Manuscrito

Discurso - Allan Kardec [DD/MM/1849]

Da [...] dos prêmios de 1849

Minhas queridas crianças,

Até agora, em circunstância parecida, dirigi-me principalmente a seus pais, a quem fiz questão de expor nossa visão sobre a educação de vocês; ainda que esse vasto assunto esteja longe de se esgotar, nosso sistema é atualmente bastante conhecido, não sendo preciso dar novos esclarecimentos a seu respeito. Eu me propus, este ano, a fazer-lhes as honras exclusivas do meu pequeno discurso nesta ocasião e aproveitar para dar-lhes alguns conselhos salutares. Vocês sabem que gosto de palestrar e ficaria muito triste de perder esta oportunidade. Vocês ouvem tão bem os conselhos, aproveitam-nos tão bem que é um prazer oferecê-los a vocês. Mas, para não assustá-los de antemão, aviso que não vou me alongar muito.

Talvez creem que vou falar do trabalho, das vantagens do estudo; não, isso seria pregar para convertidos; seu zelo, sua aplicação, sua assiduidade, vocês o sabem, nunca deixam a desejar; se falasse dos benefícios do ensino, da influência que ele pode ter na vida, eu não lhes ensinaria nada que nós já não saibamos, que vocês não compreendam perfeitamente e, sobretudo, que já não coloquem em prática.

Não pensem, pelo menos, que se trate de um epigrama; eu tomaria cuidado com isso; vocês sabem que sou incapaz de zombar de vocês.

Sobre o que, então, eu lhes falarei? Do caráter? Pergunto: vocês precisam disso? É necessário pregar sobre a desobediência, a gula, a polidez? Ou sobre aquele outro defeito que, eufemisticamente, e para não utilizar termos mais expressivos, chamamos simplesmente de tagarelice? Não são vocês a docilidade, a urbanidade [...] alguma vez lhes falta [...] conveniências?

Pois bem! [...] Não falarei de vocês, pois isso não é necessário; eu lhes falarei de outras pessoas, que vocês encontrarão frequentemente em seu mundo, das suas imperfeições ou dos seus ridículos, a fim de protegê-las contra a tentação de que possam ter de imitá-las. Se, algum dia, ao vê-las, pensarem: Deus! E se eu fosse assim? Então, observem-se bem e vejam se alguns raios dos ridículos delas não estão se refletindo em vocês.

Há pessoas perfeitamente honradas cuja probidade e honestidade são testadas; porém, não sabem ser bem recebidas; há algo nelas que nos afasta; de onde vem isso? É que lhes falta a amabilidade que provoca a simpatia, o sentimento de benevolência que atrai os corações; elas podem ser boas, mas não suporíamos isto. A benevolência, a consideração e a amabilidade são qualidades sem as quais não se é amado. A benevolência, aliás, é-nos demandada pela caridade cristã, e ela não lhes faltará se sempre seguirem os conselhos e os exemplos dos dignos eclesiásticos que lhes mostram, com tanta bondade e paciência, o caminho da perfeição evangélica.

Qualquer pessoa que não seja benevolente é egoísta, e o egoísmo é o meio mais infalível para ser odiado, e isso é muito natural. O que esperar de uma pessoa egoísta? Nada; nenhum serviço, nenhuma complacência, ela acima de tudo; se ela parece se compadecer da dor do outro, é apenas em palavras; ela oferece algum serviço quando sabe que nada é necessário; e se fosse para realizá-lo? Ela tem mil pretextos para dispensá-lo. Ela não ama ninguém; quer dizer, eu me engano: ela ama alguém, e muito, ela mesma.

O que acontece, então, é que ela não é amada por ninguém; é que ninguém está disposto a compeli-la, porque cada um pensa que ela cuida o suficiente dela mesma, isentando os outros de cuidarem dela.

Se eu [...] sobre todas as consequências do egoísmo [...] falar-lhes por longo tempo; pois é um [...] múltiplos defeitos que nunca caminham sozinhos. Um dos seus primeiros efeitos é a ingratidão. Todo egoísta é necessariamente ingrato, e todo ingrato é necessariamente egoísta; o egoísta odeia toda obrigação para com o outro, e o reconhecimento é uma obrigação; para ele é um fardo que lhe pesa e do qual lhe parece mais conveniente se livrar, dissimulando aos seus próprios olhos e aos dos outros o mérito dos serviços recebidos. Se vocês lhe obedecem, ele não lhes fica grato, porque acredita que isso lhe é devido; muitas vezes ele nem pensa em lhes agradecer; ele teria medo de dar muita importância à obrigação em relação a vocês.

Falei de duas outras qualidades: a consideração e a amabilidade. Se a benevolência é uma qualidade fundamental do coração, a consideração é a sua expressão. Com a benevolência fazemos o bem, com a consideração nós o fazemos com entusiasmo; encontramos o desejo do outro; experimentamos um sentimento de satisfação quando encontramos oportunidade para obedecer; agarramo-nos nela com avidez.

A amabilidade é mais superficial; sozinha, e sem as qualidades do coração, é somente hipocrisia; é um verniz sobre madeira apodrecida que nos seduz à primeira vista, mas pelo qual não nos deixamos enganar por muito tempo.

O egoísta amável é como esses velhos móveis carcomidos que um hábil marceneiro aparou e que viram pó quando queremos usá-los. Mas a amabilidade combinada com outras qualidades lhes dá um valor infinito; é aquela que nos atrai à primeira vista, porque está na pessoa inteira, nas maneiras, no som da voz, no olhar, na expressão da fisionomia; é um ímã que atrai e seduz; há, na pessoa amável, um conjunto gracioso que agrada desde a primeira abordagem, que depois se fixa quando reconhecemos que não é um vão adorno.

A amabilidade [...] da civilização e da educação [...] e de toda pessoa bem-educada; é [...] um apanágio de seu gênero. No selvagem [...] no camponês grosseiro, podemos encontrar a benevolência; encontramos neles pouca gentileza; mas não é aí que vocês buscarão a amabilidade; ora, vocês não vão querer ser comparadas com pequenos selvagens ou com cuidadores de perus.

Os defeitos que mais se opõem à amabilidade são a vaidade, o orgulho e um amor próprio inadequado; uma pessoa vaidosa e orgulhosa nunca será amável nem conquistará a simpatia dos outros; e isso por uma razão muito natural: por seu orgulho, ela se crê superior a todos; há no seu olhar, em sua postura, em todas as suas maneiras, em uma palavra, algo de arrogante, um ar de desdém ou proteção que nos fere, porque nossa suscetibilidade é ofendida pela superioridade que, com ou sem razão, ela nos arroga. Não diz também uma única palavra graciosa, amável, a não ser que seja sobre si mesma; se por acaso ela aceita ser educada com vocês, sentimos que não há nada de verdadeiro ou de natural em suas expressões. Essa vaidade está presente nas mínimas ações; por isso, ela sempre se gabará do que possui e, muitas vezes, do que não possui; ouvindo-a, para ela não há nada bonito; seu vestuário vem sempre dos primeiros fabricantes; ela teria vergonha de usar algo que não estivesse na última moda, o que não a impede de se arrumar com extremo mau gosto; ela não poderia ir a pé para fazer uma visita decentemente, e tem cuidado para lhe dizer que há um carro a esperando. Ela é convidada? O aceite é um favor que ela lhe está fazendo. Pedimos para ela tocar música? Ela assume uma falsa modéstia e deixa que lhe peçam ao longo de uns quinze minutos. Não estou falando de seus ares de coquete, de suas enxaquecas, dos seus males de nervos, da sensibilidade que lhe torna insuportável a mais leve contrariedade.

Ora, eu [...] minhas crianças, é uma pessoa [...] mas é o que há de mais agradável, [...] ela não nota seus defeitos; ela valoriza os elogios irrisórios que lhe são feitos. Ah, se ela ouvisse todas as piadas, todo o sarcasmo, todos os gracejos que lhe são dados sem se dar conta, talvez compreendesse que, em vez de se tornar interessante, ela é apenas uma pessoa ridícula.

A vaidade se traduz às vezes de maneira menos prazerosa: por palavras ácidas, arrogantes e imperiosas. Há pessoas que parecem ser capazes de abrir a boca apenas para dizer coisas desagradáveis ou ofensivas; que nunca estão felizes com nada, que acreditam estarem se rebaixando ao demonstrar sua satisfação. Podemos amar essas pessoas? Nós as aturamos quando não podemos fazer de outra forma; mas precisamos logo nos livrar delas; evitamos essas relações tanto quanto podemos. Podemos nos dispor a ajudá-las? De forma alguma. Fazemos melhor o que temos de fazer por elas? Não mais. Fazemos o que devemos, porque um homem honesto sempre cumpre seu dever; mas ele não faz nada de mais; talvez façamos ainda menos bem, porque só fazemos bem verdadeiramente com coração, com prazer, com devotamento; mas não há devoção sem afeto, nem afeição por pessoas arrogantes e exigentes.

As três qualidades que comentei têm uma influência decisiva no futuro de toda vida, na felicidade interior, na própria fortuna; pois a fortuna depende muitas vezes das relações que criamos, as quais podem ser mais ou menos proveitosas segundo a benevolência com que nosso caráter possa nos acomodar.

Se o que digo aqui é uma verdade em todas as áreas da vida, tanto mais se aplica às pessoas que estão sujeitas ao público. Vocês já não [...] vez, ainda que vocês estejam [...] em uma loja, de estar bem [...] impressionado com a recepção que [...] por maior ou menor complacência e ansiedade dos quais vocês são objeto? Vocês não chegaram a dizer, quando faltaram a vocês apreço, consideração ou mera cortesia, que somos rabugentos nesta casa, que nunca mais voltariam a colocar os pés aqui? E, de fato, vocês não vão mais voltar. O que vocês dizem, muitos outros também dizem e nós diremos de vocês se fizerem a mesma coisa; e muitas vezes é assim que se perde sua casa, ou pelo menos se diminuem suas relações e suas chances futuras. Certamente há muitas pessoas que sucumbem por causas fora de seu controle, mas, em maior número, há aquelas que falham por sua própria culpa: algumas por falta de previdência, e por isso empreendem além de suas forças, outras por falta de ordem e muito mais do que se pensa pela inconveniência do caráter que afasta o público.

Estas reflexões, minhas crianças, são sérias, e vocês têm muito juízo para compreendê-las em todo o seu alcance; meditem com cuidado sobre elas, isso está mais relacionado a vocês do que imaginam; e não pensem que sempre haverá tempo, quando estiverem no mundo, para conseguir a benevolência dos outros. O futuro tem raízes na infância, e a boa ou má opinião que se deu de si na idade em que se deve começar a razão pode nos abrir ou fechar muitas portas, das quais podem depender nossa fortuna e nossa alegria. Eis um fato que aconteceu há algum tempo com uma de suas antigas colegas, a quem, é claro, não nomearei, embora ela não esteja mais entre vocês, e que sustenta o que acabo de dizer. Há cerca de seis meses, uma senhora idosa, muito respeitável, veio nos perguntar se a senhorita tal não havia sido educada por nós. Depois de nossa resposta afirmativa, de que havia concluído seus estudos com distinção, ela nos perguntou, dentre outras coisas, se sabíamos o que ela vinha fazendo desde então; nós [...] só podíamos dizer que [...] uma vez que não a voltamos a ver. Eu sei bem, ela acrescentou, uma jovem que não cumpre com seus deveres a ponto de esquecer aqueles que a educaram, e a quem ela deveria considerar como segundos pais, prova sua ingratidão, e se é assim para com eles, ela o será para com outros; visto que vocês não ouviram falar dela, ela tampouco ouvirá falar de mim; quanto a isto, ela nos abandonou. Não pudemos saber a verdadeira motivação dessa senhora; apenas o que presumimos, com base em algumas palavras que lhe escaparam, é que ela tinha a intenção de agir em favor dessa jovem, e que o medo de descobri-la como uma ingrata a fez desistir disso.

Sem dúvida, fatos dessa natureza são raros; mais comum é ver os professores ou as professoras sendo consultados sobre o caráter dos jovens que eles educaram, antes de se casarem, e isso já nos aconteceu mais de uma vez. Isso porque aquele que, em sua juventude, mostrou-se fundamentalmente bom, benevolente, ativo e trabalhador oferece garantias que nunca encontraremos em quem se mostrou mau companheiro, mau filho, enganador, astucioso, preguiçoso e desordeiro.

Paro por aqui, minhas crianças, pois talvez já tenha quebrado minha promessa de brevidade; mas espero que não estejam descontentes, nem os seus pais, a quem gostaríamos de provar que, para nós, a educação de vocês não está toda no conhecimento da gramática e da aritmética e que estendemos nossa solicitude a qualquer coisa que possa assegurar sua felicidade futura.

Reflitam com cuidado sobre o que acabei de lhes dizer e vejam se, através da gaze com que cobri o quadro que apresentei, vocês não percebem o espelho da verdade que lhes refletiria alguns de seus raios.

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De la [...] des prix de 1849

Mes chères enfants,

Jusqu’à présent, en pareille circonstance, je me suis principalement adressé à vos parents auxquels je me faisais un devoir d’exposer nos vues pour votre éducation ; bien que ce vaste sujet soit loin d’être épuisé, notre système est assez connu aujourd’hui, pour qu’il soit superflu d’y donner de nouveaux développements. Je me suis proposé cette année de vous faire les honneurs exclusifs de ma petite allocution de circonstance, et d’en profiter pour vous donner quelques avis salutaires. Vous savez que j’aime à vous sermonner et je serais trop fâché de laisser échapper l’occasion qui se présente. Vous écoutez d’ailleurs si bien les conseils, vous les mettez tellement à profit qu’on a du plaisir à vous en donner. Seulement, pour ne pas vous effrayer d’avance, je vous préviens que je ne serai pas long.

Vous croyez peut-être que je vais vous parler du travail, des avantages de l’étude ; non, ce serait prêcher des converties ; votre zèle, votre application, votre assiduité, vous le savez, ne laissent jamais rien à désirer ; en vous parlant des bienfaits de l’instruction, de l’influence qu’elle peut avoir sur la vie, je ne vous apprendrais rien que nous ne sachiez déjà, que vous ne compreniez parfaitement, et surtout que vous ne mettiez en pratique.

N’allez pas croire, au moins, que ceci soit une épigramme ; je m’en garderais bien ; vous savez que je suis incapable de me moquer de vous.

De quoi vous parlerai-je donc ? Du caractère ? En avez-vous besoin je vous le demande ? Est-il nécessaire de vous prêcher sur la désobéissance, la gourmandise, la politesse ? sur cet autre défaut que, par euphémisme, et pour ne pas se servir de termes plus expressifs on appelle simplement bavardage ? N’êtes-vous-pas la docilité, l’urbanité [...] vous arrive-t-il jamais de manquer [...] convenances ?

Eh bien ! [...] je ne vous parlerai pas de vous, puisque cela n’est pas nécessaire ; je vous parlerai d’autres personnes que vous rencontrerez souvent dans leur monde, de leurs travers ou de leurs ridicules afin de vous prémunir contre la tentation que vous pourriez avoir de les imiter. Si jamais en les voyant vous vous disiez : Dieu ! si j’étais comme cela ? alors, regardez-vous bien ; et voyez si quelques rayons de leurs ridicules ne se réfléchissent pas sur vous.

Il y a des personnes parfaitement honorables dont la probité et l’honnêteté sont à l’épreuve, et qui, néanmoins ne savent pas se faire bien venir ; il y a en elles quelque chose qui nous éloigne ; d’où cela vient-il ? C’est qu’elles manquent de l’amabilité qui provoque la sympathie, du sentiment de bienveillance qui attire les cœurs ; elles peuvent être bonnes, mais on ne s’en douterait pas. La bienveillance, la prévenance, l’amabilité sont des qualités sans lesquelles on ne saurait se faire aimer. La bienveillance, d’ailleurs, nous est commandé par la charité chrétienne, et vous ne saurez en manquer si vous suivez toujours les conseils et les exemples des dignes ecclésiastiques qui vous montrent avec tant de bonté et de patience le chemin de la perfection évangélique.

Quiconque n’est pas bienveillant est égoïste, et l’égoïsme est le moyen le plus infaillible de se faire détester ; et cela est tout naturel. Qu’attendre d’un égoïste ? Rien ; aucun service, nulle complaisance ; lui avant tout ; s’il a l’air de compatir à la peine d’autrui, ce n’est qu’en paroles ; il fait des offres de service quand il sait qu’on n’a besoin de rien ; s’agit-il de les réaliser ? Il a mille prétextes pour s’en dispenser. Il n’aime personne ; je me trompe ; il aime quelqu’un, et beaucoup ; c’est lui-même.

Aussi qu’arrive-t-il ? c’est qu’il n’est aimé de personne ; c’est que personne n’est disposé à l’obliger, parce que chacun se dit qu’il s’occupe assez de lui, pour dispenser les autres de prendre en soin.

Si je vous [...] sur toutes les conséquences de l’égoïsme [...] vous parler fort longtemps ; car c’est un [...] défauts multiples qui ne marchent jamais seuls. Un de ses premiers effets c’est l’ingratitude. Tout égoïste est nécessairement ingrat, et tout ingrat est nécessairement égoïste ; l’égoïste hait toute obligation à l’égard d’autrui, et la reconnaissance est une obligation ; c’est pour lui un fardeau qui lui pèse et dont il trouve plus commode de se débarrasser, en dissimulant à ses propres yeux, et aux yeux des autres le mérite des services qu’on lui a rendus. Si vous l’obligez il ne vous sait aucun gré, parce qu’il croit que cela lui est dû ; souvent même c’est à peine s’il songe à vous en remercier ; il craindrait de donner trop d’importance à l’obligation qu’il vous a.

J’ai parlé de deux autres qualités : la prévenance et l’amabilité. Si la bienveillance est une qualité foncière du cœur, la prévenance en est l’expression. Avec la bienveillance on fait le bien, avec la prévenance, on le fait avec empressement ; on va au devant du désir d’autrui ; on éprouve un sentiment de satisfaction quand on trouve l’occasion d’obliger ; on la saisit avec empressement.

L’amabilité est plus superficielle ; seule, et sans les qualités du cœur, ce n’est que de l’hypocrisie ; c’est un vernis sur du bois pourri qui nous séduit au premier abord, mais dont on n’est pas dupe longtemps.

L’égoïste aimable ressemble à ces vieux meubles vermoulus qu’un ébéniste habile a parés, et qui tombent en poussière quand on veut s’en servir. Mais l’amabilité jointe aux autres qualités leur donne un prix infini ; c’est celle qui nous frappe au premier abord, parce qu’elle est dans toute la personne, dans les manières, dans le son de la voix, dans le regard, dans l’expression de la physionomie ; c’est un aimant qui attire et séduit ; il y a dans une personne aimable un ensemble gracieux qui plaît dès le premier abord, qui attache ensuite quand on reconnaît que ce n’est pas une vaine parure.

<L’amabilité> [...] de la civilisation et de l’éducation [...] et de toute personne bien élevée ; c’est [...] un apanage de votre sexe. Chez le sauvage [...] chez le grossier paysan on peut trouver de la bienveillance ; on n’y trouve peu de prévenance ; mais ce n’est pas là que vous irez chercher l’amabilité ; or vous ne voudriez pas qu’on put vous comparer à des petits sauvages ou à des gardeuses de dindons.

Les défauts qui s’opposent le plus à l’amabilité sont la vanité, l’orgueil et un amour propre déplacé, jamais une personne vaine et orgueilleuse ne sera aimable, aussi jamais elle ne se conciliera les sympathies d’autrui ; et cela par une raison toute naturelle ; par son orgueil elle se croit supérieure à tout le monde ; il y a dans son regard, dans son maintien, dans toutes ses manières en un mot, quelque chose de hautain, un air de dédain ou de protection qui vous blesse, parce que notre susceptibilité est froissée de la supériorité qu’à tort ou à raison elle s’arroge sur nous. Aussi chez elle, jamais une parole gracieuse, aimable, si ce n’est en parlant d’elle-même ; si par hasard elle daigne vous gratifier d’une politesse, on sent qu’il n’y a rien de vrai ni de naturel dans ses expressions. Cette vanité perce dans les moindres actions ; ainsi elle vantera toujours ce qu’elle possède et souvent ce qu’elle ne possède pas ; à l’entendre, pour elle il n’y a rien de trop beau ; sa toilette sort toujours de chez les premiers fabricants ; elle aurait honte de porter une chose qui ne serait pas selon la dernière mode ce qui n’empêche pas d’être mise avec le plus mauvais goût ; elle ne pourrait décemment aller à pied faire une visite, et elle a bien soin de vous dire qu’elle a une voiture qui l’attend. Est-elle invitée ? c’est une faveur qu’elle vous fait d’accepter. La prie-t-on de faire de la musique ? elle affecte une vaine modestie ; elle se fait prier pendant un quart d’heure. Je ne parle de ses airs de minauderie, de ses migraines, de ses maux de nerfs, de la sensibilité qui lui rend insupportable la moindre contrariété.

Or, je vous [...] mes enfants, est-ce là une personne [...] mais ce qu’il y a de plus plaisant, [...] elle ne s’aperçoit pas de ses travers ; et prend pour argent comptant les compliments dérisoires qu’on lui fait. Ah ! Si elle entendait toutes les plaisanteries, tous les sarcasmes, toutes les quolibets dont on la gratifie à son insu, elle comprendrait peut-être qu’au lieu de se rendre intéressante elle est tout bonnement une personne ridicule.

La vanité se traduit quelquefois d’une manière moins plaisante ; c’est par des paroles aigres, arrogantes et impérieuses. Il y a des gens qui semblent ne pouvoir ouvrir la bouche que pour dire des choses désagréables ou blessantes ; qui ne sont jamais contents de rien, qui croiraient s’abaisser en témoignant leur satisfaction. Peut-on aimer de telles personnes ? On les souffre quand on ne peut pas faire autrement ; mais on a hâte de s’en débarrasser ; on évite autant qu’on peut leurs relations. Peut-on être disposé à leur rendre service ? Nullement. Fait-on mieux ce qu’on est obligé de faire pour eux ? Pas davantage. On fait ce qu’on doit, parce qu’un honnête homme fait toujours son devoir ; mais il ne fait rien de plus ; peut-être même le fait-on moins bien, parce qu’on ne fait véritablement bien que ce qu’on fait avec cœur, avec plaisir, avec dévouement ; or point de dévouement sans affection, et point d’affection pour les personnes hautaines et exigeantes.

Les trois qualités dont j’ai parlé ont une influence décisive sur le sort de la vie entière, sur le bonheur intérieur, sur la fortune même ; car la fortune dépend souvent des relations que l’on se crée, et ces relations peuvent être plus ou moins profitables selon la bienveillance que notre caractère peut nous concilier.

Si ce que je dis là est vrai dans toutes les positions de la vie, à plus forte raison cela s’applique-t-il aux personnes qui, par état sont sujettes au public. Ne vous est-il pas déjà [...] fois, quoique vous soyez encore [...] dans un magasin, d’être bien [...] impressionné par l’accueil qu’on vous <fait?> par le plus ou le moins de complaisance et d’empressement dont vous êtes l’objet ? Ne vous est-il pas arrivé de dire, lorsqu’on manquait pour vous d’égards, de prévenance, ou de simple politesse : qu’on est maussade dans cette maison ; je n’y remettrai jamais les pieds ; et en effet vous n’y retournez pas. Ce que vous dites, beaucoup d’autres le disent aussi, et on le dira de vous si vous faites de même, et c’est souvent ainsi qu’on perd sa maison, ou tout au moins qu’on diminue ses relations et ses chances d’avenir. Il y a certes beaucoup de gens qui succombent par des causes indépendantes de leur volonté, mais il y en a plus encore qui échouent par leur faute : les uns par manque de prévoyance qui leur fait entreprendre au-delà de leurs forces, d’autres par le manque d’ordre et beaucoup plus qu’on ne pense par le désagrément du caractère qui éloigne le public.

Ces réflexions, mes enfants, sont graves, et vous avez trop de jugement pour n’en pas comprendre toute la portée ; méditez-les avec soin, il y va pour vous plus que vous ne croyez peut-être ; et ne pensez pas qu’il sera toujours temps, quand vous serez dans le monde, de vous concilier la bienveillance des autres ; l’avenir a des racines dans l’enfance, et la bonne ou la mauvaise opinion qu’on a donné de soi à l’âge où doit commencer la raison, peut nous ouvrir ou nous fermer bien des portes d’où peuvent dépendre notre fortune et notre bonheur. Voici un fait qui s’est passé il y a quelque temps au sujet d’une de vos anciennes compagnes, que je ne nommerai pas, bien entendu, quoiqu’elle ne soit plus parmi vous, et qui vient à l’appui de ce que je viens de dire. Il y a 6 mois environ, une dame âgée, fort respectable, vint nous demander si M.lle un telle n’avait pas été élevée chez nous ; sur notre réponse affirmative qu’elle y avait complètement <terminée> ses études avec distinction, elle nous demanda entre autres choses si nous savions ce qu’elle avait fait depuis ; nous lui [...] nous ne pouvions lui parler que sur des [...] attendu que nous l’avions pas revue. J’en sais assez, ajouta-t-elle ; une jeune personne qui manque à ses devoirs au point d’oublier ceux qui l’ont élevée, et qu’elle doit regarder comme de seconds parents, prouve son ingratitude, et si elle l’est envers eux, elle le sera envers d’autres ; puisque vous n’avez pas entendu parler d’elle, elle n’entendra pas non plus parler de moi ; là-dessus, elle nous quitta. Nous n’avons pu savoir le véritable motif de cette dame, seulement, ce que nous avons supposé, d’après quelques mots qui lui étaient échappés, c’est qu’elle avait l’intention de faire des dispositions en faveur de cette jeune personne, et que la crainte de trouver en elle une ingrate, l’y a fait renoncer.

Des faits de cette nature sont rares sans doute ; mais ce qui l’est moins c’est de voir les instituteurs ou les institutrices consultés sur le caractère des jeunes gens ou des jeunes personnes qu’ils ont élevé, avant de conclure un mariage, et cela nous est arrivé plus d’une fois. C’est qu’en effet, celui qui s’est toujours montré dans sa jeunesse foncièrement bon, bienveillant, actif et laborieux, offre des garanties que l’on ne trouvera jamais dans celui qui se sera montré mauvais camarade, mauvais fils, fourbe, astucieux, paresseux et désordonné.

Je m’arrête, mes enfants, car j’ai déjà peut-être enfreint ma promesse de brièveté ; mais j’espère que vous n’en saurez pas mauvais gré, ni vos parents non plus, auxquels nous avons à cœur de prouver que pour nous votre éducation n’est pas tout entière dans la connaissance de la grammaire et de l’arithmétique et que nous étendons notre sollicitude sur tout ce qui peut assurer votre bonheur à venir.

Réfléchissez mûrement à ce que je viens de vous dire, et voyez si à travers la gaze dont j’ai couvert le tableau que je vous ai présenté, vous n’apercevriez pas le miroir de la vérité qui vous renverrait quelques-uns de ses rayons.

19/07/1847 Carta de Allan Kardec para Amélie-Gabrielle Boudet
DD/MM/1847 Discurso Allan Kardec [em andamento]
DD/MM/1848 Discurso Allan Kardec [em andamento]
20/11/1853 Carta de Allan Kardec para Amélie Gabrielle Boudet [em andamento]
23/04/1857 Rascunho de carta para o senhor Pâtier
DD/05/1857 Rascunho de carta para o senhor Tiedman