Manuscrito

Comunicação [18/02/1862]

]Muito bom[

18 de fevereiro de 1862

(Esta comunicação foi obtida

pela médium nesta data.)

Muito bom

(Médium: senhora <H>)

Sobre as penas eternas

]MMB[

Deus, tendo criado todos os espíritos iguais em inteligência e em conhecimento, mas tendo-lhes dado pouco de uma e de outro, para que tivessem o mérito de adquiri-los e progredir, lançou essas almas, vestidas de corpo, no turbilhão da existência corpórea, dizendo: Vão! e não se esqueçam de que o objetivo é a recompensa para os bons e a punição para os maus!

Desses espíritos, assim deixados à própria sorte, tendo sua vontade e seu livre-arbítrio para guiá-los, nem todos souberam andar no caminho do bem.

Muitos se afastaram dele, apesar da ameaça de punição. Alguns deixaram seu envoltório na morte tendo feito pouco bem e pouco mal; outros ainda, tendo preferido o caminho do bem ao do mal, foram julgados dignos de uma recompensa proporcional ao seu mérito.

A humanidade inteira já estava figurada, representada por esses diversos matizes. Deus, em sua sabedoria, havia previsto que assim seria e que, sendo difícil e demorado atingir a perfeição, cada criatura precisaria de várias existências para conseguir alcançar a meta imposta. Daí a reencarnação, que desde o início era uma prova, um meio de aperfeiçoamento, um tipo de filtro destinado a purificar a alma.

Para aqueles que eram muito culpados, a expiação foi dolorosa e longa; para os outros, foi mais suave, mas sempre proporcional às ações realizadas nas existências anteriores.

Como a punição justa e merecida é inteiramente encontrada nas novas provas de cada reencarnação, o espírito poderia antever, entre cada uma delas, ou seja, durante a sua permanência no mundo espiritual, os seus sofrimentos futuros. E, assim como no início de uma doença que sabemos ser perigosa, a perspectiva dos males que teremos de suportar nos apavora por antecipação e afeta cruelmente nossa moral, da mesma forma as almas culpadas, tendo muito a expiar, ficaram amedrontadas com a longa série de provações que viram se desenrolar diante delas.

Esses temores, essas apreensões, essas certezas para alguns pareciam suficientes à justiça de Deus, que não criou nenhuma outra punição para seus espíritos. A reencarnação era, portanto, o purgatório, tendo o objetivo de purificar antes de conduzir à felicidade.

Onde estava a necessidade de um inferno, de um lugar de horríveis e eternos sofrimentos? Que poder divino poderia ter inventado um fogo devorador, conservando em contínua tortura as pobres almas que, cedendo à ignorância ou à fraqueza, haviam cometido erros cuja duração poderia ter sido de alguns instantes a alguns anos, sendo o número sempre calculável para um Deus que tudo vê e que julga o íntimo dos corações?

Por que mesmo as religiões, visto que nas mais antigas, como a de Cristo, encontra-se o pensamento da eternidade das penas, por que as religiões representavam o inferno como um lugar de onde não mais se saía depois de atravessado seu limiar?

É porque o homem antigo, culpado, em uma época de escuridão e ignorância, poderia ser contido na ladeira fatal pelo pensamento dos males eternos que ele teria de suportar, ao passo que a ideia de um purgatório qualquer poderia não ser suficiente para detê-lo no momento da queda.

No entanto, a ideia de um purgatório, com o objetivo de levar os culpados ao arrependimento e, aos poucos, à virtude germinara também nas almas mais avançadas, que a propagaram, conservando a ideia do inferno, cuja utilidade parecia então demonstrada.

Mas desde que a civilização iluminou com sua tocha os homens e as sociedades, a verdade tem procurado se mostrar em plena luz. Desde que um Deus de bondade e de amor enviou a seus filhos o profeta que tinha como missão regenerá-los, as velhas ideias de nossos pais, os preconceitos da barbárie foram sendo substituídos aos poucos pelo conhecimento exato e consolador de um Deus de caridade, de misericórdia e de justiça.

O Espiritismo ainda tinha que dissipar os últimos erros que uma religião excessivamente humana havia preservado na doutrina pura e divina do Cristo.

O Espiritismo havia de vir e dizer aos homens: não, não existe inferno! não, não há sofrimento eterno! São todos temporários e proporcionais às suas faltas; existe apenas um purgatório, que é a vida; é a existência corpórea; é essa imensidão de tormentos, de tristezas, de males físicos e morais que vocês enfrentam na terra. Essa expiação, cabe a vocês encurtá-la, praticando a virtude e os princípios de caridade que o cristianismo ensina. A recompensa lhes espera, justa e imparcial, como o Deus que a concede a seus eleitos.

Deixemos, portanto, de ver o dogma dos castigos eternos nas ameaças das Escrituras.

Sim, Deus criou punições para os culpados, assim como criou recompensas para os bons; mas ele nunca anunciou aos homens, pela boca de seus profetas, um inferno perpétuo para as almas que haviam falhado.

Os sofrimentos serão eternos se sempre houver espíritos endurecidos e revoltados contra o seu Criador; mas eles cessam todos os dias para o espírito que expiou, que sofreu e que mereceu o seu perdão.

Santo Agostinho.

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]Très bonne[

18 février 1862

(Cette communication a été obtenue

par le médium à cette date.)

Très bien

(Médium Mme. <H>)

Sur les peine éternelles

]TTB[

Dieu ayant créé tous les esprits égaux en intelligence et en savoir, mais leur ayant donné peu de l’un et de l’autre, afin qu’ils eussent le mérite d’acquérir et de progresser, lança ces âmes, revêtues d’un corps dans le tourbillon de l’existence corporelle en disant : allez ! et n’oubliez pas que le but est la récompense pour les bons, la punition pour les méchants !

Ces esprits ainsi livrés à eux-mêmes, ayant pour se guider leur volonté et leur libre arbitre, ne surent pas tous marcher dans la voie du bien.

Beaucoup s’en éloignèrent malgré la menace d’un châtiment. Quelques-uns quittèrent leur enveloppe à la mort, n’ayant fait que peu de bien et peu de mal ; d’autres enfin, ayant préféré la bonne voie à la mauvaise furent jugés dignes d’une récompense proportionnée à leur mérite.

L’humanité toute entière était déjà figurée, représentée par ces diverses nuances. Dieu, dans sa sagesse, avait prévu qu’il en serait ainsi et que la perfection étant difficile et longue à atteindre, il faudrait à chaque créature plusieurs existences pour lui permettre d’arriver au but imposé. De là, la réincarnation, que, dès l’origine, fut une épreuve, un moyen de la perfectionnement, une sorte d’étamine destinée à purifier l’âme.

Pour ceux qui s’étaient rendus très coupables, l’expiation fut pénible et longue ; pour les autres, elle fut plus douce, mais toujours proportionnée aux actions commises dans les existences précédentes.

La punition juste et méritée se trouvant toute entière dans les nouvelles épreuves de chaque réincarnation, l’esprit pouvait entrevoir entre chacune d’elles, c’est-à-dire pendant son séjour dans le monde Spirite, ses souffrances futures. Et, de même qu’au début d’une maladie que nous savons dangereuse, la perspective des maux qu’il nous faudra supporter nous effraie à l’avance et affecte cruellement notre moral, de même les âmes coupables, ayant beaucoup à expier, furent effrayées de la longue série d’épreuves qu’elles voyaient se dérouler devant elles.

Ces craintes, ces appréhensions, ces certitudes pour quelques-uns, semblerènt suffisantes à la justice de Dieu qui ne créa point d’autre punition pour ses esprits. La réincarnation fut donc le purgatoire, ayant pour but de purifier avant de conduire au bonheur.

Où était la nécessité d’un enfer ? d’un lieu d’horribles et éternelles souffrances ? Quelle puissance divine eût pu inventer un feu dévorant, entretenant dans de continuelles tortures les pauvres âmes qui, cédant à l’ignorance ou à la faiblesse, avaient commis des fautes dont la durée n’avait pu être que de quelques instants à quelques années, et le nombre toujours calculable pour un Dieu qui voit tout et juge le fond des coeurs.

Pourquoi même les religions car dans les plus anciennes comme dans celle du Christ la pensée de l’éternité des peines se retrouve, pourquoi les religions représentèrent-elles l’enfer comme un lieu d’où l’on ne sortait plus quand on en avait franchi le seuil ?

C’est qui l’homme vicieux, coupable, pouvait à une époque de ténèbres et d’ignorance être arrêté sur la pente fatale par la pensée des maux éternels qu’il aurait à endurer; tandis que l’idée d’un purgatoire quelconque pouvait ne pas suffire à le retenir au moment de la chute.

Cependant, l’idée d’un purgatoire, ayant pour but d’amener les coupables au repentir et par degré à la vertu, avait germé aussi dans les âmes les plus avancées qui la propagèrent tout en conservant celle de l’enfer dont l’utilité semblait démontrée alors.

Mais depuis que la civilisation a éclairé de son flambeau les hommes et les sociétés, la vérité a cherché à se montrer au grand jour toute entière. Depuis qu’un Dieu de bonté et d’amour a envoyé à ses enfants le prophète qui avait pour mission de les régénérer, les vieilles idées de nos pères, les préjugés de la barbarie ont fui par degré pour faire place à la connaissance exacte et consolante d’un Dieu de charité, de miséricorde et de justice.

Le Spiritisme devait encore dissiper les dernières erreurs qu’une religion trop humaine avait conservées dans la <pure> et divine doctrine du Christ.

Le Spiritisme devait venir dire aux hommes : non il n’y a pas d’enfer ! non il n’y a pas de souffrances éternelles! Elles sont toutes temporaires et proportionnées à vos fautes ; il n’y a qu’un purgatoire et ce purgatoire c’est la vie ; c’est l’existence corporelle ; c’est cette multitude de tourments, de chagrins, de maux physiques et moraux que vous endurez sur la terre. Cette expiation, il ne tient qu’à vous de l’abréger en pratiquant la vertu, les principes de charité que le Christianisme vous enseigne. La récompense vous attend, juste et impartiale comme le Dieu qui l’accorde à ses élus.

Que l’on cesse donc de voir le dogme de l’éternité des peines dans les menaces des écritures.

Oui, Dieu a créé des punitions pour les coupables, comme il a créé des récompenses pour les bons; mais il n’a jamais fait annoncer aux hommes, par la bouche de ses prophètes, un enfer perpétuel pour les âmes qui avaient failli.

Les souffrances seront éternelles s’il y a toujours des esprits endurcis et révoltés contre leur créateur; mais elles cessent chaque jour pour l’esprit qui a expié, qui a souffert et qui a mérité son pardon.

Saint Augustin.

05/02/1862 Cópia de carta para a senhora Hanin Leblanc
10/02/1862 Carta para o senhor Sabò
14/02/1862 Comunicação
09/09/1862 Carta de Amélie Boudet para Allan Kardec
10/09/1862 Carta de Amélie Boudet para Allan Kardec
18/09/1862 Carta de Allan Kardec para Amélie Boudet