Manuscrito

Rascunho de carta para um Irmão Espírita [16/04/1863]

Paris, 16 de abril de 1863.

Senhor e caro irmão espírita,

Recebi a carta que o senhor me escreveu, na qual vejo, com vivo prazer, nova prova de seu devotamento à causa do Espiritismo. Não menos aprecio o seu desprendimento, que eu já conhecia e pelo qual os bons Espíritos saberão recompensar, continuando a assisti-lo. O senhor está certo ao dizer que o que vem de Deus não pode ser vendido; o Cristo não vendia suas curas. Que um médico se faça pagar pelos seus cuidados, é natural, pois ele recebeu sua ciência dos homens e teve que pagá-la a eles; mas o médium não comprou a sua faculdade; ela lhe foi oferecida por Deus para que ele fosse útil a seus irmãos e não para dela tirar seu provento. Ela não deve ser uma profissão para ele, e o médium não deve imitar os vendilhões que Jesus expulsou do Templo.

Agradeço-lhe os pormenores que o senhor me dá sobre a maneira de proceder em suas reuniões; só posso aprová-la e recomendar-lhe que persevere nessa via que já lhe valeu em recompensa muitas satisfações morais; terei sempre grande prazer em lhe ser útil com meus conselhos; cumpro um dever, dando-os aos que os solicitam; só me abstenho em relação aos que creem estar bastante seguros de suas próprias luzes para os dispensar. Vou aos humildes, não aos fariseus.

Como testemunho de minha simpatia por seu grupo, peço-lhe que receba a Revista Espírita que tenho o prazer de lhe oferecer.

Li com grande interesse os detalhes que o senhor me dá sobre as curas operadas por intermédio dos conselhos dos seus Espíritos protetores, mas creio ser prudente abster-se de publicar tais resultados até nova ordem, fato que excitaria mais inveja e daria aos jornais novos assuntos para zombarias. Que a pessoa que queria fazê-lo contente-se de agradecê-lo a Deus, e de falar disso a seus amigos; dissuada-a, a fim de que nada publique. Deixe as coisas acontecerem naturalmente, e tudo irá melhor do que o senhor pode esperar; evite fazer ostentação seja do que for.

Eu gostaria muito de pedir a contribuição indulgente do seu bondoso Espírito curador em favor de uma senhora de minha amizade, espírita como poucas, que, tendo suportado com coragem inaudita todas as tribulações imagináveis, está prestes a perder a vista, devendo ser operada de catarata dentro de alguns meses. Trata-se da senhora FoulonMadame Foulon era residente de em Havre (cidade portuária da região da Normandia na França) onde se destacou como uma miniaturista hábil, muito estimada na sociedade. Ela faleceu em 03 de fevereiro de 1865 na cidade de Antibes (localizada no coração de Riviera), onde foi em busca de um clima mais ameno para o reestabelecimento de sua saúde. Vários jornais publicaram notas sobre o seu falecimento. Kardec também publicou uma nota na Revista Espírita sobre o seu falecimento.
Sinopse biográfica
, residente no Havre, rua de Paris, número 88. O Espírito veria possibilidade de cura?

Outro. O senhor Tailleur, rua Basfroid, número 39, subúrbio de Santo Antônio, em Paris, um dos espíritas mais merecedores e mais experientes que conheço, que teria se dado um tiro dez vezes sem o Espiritismo, tem uma filha de 25 anos, um anjo de caráter, doente há muitos anos de epilepsia, em último grau, e que parece complicada com subjugação. É para pai e filha uma provação terrível. — Há esperança de cura?

Se o Espírito quiser ter a bondade de responder a esses dois pedidos, tomarei a liberdade de lhe enviar outros dois, um para a senhora Allan Kardec e outro para uma de nossas amigas que acaba de amputar a perna.

Receba, caro irmão espírita, bem como a senhora Rousset e todos os membros de seu grupo, a certeza de minha afetuosa amizade,

Allan Kardec.

001
001
002
002
004
004

Paris 16 avril 1863.

M. et cher frère spirite,

J’ai reçu la lettre que vous m’avez écrite et dans laquelle je vois avec une vive satisfaction une nouvelle preuve de votre dévoûment à la cause du Spiritisme. Je n’apprécie pas moins votre désintéressement que je connaissais déjà et dont sauront vous récompenser les bons Esprits en continuant à vous assister. Vous êtes dans le vrai en disant que ce qui vient de Dieu ne peut être vendu ; le Christ ne vendait pas ses guérisons. Qu’un médecin fasse payer ses soins, c’est naturel parce qu’il a reçu sa science des hommes et il la leur a payée, mais le médium n’a point acheté sa faculté ; elle lui est donnée par Dieu pour être utile à ses frères et non pour en faire son profit. Ce ne doit point être un état pour lui, et il ne doit pas imiter les vendeurs que Jésus chassa du temple.

Je vous remercie des détails que vous me donnez sur votre manière de procéder dans vos réunions ; je ne puis que vous approuver en vous engageant à persévérer dans cette voie qui vous a déjà valu bien des satisfactions morales pour récompense ; je serai toujours heureux de vous aider de mes conseils quand vous les croirez nécessaires ; <je> me fais un devoir d’en donner à ceux qui les <sollicitent> ; je m’en abstiens à l’égard de ceux qui se croient assez forts de leurs propres lumières pour s’en passer. Je vais aux humbles et non aux Pharisiens.

Comme témoignage de ma sympathie pour votre groupe, je vous prie de recevoir la Revue que je suis heureux de vous offrir.

J’ai lu avec beaucoup d’intérêt les détails que vous me donnez sur <les> guérisons opérées par les conseils de vos Esprits protecteurs, mais je crois prudent de s’abstenir jusqu’à nouvel [ordre] d’en publier le résultat, ce qui exciterait de nouvelles jalousies, et donnerait aux journaux de nouveaux sujets de railleries. Que la personne qui voulait le faire se contente donc d’en remercier Dieu, et d’en parler à ses amis ; détournez-la de rien publier. Laissez faire les choses naturellement, et tout ira mieux que vous ne pouvez l’espérer ; évitez de faire de l’étalage en quoi que ce soit.

Je voudrais bien mettre à contribution la complaisance de votre bon Esprit guérisseur. Une dame de mes amies, spirite comme on en <voit> peu, ayant supporté avec un courage inouï toutes les tribulations imaginables, est sur le point de perdre ; dans quelques mois on doit l’opérer de la cataracte. C’est M.me Foulon du Havre 88 rue de Paris. L’Esprit verrait-il un moyen de guérison ?

Autre. M. Tailleur,* {*rue Basfroid no 39 <Faubourg> S.t Antoine à Paris,} un des spirites les plus méritants et les plus éprouvés que je connaisse, et qui se serait brûlé la cervelle 10 fois sans le Spiritisme, a une fille âgée de 25 ans, ange de caractère atteinte depuis plusieurs années, d’épilepsie, au dernier degré et qui paraît compliquée de subjugation. C’est pour le père et la fille une épreuve terrible. — Y a-t-il espoir de guérison ?

Si l’Esprit veut avoir la bonté de répondre à ces deux questions, je prendrai la liberté de lui en adresser deux autres, une pour Mad. Allan Kardec, et l’autre pour une de nos amies à qui on vient de couper la jambe.

Recevez cher frère spirite, ainsi que Mad.e Rousset et tous les membres de votre groupe l’assurance de mon affectueux dévoûment,

A.K.

05/02/1863 Comunicação
17/02/1863 Carta para o senhor Philippe
08/04/1863 Carta do senhor H. Georges
07/05/1863 Rascunho de carta para o senhor Villeneuve
07/05/1863 Carta de Allan Kardec para Marquês Francesco Sampieri
08/05/1863 Comunicação