Manuscrito

Comunicação [19/11/1863]

Médium senhorita Chedeaux

19 de Novembro de 1863

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A Natureza. espontâneo

A natureza é a expressão da bondade divina, esta bondade inteligente que satisfaz todas necessidades e todos os desejos humanos. Como não reconhecer esta doce Providência na distribuição abundante de seus dons!

O homem, ocupado consigo mesmo, não sabe observar tudo aquilo que o cerca, absorvido que está pela procura de um bem-estar maior, ou pelo estudo de filosofias enganosas, ele não vê tudo que há de pessoal na grande distribuição de todas as produções naturais semeadas em abundância sob seus pés.

Ah! Se apenas ele quisesse olhar para seus pés, o sábio que, de seu gabinete classifica as plantas e lhes atribui qualidades e particularidades além daquelas que possuem, se quisesse tomá-las com base em sua vitalidade, na sua formação, sua vegetação e sua reprodução, ele saberia encontrar em seu coração graças que se elevariam em direção ao Criador da natureza.

Essas flores frágeis, esses insetos imperceptíveis em que pisais têm em si tanta vida quanto vós, homens orgulhosos; eles são organizados para a vida vegetal e animal, assim como vossos órgãos o são; eles respiram e sentem, e obedecem à grande voz divina que lhes deu uma tarefa a cumprir.

Não creiais que o livre-arbítrio seja dado apenas ao homem; toda a criação o possui, segundo seu nível de inteligência, e o inseto e a flor, em um nível limitado, devem agir e produzir de acordo com os elementos que estão ao seu alcance. Não vos creiais os únicos privilegiados; toda criatura obedece às leis divinas, enquanto usufrui de uma liberdade compatível com a sua natureza.

Estudeis, homens da ciência, essa natureza que vos cerca, observai-na com olhos da Verdade, com olhos não advertidos por tal sistema de orgulho dominador, e vereis a tal flor que havíeis feito de vossa escrava, que creias dirigir de tal modo, recusar-se obstinadamente, vereis o inseto se agitar e trabalhar segundo sua própria vontade determinada; vereis esses animais provarem sua independência, sua vontade inteligente, e até mesmo sentimentos.

Oh! Homens! Não passais de animais na imensa cadeia da criação, não sois a última palavra da criação mais do que sois a primeira. Estudai, digo, a natureza que vos cerca, e ela vos dará a chave do infinito, onde tudo está em tudo, ou seja, a menor das criações assemelha-se /2/ à maior, e a ordem divina é imutável em toda parte.

Podeis, então, compreender vossa vida futura segundo a vida presente, como podeis julgar vossa vida passada através daquelas dos seres inferiores a vós.

O progresso é incessante e contínuo. A natureza humana é a perfeição dos organismos terrestres; mas o planeta terrestre não passa de um átomo imperceptível na imensidão.

Oh! natureza admirável, o homem, vendo-a tão luxuriosa e tão bela, pode compreender a bondade divina e a grandeza de seu destino, pois ele, criação desse divino Criador, deve, como todas as magnificências que o cercam, progredir indefinidamente. E quem fala em progredir, fala em melhorias materiais e espirituais, cuja felicidade é a consequência.

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Méd. Mlle. Chedeaux.

19 Novembre 1863

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La Nature. spontanée

La nature est l’expression de la bonté divine, cette bonté intelligente qui pourvoit à tous les besoins et à tous les désirs humains. Comment ne pas reconnaître cette douce Providence dans la distribution abondante de ses <dons> !

L’homme occupé de lui-même ne sait pas regarder tout ce qui l’entoure, absorbé qu’il est par la recherche d’un plus grand <bien être> ou par l’étude de philosophies trompeuses, il ne voit pas tout ce qu’il y a de personnel dans la large distribution de toutes les productions naturelles semées à profusion sous ses pas.

Ah! S’il voulait seulement regarder à ses pieds, le savant qui, de son cabinet classe les plantes et leur attribue des qualités et particularités autres que celles qu’elles possèdent, s’il voulait les prendre sur le fait de leur vitalité, dans leur formation, leur végétation et leur reproduction, il saurait trouver dans son coeur des actions de grâces qui s’élèveraient vers le Créateur de la nature.

Ces fleurs chétives, ces insectes imperceptibles que vous foulez sous vos pieds, ont en eux autant de vie que vous hommes orgueilleux ; ils sont organisés pour la vie végétale et animale comme vos propres organes le sont aussi ; ils respirent et sentent, et sont obéissants à la grande voix divine qui leur a donné leur tâche à accomplir.

Ne croyez pas que le libre arbitre ne soit donné qu’à l’homme ; toute création le possède selon le degré de son intelligence, et l’insecte et la fleur, à un degré limité, doivent agir et produire selon les éléments qui sont à leur portée. Ne vous croyez pas seuls privilégiés ; tout être créé obéit aux lois divines tout en jouissant d’une liberté mesurée à sa nature.

Étudiez, hommes de science, cette nature qui vous entoure, regardez-la avec les yeux de la Vérité, avec des yeux non prévenus par tel système de votre orgueil dominateur et vous verrez cette fleur que vous avez faite votre esclave, que vous entendez diriger de telle façon, s’y refuser obstinément, vous verrez cet insecte s’agiter <&> [etc.] travailler selon sa volonté bien arrêtée ; vous verrez ces animaux faire preuve d’indépendance, de volonté intelligente, de sentiments même.

Oh! Hommes! Vous n’êtes qu’un des animaux de la chaîne immense de la création, vous n’êtes pas plus le dernier mot de cette création, que vous n’en êtes le premier. <Étudiez vous> dis-je cette nature qui vous entoure, et elle vous donnera la clef de l’infini, où tout est en tout, c’est-à-dire que la plus petite création ressemble /2/ à la plus grande et que l’ordre divin est immuable partout.

Vous pourrez donc comprendre votre vie future d’après votre vie présente, comme vous pourrez juger de votre vie passée par celle des êtres inférieurs à vous.

Le progrès est incessant et continu. La nature humaine est la perfection d’organismes terrestres ; mais la planète terrienne n’est qu’un <atome> imperceptible dans l’immensité.

Oh! nature admirable, l’homme en te voyant si luxuriante et si belle, peut comprendre la bonté divine et la grandeur de sa destinée, car lui, création de ce divin Créateur, doit, comme toutes les magnificences qui l’entourent progresser indéfiniment. Et qui dit progrès dit amélioration matérielle et spirituelle, dont le bonheur est la conséquence.

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