Manuscrito

Psicografia - Espírito: Alfred Mitchell / Michell [DD/12/1864]

Senhor <Mitchell>.

Dezembro de 1864.

Muito bom.

Inserir em O inferno.

Uma situação média no mundo dos Espíritos.

Com grande prazer.

Henri está muito aflito ao ver a grande mágoa de amor. Ele próprio agora compreende a mudança que nele se operou, apreciando-a com todas as suas faculdades. Eu não estava presente no momento de sua morte, pois ignorava que ele fosse morrer tão cedo e tão subitamente; mas fui rapidamente avisado e permaneci com ele até que ele tivesse total consciência. Certo tempo se passou antes que ele tivesse uma ideia justa de sua posição, diria ao menos três ou quatro dias: a separação completa do corpo ocorrera mais cedo.

Sem dúvida, Henri faz parte do grande número daqueles para quem a morte não traz uma completa felicidade; ele está, entretanto, calmo e contente; sua vida, ainda que pouco útil, não encerra remorsos violentos. Muitos se encontram nesse estado; como Espíritos, eles permaneceram inativos durante seus últimos períodos na Terra, e embora suas inclinações não fossem más, não fizeram progresso. Se Deus não fosse tão misericordioso, tais Espíritos seriam verdadeiramente infelizes. Ao saberem, porém, que Deus lhes dará ainda a oportunidade de reparar o passado, sentem renascer a esperança, e as angústias se dissipam. Não há maior prova da misericórdia divina do que a certeza de reencarnar.

Veja que sou um espírita. Teria me tornado um na Terra? Não creio. Que a morte nos traga luzes! Nós a tememos porque ignoramos nosso estado futuro; nós trememos em afrontar a cólera de Deus; as ideias que fazemos são tão mesquinhas! Mas quando todos os liames terrestres são rompidos, respiramos mais à vontade; um peso nos é retirado, e Deus parece ser o Deus de justiça e de amor. Ele diz: você falhou; a sua tarefa está inacabada; uma nova vida o aguarda; novas provas lhe serão reservadas. Recomece então a luta: sua felicidade será a recompensa, e um tempo virá no qual não haverá mais nenhum combate a enfrentar.

Agora é nosso dever prepararmo-nos para essa outra vida, de maneira a entrarmos armados de boas resoluções, fortes em nossa fé, e quando novamente soar a hora da morte, nós a acolheremos como uma gloriosa libertação,

Alfred <Michell>.

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M. <Mitchell>.

Décembre 1864.

T.B.

À mettre à l’Enfer.

Une situation moyenne dans le monde des Esprits.

Avec grand plaisir.

Henri est très affligé de voir le grand chagrin d’amour. Lui-même comprend maintenant le changement qui s’est opéré en lui, et il jouit de toutes ses facultés. Je n’étais pas présent au moment même de sa mort, car j’ignorais qu’il dût mourir si tôt et si subitement ; mais j’ai été bien vite averti, et je suis resté avec lui jusqu’à ce qu’il eût toute sa connaissance. Un certain <temps> s’est écoulé avant qu’il eût une idée juste de sa position, je veux dire au moins trois ou quatre jours : la séparation complète du corps avait eu lieu plus tôt.

Sans doute Henri est du grand nombre de ceux à qui la mort n’apporte pas un bonheur complet ; il est cependant calme et content ; sa vie, quoique peu utile, ne renferme pas de sujets de remords violents. Beaucoup se trouvent dans ce cas ; comme Esprits, ils ont été inactifs pendant leur dernier séjour sur la terre, et si leurs penchants n’ont pas été mauvais, ils n’ont cependant pas fait de progrès. Si Dieu n’était pas aussi miséricordieux, de tels Esprits seraient vraiment malheureux. Mais en apprenant que Dieu leur donnera encore l’occasion de réparer le passé, ils sentent renaître l’espoir, et les angoisses se dissipent. Il n’y a pas de plus grande preuve de la miséricorde divine que cette certitude d’être réincarné.

Tu vois que je suis un Spirite. Le serais-je devenu sur la terre ? Je ne le crois pas. Que la mort nous apporte de lumières ! Nous la craignons, parce que nous ignorons notre état futur ; nous tremblons d’affronter la colère de Dieu ; <les> idées que nous nous en faisons sont si mesquines ! Mais lorsque tous les liens terrestres sont brisés, nous respirons plus à l’aise ; un poids nous est enlevé, et Dieu paraît le Dieu de justice et d’amour. Il dit : Tu as failli ; ta tâche est inachevée ; une nouvelle vie t’attend ; de nouvelles épreuves te sont réservées. Recommence donc la lutte : ton bonheur en sera le prix, et un temps viendra où il n’y aura plus de combats à livrer.

C’est maintenant notre devoir de nous préparer à cette autre vie, de manière à y entrer armés de bonnes résolutions, forts dans notre foi, et quand sonnera de nouveau cette heure de la mort, nous l’accueillerons comme une glorieuse délivrance,

Alfred <Michell>.

19/09/1864 Carta de Allan Kardec para Amélie Gabrielle Boudet
07/12/1864 Comunicação
25/12/1864 Diálogo/Comunicação
DD/MM/1864 Nota - 1864[?]
10/01/1865 Rascunho de carta para o senhor Ganipel
18/01/1865 Rascunho de carta para a senhora Ebert