Manuscrito
Marmande. Domingo, 28 de setembro de 1862.
Minha boa Amélie, cheguei aqui ontem à tarde; o senhor Dombre veio me esperar na estrada de ferro e me conduziu a sua casa, onde estou instalado. Recebi dele e de toda sua família a mais cordial e atenciosa acolhida. Moram com ele sua mulher e sua mãe, e nesse momento [estão com ele] sua filha e seu genro, que moram na Espanha, na Andaluzia, e vieram passar algum tempo com a família. Sua filha é uma jovem muito amável e parece ser uma excelente pessoa, assim como seu marido. Toda a família é espírita, de modo que todos se entendem perfeitamente.
À noite vieram várias pessoas, e naturalmente se praticou o Espiritismo; mas é hoje à noite a sessão geral onde, eu creio, haverá muitas pessoas, pois o Espiritismo se espalha aqui como grama.
Em Toulouse o senhor Jean de Sainte-Gemme e outro senhor, da mesma cidade, vieram especialmente para assistir à reunião; é uma viagem de vinte cinco léguas que eles fizeram para isso. O senhor de Cazeneuve d’Albi, aquele cujo nome eu não tinha podido ler, por estar doente, não pôde vir, para seu grande pesar, pois ele se propunha até mesmo ir a Bordeaux se fosse preciso.
No hotel onde me hospedei, onde haviam me preparado um quarto, nada foi poupado para que eu tivesse todo o conforto desejável. Havia sempre cinco ou seis senhores que vinham almoçar e jantar comigo. O gerente do hotel é um espírita muito bom, assim como sua família, e me trataram com muita gentileza. No momento de partir, pedi minha conta; ele me respondeu que estava paga e que eu nada devia. Embora eu insistisse com aqueles que tinham providenciado isso, não houve meio de lhes fazer compreender; responderam-me que, quando um pai vai ver seus filhos, ele paga suas despesas na família. Mas eis a solução do enigma. Há algum tempo, eles haviam perguntado a um dos seus guias espirituais se ele podia lhes dizer o dia de minha chegada. O Espírito lhes respondeu:
“Não posso vos precisar; ele vos informará sobre isso; mas tenho algo para vos recomendar: é que estejais repletos de bondade a seu respeito, pois deveis considerá-lo como o pai de todos vós É somente ele quem conduz o fio da fé católica, e apenas quando essa luz for visível a todos, que vós podereis compreender e apreciar esse ser misterioso.
Pergunta: Não poderíeis vós nos dar uma instrução quanto à maneira como devemos recebê-lo?
Resposta: Oh! Para isso procedei de acordo com vosso coração; se vos disséssemos tudo, isso não vos custaria nada, e todo o mérito seria para nós. Trabalhai, somente assim se chega ao Pai celestial.”
Essa comunicação me foi entregue no momento de minha partida. Aliás, não é a única desse tipo que me foi feita ao longo de minha viagem.
Parto amanhã para Bordeaux, mas parece que querem, a toda força, reter-me por alguns dias a mais do que eu pretendia aqui ficar. O senhor SabòÉmile Sabò nasceu em 17 de janeiro de 1828 em Bastia. Era funcionário da estrada de ferro Midi Railway Company. Seu primeiro envolvimento com o Espiritismo foi através da sua sogra Marguerite Clémence Lajarriges, que era membro e médium da Sociedade Espírita de Paris. Sabò, empenhado com o avanço da doutrina espírita na cidade de Bordeaux, passou a escrever cartas e artigos. Em 1863, fundou a revista La Ruche Spirite Bordelaise. Em outubro de 1864, Sabò passou a ser secretário de Allan Kardec. No final de sua vida, Sabó desapareceu misteriosamente com apenas 43 anos de idade.
Sinopse biográfica e a senhora
Um dia depois de minha chegada deve ocorrer a sessão geral, que estará lotada. O comissário de polícia disse ao senhor SabòÉmile Sabò nasceu em 17 de janeiro de 1828 em Bastia. Era funcionário da estrada de ferro Midi Railway Company. Seu primeiro envolvimento com o Espiritismo foi através da sua sogra Marguerite Clémence Lajarriges, que era membro e médium da Sociedade Espírita de Paris. Sabò, empenhado com o avanço da doutrina espírita na cidade de Bordeaux, passou a escrever cartas e artigos. Em 1863, fundou a revista La Ruche Spirite Bordelaise. Em outubro de 1864, Sabò passou a ser secretário de Allan Kardec. No final de sua vida, Sabó desapareceu misteriosamente com apenas 43 anos de idade.
Sinopse biográfica que seria permitido fazer tudo o que gostariam para me receber, reunir-se qualquer número de pessoas sem que houvesse o menor obstáculo. Com base nisso, não há dúvida de que as instruções vieram de autoridade superior.
...Como vês, minha querida Amélie, o sucesso de minha viagem vai crescendo, graças a Deus, eu continuo muito bem, apesar do calor excessivo que faz; somente hoje o tempo refrescou um pouco. Ao fim de minha viagem, terei percorrido 2680 quilômetros, ou seja, 670 léguas por estrada de ferro, e no entanto não estou cansado.
Adeus, boa Amélie. Teu amado,
A.K.


Marmande. Dimanche 28 7bre 1862.
Ma bonne Amélie, je suis arrivé ici hier dans l’après-midi ; M.r Dombre est venu m’attendre au chemin de fer et m’a conduit chez lui où je suis installé. J’ai reçu de lui et de toute sa famille l’accueil le plus cordial et le plus empressé. Il a avec lui sa femme et sa mère, et en ce moment sa fille et son gendre qui habitent en Espagne dans l’Andalousie, et <sont> venus passer quelque temps dans la famille. Sa fille est une jeune femme très aimable et qui paraît une excellente personne, ainsi que son mari. Toute la famille est spirite, de sorte que tout le monde s’entend parfaitement.
Dans la soirée plusieurs personnes sont venues, et naturellement on a fait du Spiritisme ; mais c’est ce soir qu’a lieu la séance générale qui je crois sera assez nombreuse car le Spiritisme prend ici comme du <chiendent>.
À Toulouse M.r Jean de S.te Gemme, et un autre M.r de la même ville sont venus tout exprès pour assister à la réunion ; c’est un voyage de 25 lieues qu’ils ont fait pour cela. M.r de Cazeneuve d’Albi, ce M.r dont je n’avais pas pu lire le nom, se trouvant malade, n’a pu venir à son grand regret, car il se proposait de se rendre même à Bordeaux s’il le fallait.
À l’hôtel où je suis descendu et où l’on m’avait fait préparer une chambre, rien n’a été épargné pour que j’aie tout le confortable désirable. Il y avait toujours 5 ou 6 des ces messieurs qui venaient déjeuner et dîner avec moi. Le maître de l’hôtel est un très bon spirite, ainsi que sa famille, et qui ont été pleins de prévenances pour moi. Au moment de partir j’ai demandé ma note ; il m’a été répondu qu’elle était acquittée et que je ne devais rien. J’ai eu beau insister auprès de ceux qui avaient arrangé cela, il n’y a pas eu moyen de leur faire entendre raison ; ils m’ont répondu que, lorsqu’un père va voir ses enfants, il <paie> sa dépense dans sa famille. Mais voici le vrai mot de l’énigme. Il y a quelques temps, ils avaient demandé à un de leurs guides spirituels s’il pouvait leur dire le jour de mon arrivée. L’Esprit leur répondit :
« Je ne puis vous le préciser ; il vous en instruira ; mais j’ai une chose à vous recommander ; c’est que vous soyez remplis de beaucoup de bonté à son égard, car vous devez le regarder comme votre père à tous. C’est lui seul qui mène le fil de la foi catholique, et ce n’est que lorsque cette lumière sera visible à tous que vous pourrez comprendre et apprécier cet être mystérieux.
Dem. Ne pourriez-vous nous donner une instruction sur la manière dont nous devons le recevoir ?
Rép. Oh ! pour cela agissez selon votre cœur ; si nous vous disions tout, cela ne vous coûterait rien, et tout le mérite serait pour nous. Travaillez, ce n’est que par là qu’on arrive au Père Céleste. »
Cette communication me fut remise au moment de mon départ. Ce n’est pas d’ailleurs la seule de ce genre qui m’est été faite pendant le cours de mon voyage.
Je pars demain pour Bordeaux, mais il paraît qu’on veut à toute force me retenir quelques jours de plus que je ne comptais y rester. M.r Sabò et M.e <Cazemajaux> ont profité de mon arrivée pour venir faire une visite à M.r Dombre. Ils m’ont dit qu’il me serait matériellement impossible de faire en 3 ou 4 jours tout ce qui était nécessaire, et qu’on ne me laisserait pas partir si vite. Un abonné de Marenne, (Charente inf.re) M.r Florentin Blanchard, libraire, vient tout exprès à Bordeaux, et fait pour cela un voyage de plus de 30 lieues.
Le lendemain de mon arrivée doit avoir lieu la séance générale qui sera nombreuse. Le commissaire de Police a dit à M.r Sabò qu’on pouvait faire tout ce qu’on voudrait pour me recevoir, se réunir à quelque nombre que ce fût sans qu’il y soit apporté le moindre obstacle. Il n’est pas douteux d’après cela que des instructions sont venues de l’autorité supérieure.
... Tu le vois ma chère Amélie, le succès de mon voyage va grandissant ; Dieu merci, je continue à me porter très bien, malgré la chaleur excessive qu’il fait ; aujourd’hui seulement le temps se rafraîchit un peu. Quand mon voyage sera fini j’aurai fait 2680 kilomètres, soit 670 lieues en chemin de fer, et pourtant je ne suis pas fatigué.
Adieu bonne Amélie. Ton bien affectionné,
A.K.
[170] | 23/09/1862 | Carta de Allan Kardec para Amélie Boudet |
[171] | 25/09/1862 | Carta de Allan Kardec para Amélie Boudet |
[246] | 27/09/1862 | Carta de Amélie-Gabrielle Boudet para [Allan Kardec] |
[173] | 03/10/1862 | Carta de Allan Kardec para Amélie Boudet |
[174] | 04/10/1862 | Carta de Allan Kardec para Amélie Boudet |
[219] | 04/10/1862 | Carta de Amélie Gabrielle Boudet para Allan Kardec |