Manuscrito
[Carimbo de envio] Lyon, 26 de agosto de 18[ileg.].
[Carimbo de recepção] Château-du-Loire, [illis.] agosto de 1834.
Senhora
Senhora Rivail, nascida Boudet
à casa do senhor Boudet, proprietário
Château-du-Loire
Sarthe
Lyon, 26 de agosto de 1834.
Minha querida Amélie,
Não tenho por enquanto nenhum resultado positivo para te contar sobre nosso negócio, uma vez que ainda não vi a senhorita Motteveaux. No entanto, até agora tudo parece assumir um aspecto muito bom, e talvez não tenha sido ruim ela não ter estado em Lyon, porque com isso ganhei tempo para me orientar e fazer minhas coisas. Parto esta noite para Aix en Savoie, onde ela se encontra; vou me hospedar no mesmo hotel que ela e tentar estabelecer contato, seja à mesa dos hóspedes, seja nos círculos, sem que ela saiba quem sou eu, coisa geralmente fácil nas termas. As informações que obtive a seu respeito, de várias fontes, concordam nesse ponto: que ela é um pouco coquete, que prefere a companhia dos homens à das mulheres e é muito sensível à consideração deles; e vou tentar, como bem imaginas, aproveitar essa circunstância; mas há outro ponto, não menos importante. Vi duas vezes o senhor Brunel e jantei em sua casa de campo perto de Lyon. Ele me acolheu da forma o mais amigável possível, e sua esposa, que é um pouco maluca, saltou-me ao pescoço quando soube que eu era amigo do senhor Musset. O senhor Brunel é um homem de muito bom-tom, extremamente honesto, a quem não falta presença de espírito; é, além disso, o mais fino dos homens, o mais esperto, o mais insinuante e o mais sagaz que se possa encontrar nos negócios. Ele deve convencer seu mundo com uma extrema habilidade; ele move céu e terra, se mete em toda parte para atingir seu objetivo; tal é o retrato que dele me fizeram a senhora e o senhor Rigolet, e eu não tive dificuldade em reconhecer essa verdade; assim tive cautela, e não lhe revelei meu negócio senão quando vi que podia fazê-lo sem receio, pois o senhor Rigolet havia acrescentado que, se seu interesse fosse o de me ajudar, ele seria o homem mais apropriado para isso, por seu caráter hábil e perseverante; mas se, pelo contrário, ele tivesse um interesse oposto, se por acaso ele tivesse pretensões em conflito com as minhas, seria um homem bem perigoso; portanto, ele poderia me fazer ou muito bem ou muito mal, de acordo com seu interesse. Desde a primeira visita, com jeito, assegurei-me se ele podia ou não ter vantagens em me ajudar, e reconheci que seu interesse estava do meu lado, visto que ele só conhecia a senhorita Motteveaux de nome e, por consequência, não tendo negócios com ela, não havia razão para que tivesse pretensão sobre sua fortuna; ao mesmo tempo, ele bem compreendeu o termo ilimitada gratidão (que lhe dirigi várias vezes) para a pessoa que me ajudaria nesse negócio; e embora tenha dito que não queria outra recompensa senão o prazer de me ajudar, vi que ele levava calorosamente a coisa mais a sério do que se estivesse praticando um simples ato de bondade. Ele já se movimentou, obteve informações, quer inquirir o médico, o confessor, e para isso tem bons contatos; são duas senhoras que ele conhece bem e que são ligadas à senhorita Motteveaux; uma delas em especial, a senhorita Desjardins, mora na mesma casa e a vê frequentemente. Enfim, ele vai se esforçar, e me disse que acreditava poder contar com bons resultados; espero que seja verdade! Ele me aconselhou muito a ir a Aix, o que não teria dito se tivesse segundas intenções.
Ele pretende ir ao [Haut] Bonhomme e fala de ir comigo; verei o que será esse projeto; darei ou não andamento a ele conforme parecer útil aos meus interesses. Quanto a ti, não sei ainda se será preciso que venhas; avaliarei isso com base no resultado de minha viagem a Aix. Como não sei o dia da minha volta, nem se me hospedarei no mesmo hotel, peço para enviares tuas cartas para o senhor Rigolet, notário, rue Saint-Côme, nº 4, que irá encaminhá-las a mim.
Adeus, minha querida Amélie; eu te abraço, como te amo, e sou sempre teu marido para a vida.
H.L.D.R.
Mil saudações aos teus pais.
[Cachet envoi] Lyon, 26 août 18[illis.].
[Cachet réception] Château-du-Loire, [illis.] août 1834.
Madame
Madame Rivail née Boudet
Chez M.r Boudet propriétaire
Château du Loire
Sarthe
Lyon le 26 août 1834.
Ma chère Amélie,
Je n’ai encore aucun résultat positif à t’apprendre sur notre affaire, attendu que je n’ai point encore vu M.lle Motteveaux. Cependant jusqu’à présent tout paraît prendre une assez bonne tournure, et peut-être n’est-ce pas un mal qu’elle n’ait pas été à Lyon, parce que cela m’a donné le temps de me reconnaître et de prendre mes mesures. Je pars ce soir pour Aix en Savoie où elle se trouve, je vais loger dans le même hôtel qu’elle, et tâcher de faire connaissance, soit à table d’hôte, soit au cercle, sans qu’elle se doute qui je suis, chose qui est en général facile aux eaux. Les renseignements que j’ai recueillis sur son compte de divers côtés, s’accordent sur ce point, savoir qu’elle est un peu coquette, qu’elle préfère la société des hommes à celle des femmes, et qu’elle est très sensible aux égards que ceux-ci ont pour elle, et je tâcherai, comme tu le penses bien, de mettre cette circonstance à profit ; mais il est un autre point, non moins important. J’ai vu 2 fois M.r Brunel et j’ai été dîner à sa campagne près de Lyon. Il m’a fait l’accueil le plus amical possible, et sa femme, qui est un peu folle, m’a sauté au <cou> quand elle a su que j’étais l’ami de M.r Musset. M.r Brunel est un homme de très bon ton, <extrêmement> honnête, et qui ne manque pas d’esprit ; c’est de plus l’homme le plus fin, le plus adroit, le plus insinuant et le plus renaré en affaires qu’on puisse trouver ; il doit enjôler son monde avec une adresse extrême ; il remue ciel et terre, et se faufile partout pour arriver à son but ; tel est le portrait que m’en ont fait M.r et M.me Rigolet, et je n’ai pas eu de peine à en reconnaître la vérité ; aussi me suis-je tenu sur mes gardes, et ne lui ai-je confié mon affaire que lorsque j’ai vu que je pouvais le faire sans crainte ; car M.r Rigolet avait ajouté, que si son intérêt était de me servir, c’était l’homme le plus propre à la chose, par son caractère adroit et persévérant ; mais que si au contraire il avait un intérêt opposé ; s’il avait par hasard des prétentions en concurrence avec les miennes, c’était un homme fort dangereux ; qu’ainsi il pouvait me faire ou beaucoup de bien ou beaucoup de mal, selon son intérêt. Je me suis donc, dès la 1ère visite, adroitement assuré s’il pouvait ou non avoir intérêt à me servir, et j’ai reconnu que son intérêt était de mon côté, attendu qu’il ne connaît pas M.lle Motteveaux autrement que de nom et qu’en conséquence, n’ayant point d’affaire avec elle, il n’est fondé à avoir aucune prétention sur sa fortune, tandis qu’il a bien compris le mot de reconnaissance sans borne, (que je lui ai lâché à plus reprises), pour la personne qui me faciliterait dans cette affaire ; et quoiqu’il m’ait dit qu’il ne voulait d’autre récompense que le plaisir de m’obliger, j’ai vu qu’il prenait la chose à cœur plus chaudement que s’il ne se fut agi d’un simple acte de complaisance ; il s’est déjà remué, a pris des informations ; veut s’enquérir du médecin, du confesseur, et pour cela il a de très bonnes cordes ; ce sont deux dames qu’il connaît beaucoup et qui sont liées avec M.lle Motteveaux ; l’une d’elles, surtout, M.lle Desjardins, demeure dans la même maison, et la voit très souvent. Enfin il mettra tout en œuvre et m’a dit qu’il croyait pouvoir compter sur la réussite ; puisse-t-il dire vrai ! Il m’a beaucoup conseillé d’aller à Aix, ce qu’il n’aurait point fait s’il avait eu une arrière pensée.
Il a le projet <d’aller> au <Haut> Bonhomme et parle de partir avec moi ; je verrai ce qu’il en sera de ce projet ; j’y donnerai suite ou non selon qu’il me paraîtra utile à mes intérêts. Quant à toi je ne sais pas encore s’il sera nécessaire que tu viennes ; je jugerai cela d’après le résultat de mon voyage d’Aix. Comme je ne sais pas quel jour je serai de retour, ni si je logerai dans le même hôtel, je t’engage à m’adresser tes lettres chez M.r Rigolet notaire rue S.t Côme no 4, qui me les fera parvenir.
Adieu, ma chère Amélie, je t’embrasse comme je t’aime et suis toujours ton mari pour la vie.
H.L.D.R.
Mille choses à tes parents.
| [156] | 26/09/1831 | Carta de Jeanne Louise Rivail para Amélie Boudet |
| [157] | 04/08/1834 | Carta de Hypolite Rivail para Amélie Boudet |
| [239] | 20/08/1834 | Carta de Allan Kardec para Amélie-Gabrielle Boudet |
| [240] | 31/08/1834 | Carta de Allan Kardec para Amélie-Gabrielle Boudet |
| [159] | 08/10/1834 | Carta de Hypolite Rivail para Amélie Boudet |
| [115] | 21/05/1835 | Carta de Allan Kardec para Amélie Gabrielle Boudet |
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