Manuscrito

Cópia de carta para a senhora Hanin Leblanc [05/02/1862]

Paris, 5 de fevereiro de 1862.

Senhora ]Hanin Leblanc em Périgueux[,

Recebi a tempo a carta que a senhora me deu a honra de escrever para a renovação de sua assinatura, à qual era meu dever responder mais cedo, se não fossem as ocupações que me abatem, ocupações que não me deixam o tempo material necessário para atender a todas as exigências de minha posição. Ouso assim contar, senhora, com a sua extrema indulgência para me desculpar, e não ver em meu silêncio uma falta de boa vontade.

A senhora diz que não lhe resta mais nada sobre a Terra senão as consolações do Céu que lhe traz o Espiritismo: teria a senhora sofrido alguma nova sensível perda? Sejam quais forem suas aflições, acredite, senhora, em minha sincera solidariedade; mas estou feliz em saber que encontra conforto no Espiritismo, essa consolação suprema dos aflitos aqui embaixo. Quanta gente nele tem haurido a força necessária para suportar as tribulações da vida! Não há também nenhuma outra doutrina que dê do porvir maior certeza, e quanto mais ela se nos mostra grande, mais ela diminui a importância das coisas terrestres.

A senhora deve ter visto na Revista o que eu pensava dos diamantes expelidos pela senhorita Godu; o que eu havia previsto aconteceu: tudo acabou em uma mistificação. E me aplaudi pela discrição com a qual falei disso. Essa discrição é ainda mais bem compreendida quando se conhecem certas particularidades que tive de calar no interesse do Espiritismo. Lastimável que essa senhorita haja comprometido a bela e real faculdade de cura da qual é dotada. Deveria ter parado por aí; mas o orgulho! a ambição! o que estes nos levam a fazer! A senhorita Godu não veio a Paris, e provavelmente aqui não virá; seu médico a deixou para se ocupar de outras coisas. Ora, não se abandona sem motivos uma coleta de diamantes.

Parece que a senhora obteve escrita direta; felicito-a por isso, pois é um fenômeno raro, e penso que a senhora o obteve em circunstâncias que não deixam nenhuma dúvida sobre sua realidade.

Aceite, madame, eu lhe peço, a expressão de meus distintos sentimentos e de meu devotamento bem sincero,

Allan Kardec.

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Paris 5 février 1862.

Madame ]Hanin Leblanc à Périgueux[,

J’ai reçu en son temps la lettre que vous m’avez fait l’honneur de m’écrire pour le renouvellement de votre abonnement et à laquelle je me serais fait un <devoir> de répondre plus tôt sans les occupations dont je suis accablé, occupations qui ne me laissent pas le <temps> matériel nécessaire pour suffire à toutes les exigences de ma position. J’ose donc compter, Madame, sur votre extrême indulgence pour m’excuser, et ne pas voir, dans mon silence, une marque de mauvaise volonté.

Vous dites, Madame, qu’il ne vous reste plus rien sur la terre que les consolations du ciel que vous apporte le Spiritisme : auriez-vous donc fait quelque nouvelle perte sensible ? Quels que soient <vos> chagrins, croyez, Madame, à la part bien sincère que j’y prends, mais je suis heureux que vous y trouviez un adoucissement dans <le> Spiritisme, cette consolation suprême des affligés ici-bas. Que de personnes y ont puisé la force nécessaire pour supporter les tribulations de la vie ! C’est qu’aussi nulle doctrine ne donne de l’avenir une plus grande certitude, et plus elle nous le montre grand, plus elle ôte d’importance <aux> choses terrestres.

Vous avez dû voir <dans> la Revue, ce que je pensais des diamants sécrétés par M.elle Godu ; ce que j’avais prévu <est> arrivé, c’est que tout cela a abouti à une mystification, et que je m’applaudis de la réserve que j’ai mise à en parler. Cette réserve est encore mieux comprise quand on connaît certaines particularités que j’ai dû taire dans l’intérêt du Spiritisme. Il est fâcheux que cette demoiselle ait compromis la belle et réelle faculté dont elle était douée pour la guérison. Elle aurait dû s’en tenir là ; mais l’orgueil ! l’ambition ! qu’est-ce que cela ne fait pas faire ! M.elle Godu n’est point venue à Paris, et probablement n’y viendra pas ; son médecin l’a quittée pour s’occuper d’autres choses ; or on n’abandonne pas sans motifs une récolte de diamants.

Il paraît que vous avez obtenu de <l’écriture> directe ; je vous en félicite, car c’est un phénomène rare, et je <pense> que vous l’avez eu dans des circonstances qui ne laissent aucun doute <sur> sa réalité.

Agréez, je vous prie, Madame, l’expression de mes sentiments distingués et de mon dévoûment bien sincère,

Allan Kardec.

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