Manuscrito
[Carimbo] 8 de setembro de 1831
]Senhor Rivail à[
Senhorita
Senhorita Amélie Boudet
Casa do senhor Boudet
Château-du-Loir
Sarthe
Senhorita,
Recebi no devido tempo a amável carta que me fez a honra de me escrever, e você deve me imaginar bem negligente ou bem indiferente por ter-me demorado tanto para lhe responder; peço-lhe, no entanto, que fique bem convencida de que não sou culpado por nenhuma dessas duas faltas. Os transtornos de nossa instalação em nossa nova casa, além da indisposição de minha mãe e de meu tio, fizeram-me retardar dia após dia, e foi assim que o tempo se escoou, tendo eu a cada dia a intenção de propiciar o prazer de me corresponder com você.
Sua carta me causou uma alegria muito viva, confirmando minhas esperanças; mas ao mesmo tempo eu sofri muito pelo atraso por que passam nossos projetos, atraso esse que deverá necessariamente se prolongar até o retorno da família Musset. Sem os seus compromissos pessoais que a obrigaram a ficar com sua família, acho que, se não perdêssemos tempo com as formalidades a cumprir, teríamos podido terminar nos primeiros dias deste mês, o que me teria sido bem agradável sob todos os aspectos; e isso eu teria desejado ainda mais, porque durante as férias teríamos disposto de mais tempo livre; mas visto que isso não foi possível, é preciso, filosoficamente, ter paciência!
Presumo, senhorita, que sabe que o bom senhor Musset esteve fortemente indisposto, ele teve icterícia acompanhada de febre e, embora esteja melhor agora, ele ainda está bem fraco, e isso atrasou sua partida para o campo; todavia tudo leva a crer que ele logo partirá.
Faz somente seis semanas que estou em minha nova casa e já percebo que essa mudança será muito favorável ao meu estabelecimento, o que, presumo, você descobrirá com prazer. O local é, aliás, tão bonito e tão agradável que encanta a todo mundo, e espero que ele lhe agrade ainda mais, porque terá a satisfação de estar a dois passos de seus amigos.
Embora eu presuma que a senhorita faça perfeitamente ideia das funções de uma governanta à frente de um estabelecimento como o meu, mesmo assim, creio que devo lhe dar a esse respeito algumas explicações para desfazer as ideias que poderia talvez partilhar com as pessoas que não conhecem perfeitamente a gerência de nossos estabelecimentos. Às vezes se faz um drama dessa gerência; mas lhe garanto que quando uma casa é bem organizada, quando há uma disciplina e uma ordem bem estabelecidas, é uma engrenagem que, para funcionar, precisa apenas ser mantida. Principalmente, as ocupações da governanta não são essas que geralmente se crê; primeiro, não têm nada de servil, consistindo especialmente em saber dar ordens, e em assegurar que as pessoas façam seu serviço com exatidão; em uma palavra, trata-se de dirigir um grande serviço doméstico. De resto, tudo o que diz respeito às aulas não lhe concerne de maneira alguma; ela também não ajuda nas refeições dos alunos nem na sua higiene; e, quanto aos cuidados de asseio dos mais novos, ela somente garante que as domésticas o façam cuidadosamente. Confesso-lhe mesmo que eu não ficaria nada lisonjeado se a minha esposa se ocupasse disso pessoalmente, não mais do que com muitas outras coisas que são bem feitas por domésticas de confiança, quando se sabe tê-las sob comando.
Em uma próxima carta, eu darei, se o permitir, senhorita, alguns detalhes sobre a organização e a manutenção da escola; penso que essas informações poderão, talvez, lhe agradar.
A senhorita deve julgar meu estilo bem seco e bem frio, principalmente para primeiras cartas; mas eu a preveni de que não entendo absolutamente nada dessa linguagem brilhante e lisonjeira que algumas pessoas dominam tão bem, e com a qual se diz agradavelmente o que se pensa, e frequentemente também o que não se pensa; assim, ouso contar com a sua indulgência a esse respeito e espero que compreenda, como eu, que o que se concebe claramente não se enuncia sempre facilmente, apesar do que diz nosso poeta. Minha ignorância sobre esse ponto lhe provará, pelo menos, eu espero, que minha pena foi pouco exercitada em tais assuntos.
Eu lhe peço, senhorita, que apresente as minhas mais distintas homenagens ao senhor seu pai e à senhora sua mãe, e que aceite a expressão da sincera e inteira devoção com a qual eu tenho a honra de ser seu muito humilde e muito obediente servidor.
H.L.D. Rivail.
6 de setembro de 1831.





[Cachet] 8 Sept. 1831.
]Mr. Rivail à[
Mademoiselle
Mademoiselle Amélie Boudet
Chez Mr. Boudet
À Château-du-Loir
Sarthe
Mademoiselle,
J’ai reçu dans son temps l’aimable lettre que vous m’avez fait l’honneur de m’écrire et vous devez me trouver bien négligent ou bien indifférent d’avoir tant tardé à y répondre ; je vous prie cependant d’être bien persuadée que je ne suis coupable d’aucune de ces deux fautes. Les embarras de notre installation dans notre nouvelle maison, joints à l’indisposition de ma mère et de mon oncle, m’ont fait remettre de jour en jour, et c’est ainsi que le temps s’est écoulé tout en ayant chaque jour l’intention de me procurer le plaisir de vous entretenir.
Votre lettre m’a causé une joie bien vive en confirmant mes espérances ; mais j’ai en même temps été vivement peiné du retard qu’éprouvent nos projets ; retards qui devront nécessairement se prolonger jusqu’au retour de la famille Musset. Sans vos affaires personnelles qui vous obligeaient à rester dans votre famille, je pense qu’en ne perdant pas de temps pour les formalités à remplir, on aurait pu terminer pour les premiers jours de ce mois, ce qui m’eut été bien agréable à tous égards, et je l’eusse d’autant mieux désiré que, pendant les vacances, nous aurions été plus libres, mais puisqu’il n’y a pas eu moyen il faut bien prendre philosophiquement patience !
Je présume, Mademoiselle, que vous savez que le bon M.r Musset a été assez fortement indisposé, il a eu la jaunisse accompagnée de fièvre, et, quoiqu’il aille mieux maintenant, il est encore bien faible, ce qui a retardé son départ pour la campagne ; tout porte néanmoins à croire qu’il en sera bientôt <quitté>.
Voilà six semaines seulement que je suis dans ma nouvelle maison et déjà je m’aperçois que ce changement sera très favorable à mon établissement, ce que, je présume, vous apprendrez avec plaisir. Le local est d’ailleurs si beau et si agréable qu’il séduit tout le monde et j’espère qu’il vous plaira d’autant mieux que vous aurez la satisfaction d’être à deux pas de vos amis.
Quoique je présume bien que vous vous faites parfaitement une idée des fonctions d’une maîtresse de maison à la tête d’un établissement comme le mien, je crois néanmoins devoir vous donner à ce sujet quelques explications propres à détruire les idées que vous pourriez peut-être partager avec les personnes qui ne connaissent pas parfaitement la direction de nos établissements. On se fait quelquefois un monde de cette direction ; mais je vous assure que quand une maison est bien organisée ; qu’il y a une discipline et un ordre bien établis, c’est un rouage qui n’a besoin pour marcher que d’être entretenu. Les occupations de la maîtresse de la maison, surtout, ne sont pas ce que l’on croit généralement ; elles n’ont d’abord rien de servile et consistent principalement à savoir ordonner, et à veiller à ce que les gens fassent leur service avec exactitude ; ce n’est en un mot qu’un grand ménage à diriger. Du reste tout ce qui concerne les classes ne la regarde en aucune façon ; elle n’assiste point aux repas des élèves, ni à leur toilette ; et quant aux soins de propreté pour les plus jeunes, elle ne fait que veiller à ce que les domestiques s’en acquittent <assidument>. Je vous avoue même que je ne serais point flatté que ma femme s’en occupât elle même, non plus que de beaucoup d’autres choses qui sont tout aussi bien faites par des domestiques de confiance [qu]and on sait y tenir la main.
[Dans] une prochaine lettre, je vous donnerai, si vous le permettez, Mademoiselle, quelques détails sur l’organisation et la tenue de la maison ; je pense que ces renseignements pourront peut-être vous être agréables.
Vous devez trouver, Mademoiselle, mon style bien sec et bien froid pour de premières lettres surtout ; mais je vous ai prévenue que je n’entends absolument rien à ce langage brillant et flatteur que certaines gens possèdent si bien, et avec lequel on dit agréablement ce que l’on pense, et souvent ce que l’on ne pense pas ; aussi, j’ose compter sur votre indulgence à cet égard, et j’espère que vous comprendrez comme moi que ce que l’on conçoit clairement ne s’énonce pas toujours aisément, quoiqu’en dise notre poète. Mais <du> reste mon ignorance sur ce point, vous prouvera du moins, je l’espère, que ma plume a été peu exercée sur de pareils sujets.
Veuillez je vous prie, Mademoiselle, présenter mes hommages les plus distingués à M.r votre père et à Mad.e votre mère, et agréer l’expression du sincère et entier dévouement avec lequel j’ai l’honneur d’être d’être votre très humble et très obéiss. serv.
H.L.D. Rivail.
Le 6 7bre 1831.
[226] | 7//]//[184 | Carta de Allan Kardec para Amélie-Gabrielle Boudet |
[154] | 13/08/1831 | Carta de Hypolite Rivail para Amélie Boudet |
[156] | 26/09/1831 | Carta de Jeanne Louise Rivail para Amélie Boudet |
[157] | 04/08/1834 | Carta de Hypolite Rivail para Amélie Boudet |
[239] | 20/08/1834 | Carta de Allan Kardec para Amélie-Gabrielle Boudet |