é:

Senhor Allan Kardec, Hotel du Commerce

Place du Chapelet, 4, Bordeaux.

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Bordeaux, vendredi 3 8bre 1862.

Ma bonne Amélie. Je suis arrivé à Bordeaux lundi à midi, et dès ce même jour ont commencé les réunions et les visites qui ne m’ont pas laissé un instant de repos ; chaque jour je me disposais à t’écrire un peu longuement, et toujours j’en étais empêché ; je voulais surtout t’écrire hier pour donner quelques détails pour la séance de ce soir, et l’heure du courrier s’est passée, sans qu’il me soit possible de le faire. Je ne veux cependant pas tarder plus longtemps pour te donner de mes nouvelles ; je continue à me très bien porter, sauf un jour où j’ai eu la même chose que l’année dernière, mais cela n’a duré que 24 heures, sans aucune suite.

Demain je t’écrirai un peu plus longuement pour répondre à ce qui concerne l’avenue de Ségur ; aujourd’hui je n’en ai littéralement pas le temps pour pouvoir faire partir ma lettre, et à chaque instant on vient me déranger.

Je comptais partir de Bordeaux dimanche matin, et voilà qu’une circonstance force à remettre mon départ à mardi matin. Si tu m’écris comme je le désire, fais en sorte que ta lettre m’arrive pour lundi au plus tard ; passé cela je ne m’arrêterai pas plus d’un jour où je vais aller, de sorte que je ne saurai t’indiquer un endroit précis. Je suis obligé d’aller à Marennes, où je me rends par mer, ce qui me retardera d’un couple de jours.

Je ne te dirai donc rien de mon voyage, sinon que je suis on ne peut plus satisfait ; le résultat dépasse mes espérances, et prend des proportions tout à fait inattendues, ainsi que me l’avaient annoncé les Esprits à Paris et à Lyon.

Il est impossible de recevoir un accueil plus aimable et plus empressé ; partout ma parole est accueillie comme un oracle ; je sens la faculté d’improvisation se développer en moi, et je suis étonné moi-même de la facilité avec laquelle je parle.

Quelque satisfaction que j’éprouve dans cette longue tournée, il me tarde d’être rentré au foyer et d’être auprès de toi, mais je comprends que c’est un devoir que j’accomplis, et qui portera ses fruits.

Adieu donc, chère Amélie, je t’embrasse de tout cœur comme tu n’en doutes pas.

A.K.

Mon adresse est :

M.r Allan Kardec. Hôtel du commerce

4 Place du chapelet à Bordeaux.

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