Manuscrito

Carta de Hypolite Rivail para Amélie Boudet [23/06/1842]

[Carimbo de envio] CPRI - Aachen 7-8 A 23/6.

[Carimbo de recepção ilegível.]

Senhora

Senhora Rivail

Rua Tiquetonne, no 10

Paris.

Aix-la-Chapelle, quinta-feira.

Minha querida Amélie, chegamos ontem a Aix-la-Chapelle, mas muito tarde para poder te escrever no mesmo dia. Nossa viagem foi perfeitamente boa, apesar de uma chuva quase constante; hoje o tempo parece querer se firmar, mas ainda caem aguaceiros, o que atenua sobremaneira o calor.

Como te disse na minha carta escrita em Quiévrain, tive de pegar correndo a condução; imagina o meu espanto quando, chegando perto do serviço de transporte, percebi uma diligência que seguia à rua Montmartre. Sem achar que estava atrasado, não pensava a princípio que pudesse ser a de Bruxelas, quando vi meu tio colocando a cabeça para fora da janela e olhando para todas as direções; não tive então nada melhor a fazer do que correr atrás dela a fim de pará-la. Antes de entrar, olhei para todos os lados para ver se te avistava, mas, não vendo ninguém, precisei subir; o condutor já estava de mau humor por ter esperado no pátio do serviço de transporte, e eu não podia persuadi-lo a esperar mais alguns segundos. Tu podes supor que, ainda que eu estivesse contrariado por não ter comigo a minha caixa de chapéu, essa não foi a minha maior tristeza; eu teria deixado para trás, com prazer, todos os chapéus do mundo para poder te abraçar antes da minha partida; mas, a não ser que eu lá ficasse, não havia outro jeito; recebe, portanto, por carta meus abraços e a esperança de que o prazer de nosso próximo encontro será maior em função de um resultado feliz. Sobre isto, sabes que ainda não posso te dizer nada; nosso primeiro cuidado foi o de nos orientar e obter as informações necessárias; agora que as temos, vamos nos estabelecer mais perto; pois, quando chegamos, descemos no primeiro hotel, do qual sairemos amanhã. Como ainda não fixamos nossa acomodação, não posso te dar um endereço preciso; por isso, tu me escreverás, até nova indicação, [para o] posto que fica em Aix-la-Chapelle (Grão-Ducado de Bas Rhin). Em tua próxima [carta], tu me dirás o dia de tua partida, para que eu saiba se devo te escrever a Paris ou a Château-du-Loir.

Vi, em Bruxelas, a carta que escreveste ao diretor do serviço de transporte, pedindo-lhe que enviasse a Aix a minha caixa; ele me prometeu fazê-lo sem demora assim que a receber; tive de deixar a chave na alfândega da Bélgica, a fim de que se possa revistá-la; mas como há um segredo no cadeado, não sei se a poderão abrir. Aguardo com expectativa, pois ela me faz falta, e me arrependo de ter dado a Félicité o trabalho de carregá-la. Meu tio resistiu muito bem à viagem; ele até aparenta um certo vigor e uma certa energia moral que há muito não tinha visto nele. Espero que isso seja um bom presságio.

Adeus, minha boa Amélie; não te esqueças de enviar minhas saudações a todos, sem que eu precise listá-los; manda um beijo especialmente à minha boa e pequena Louise, que deve ter ficado muito decepcionada com meu súbito desaparecimento. Em minha próxima carta, incluirei uma para ela, que poderá, acredito, lê-la sozinha. Eu te recomendo principalmente que te cuides, que tomes teu alcatrão e que faças exatamente tudo o que Mariette te prescreveu. Lembra-te de que nada me faz mais sofrer do que te ver negligenciar os meios de melhorar tua saúde. Juntei a esta uma carta à Mariette, contendo um chumaço de meus cabelos com o qual ela poderá adormecer, se necessário. Diz ao senhor Allègre que te pedi para não fazer ainda o novo prospecto; nada impede de começar as operações e colocar tudo para funcionar da melhor forma possível; tenho uma ideia da qual lhe colocarei a par e que poderá dar à coisa uma importância bem maior; esperando que ela seja suficientemente elaborada, é inútil assumir as despesas do prospecto; podendo o antigo ainda servir. Será preciso retirar do armário de vinho do escritório as garrafas de rum e o vinho de Chambertin, e deixar lá as garrafas de Bleu.

Adeus, minha boa Amélie, eu te abraço de todo coração,

H.L.D.R.

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[Cachets envoi] CPRI - Aachen 7-8 A 23/6.

[Cachet réception illisible.]

Madame

Madame Rivail

Rue Tiquetonne, no 10

à Paris.

Aix la Chapelle, Jeudi,

Ma chère Amélie,

Nous sommes arrivés hier à Aix la Chapelle, mais trop tard pour pouvoir t’écrire le même jour. Notre voyage a été parfaitement heureux sauf une pluie presque continuelle ; aujourd’hui le temps semble vouloir se remettre, mais il pleut encore par averses, ce qui tempère extrêmement la chaleur.

Ainsi que je te l’ai dit, dans ma lettre datée de Quiévrain, j’ai dû saisir la voiture au vol ; juge de mon étonnement lorsqu’arrivant près des messageries j’aperçois une diligence qui suivait la rue Montmartre. Ne croyant pas être en retard, je ne pensais pas d’abord que ce put être celle de Bruxelles, lorsque j’aperçus mon oncle passant la tête par la portière et regardant de tous côtés ; alors je n’eus rien de mieux à faire qu’à courir après pour l’arrêter. Avant de monter je regardai de tous côtés pour voir si je t’apercevais, mais ne voyant personne, force me fut de monter, le conducteur était déjà d’assez mauvaise humeur d’avoir attendu dans la cour des messageries, je n’ai pu le décider à attendre quelques secondes de plus. Tu conçois que si j’ai été contrarié de n’avoir pas avec moi mon carton à chapeau, ce n’a pas été mon plus grand chagrin ; j’eusse volontiers laissé tous les chapeaux du monde en arrière pour pouvoir t’embrasser avant mon départ, mais à moins d’y rester moi-même il n’y avait pas moyen de faire autrement ; reçois donc par lettre mes embrassements, et l’espoir que le plaisir de notre prochaine réunion sera augmenté par quelque heureux résultat. Sous ce rapport tu conçois que je ne puis encore rien te dire ; notre premier soin a été de nous orienter et de prendre les renseignements nécessaires ; à présent que nous les avons obtenus, nous allons nous caser plus à proximité ; car en arrivant nous sommes descendus dans le premier hôtel venu que nous allons quitter demain. N’ayant pas encore arrêté notre logement, je ne puis te donner d’adresse précise ; ainsi tu m’écriras jusqu’à plus ample indication poste restante à Aix la Chapelle (grand duché du Bas Rhin). Tu me diras dans ta prochaine le jour de ton départ, afin que je sache si je dois t’écrire à Paris ou à Château-du-Loir.

J’ai vu à Bruxelles la lettre que tu as écrite au directeur des messageries pour le prier d’expédier mon carton à Aix ; il m’a promis de le faire sans retard aussitôt qu’il le recevra ; j’ai dû laisser à la douane de Belgique la clef afin qu’on put le visiter, mais comme le cadenas est à secret, je ne sais s’ils pourront l’ouvrir. Je l’attends avec impatience, car il me fait bien faute, et je regrette bien d’avoir laissé à Félicité la peine de le porter. Mon oncle a très bien supporté le voyage ; il a même un air de vigueur et une certaine énergie morale que je ne lui avais pas vu depuis longtemps. J’espère que ce sera de bon augure.

Adieu ma bonne Amélie, ne m’oublie auprès de personne, sans que j’aie le soin de t’en faire la nomenclature ; embrasse surtout ma bonne petite Louise qui aura été bien désappointée de ma disparition subite. Dans ma prochaine lettre j’en mettrai une pour elle que je pense elle pourra lire toute seule. Je te recommande surtout de te soigner et de boire ton goudron et de faire exactement tout ce que Mariette t’a prescrit. Souviens toi que rien n’est plus pénible pour moi que de te voir négliger les moyens d’améliorer la santé. Ci-joint une lettre pour Mariette contenant de mes cheveux au moyen desquels elle pourra s’endormir si cela est nécessaire. Tu diras à M. Allègre que je t’engage à ne pas encore faire faire le nouveau prospectus ; rien n’empêche de commencer les opérations et de mettre tout en train le mieux possible ; j’ai une idée dont je lui ferai part et qui pourra donner à [la] chose une importance bien plus grande ; en attendant qu’elle soit suffisamment élaborée il est inutile de faire les frais du prospectus ; l’ancien pouvant servir encore. Il faudra retirer de l’armoire au vin du bureau, les bouteilles de rhum et le vin de chambertin ; y laisser les bouteilles de Bleu.

Adieu, ma bonne Amélie, je t’embrasse de tout cœur

H.L.D.R.

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