Manuscrito
Senhor Morin
Evocação de 14 de maio de 1865, Paris
O céu e o inferno
O céu e o inferno, eis dois extremos, os dois contrastes mais opostos, dois locais de reuniões das almas; que têm o privilégio exclusivo de açambarcá-las por si só, a centelha divina, a alma ou o espírito, como o homem preferir nomear; é algo diferente da matéria que há nele.
O céu e o inferno, bases fundamentais de muitas esperanças e de inauditos desesperos; o primeiro, recompensa eterna; o segundo, punição terrível, indescritível e igualmente eterna... Eterna, compreenda bem esta palavra, quer dizer sem fim, a palavra sempre em todo seu alcance. Que cânticos de alegria, que hinos são cantados pelas almas que habitam o céu, que êxtase não é o delas! Por outro lado, vejam o inferno: que clamores terríveis, gritos e ranger de dentes, torturas sem nome; queimar, sempre queimar; a sede mais ardente, sem uma gota de água para refrescar os lábios devorados pelo fogo; nenhum instante de calma, caldeirões cheios de carne que cozinham ininterruptamente, sem nunca se consumirem; todos esses gritos de desespero e arrependimento são inúteis, e não servem senão para adicionar mais uma dor a todos os sofrimentos morais e físicos; é verdade que a alma pede ajuda, e não é ouvida; o bem que ela pôde ter feito em vida não conta, para ela, absolutamente nada no tribunal do juiz imparcial.
Desse modo, alegria eterna ou sofrimentos sem fim; isso é o que ensinam e afirmam homens que se vestem com mantos roxos, pregando-lhes a humildade! Com qual direito vêm distorcer as inteligências quando sabem que seus dados são falsos e, frequentemente, ridículos... o que de fato deve ser feito, qual /2/ é o crime capital de uma existência inteira que, por causa de sua enormidade, fecha-lhes para sempre as portas do céu e os mergulha nesse inferno; é preciso ter matado seu pai, sua mãe ou seu próximo, ter traído seu amigo, roubado seu vizinho, violado, pilhado, saqueado, ter levado à desolação o seu entorno e até mais além; mas não se, antes de morrer, você teve tempo de dizer com os seus lábios: “eu me arrependo” a um padre que o absolverá; neste caso, você está salvo e entrou no reino de Deus para ali gozar a felicidade eterna.
O que é preciso então??? É necessário, meus amigos, vocês sabem, já lhes foi dito muitas vezes, e continua sendo dito a suas mulheres e a suas crianças, a todos os espíritos frágeis; para ir ao inferno, basta morrer na impenitência final, morrer sem querer se confessar, ou morrer em estado de pecado mortal.
Assim, meus amigos, temos um Deus que nos cria, lançando-nos na terra, para nos fazer tirar na loteria confessional o bilhete da absolvição que deve abrir-nos as portas do céu.
Eis o céu e o inferno, tais como lhes foram feitos, mas dê graças a esse Deus de justiça e de bondade que, longe de querer a perdição de qualquer uma de suas criaturas, estende-lhe os braços e sempre abre-lhe o peito; seu coração é grande o bastante para receber todos nós, e se ele quis nos testar e nos fazer ganhar, pelas provações das sucessivas encarnações, uma felicidade eterna e perfeita, cabe-nos curvar a cabeça e buscar, pela prática do bem, aproximarmo-nos dele. O céu é ele, sua contemplação, seu amor; o inferno são vocês, com seus vícios, seus desvios e suas maldades, são suas encarnações múltiplas nas quais sofrem moral e fisicamente, em razão do mal que fizeram em suas existências anteriores; o inferno é ainda o estado em que vocês estão quando, livres de seu invólucro material, consideram o mal que foi feito e a distância que ainda os separa do propósito; o inferno é tudo o que não está na lei do bom, do belo e do bem, e do qual intencionalmente sofre a humanidade, visto que já na terra vocês sofrem com seus próprios erros, e /3/ seus vícios servem para flagelarem-se uns aos outros; o inferno é tudo o que mantém o espírito afastado de Deus, é o ardor constante de querer se aproximar dele, que é a chama que consome e a perspectiva de todas as dificuldades a ultrapassar, de todos os defeitos a corrigir; em uma palavra, esse cadinho de depuração pelo qual é necessário passar antes de alcançar o objetivo; eis o verdadeiro inferno... o inferno no qual sofremos as dores mais terríveis, e o qual vocês só compreenderão no estado de Espírito e desmaterializados; mas essas penas não serão eternas, e cabe apenas a vocês abreviá-las e virem tomar lugar nesse banquete sem fim, para o qual todos somos convidados.
O juiz é justo, cada boa ação ser-lhe-á contada. Vamos, meus amigos, vocês que sabem, vocês que aprendem todos os dias com que facilidade podemos trilhar o caminho do bem, mostrem a todos aqueles que se aproximam de vocês e que não conhecem o Espiritismo e suas benéficas influências; digam-lhes o que ele é, iniciem-nos na sublime, pura e simples moral do Cristo e, pouco a pouco, vocês a espalharão por toda parte e em todas as direções; ao passo que se vocês se mantiverem presos uns contra os outros e guardarem, para vocês e para os seus, os ensinamentos que recebem, vocês pecarão por egoísmo, o que os manterá por muito tempo longe do caminho certo. Vamos, meus amigos, façam-se apóstolos de sua crença, plantem bons grãos e receberão bons frutos; que a caridade lhes sirva de marco, e vocês jamais se desviarão do bom caminho; sigam os conselhos que lhes dão todos os dias; trabalhem, propaguem a doutrina; farão adeptos e, sobretudo, pessoas felizes, começando por vocês; é o que lhes desejo,
<Ebelmaune>, espírito protetor.





Mr. Morin
Évocation du 14 mai 1865, Paris
Le ciel et l’enfer
Le ciel et l’enfer, voilà les deux extrêmes, les deux contrastes les plus opposés, deux lieux des réunions des âmes ; qui ont le privilège exclusif d’accaparer à eux seuls, l’étincelle divine, l’âme ou l’esprit, suivant qu’il plaît à l’homme de nommer ; c’est autre chose que la matière, qu’il a en lui.
Le ciel et l’enfer, bases fondamentales de beaucoup d’espérances et d’inouïs désespoirs ; le premier, récompense éternelle, le second, punition terrible indescriptible, et de même éternelle ;... éternelle comprenez bien ce mot, c’est à dire sans fin, le mot toujours dans toute sa valeur ; quels chants d’allégresse, quels cantiques sont chantés, par les âmes habitantes du ciel, quel ravissement n’est pas le leur. Par contre, regardez l’enfer, quelles clameurs terribles, quels cris et quels grincements de dents, des tortures sans <noms> [nom] ; brûler toujours brûler, la soif la plus ardente sans une goutte d’eau pour rafraîchir des lèvres dévorées par le feu ; pas un instant de calme, des chaudières pleines de chairs qui cuisent toujours et ne se <consume> [consument] jamais, tous ces cris de désespoir et repentir sont inutiles et ne servent qu’à ajouter une souffrance de plus, à toutes les souffrances morales et physiques ; c’est en vrai que l’âme appelle à son secours, elle n’est pas entendue, le bien qu’elle a pu faire de son vivant ne lui compte absolument pour rien au tribunal du juge impartial.
Ainsi donc, joie éternelle, ou souffrances sans fin ; voilà ce que vous enseigne et vous affirme, des hommes qui se drapent dans ses manteaux de pourpre, en vous prêchant l’humilité, !! de quel droit viennent-ils fausser les intelligences lorsqu’ils savent que leurs données sont fausses et souvent ridicules... que faut-il faire en effet, quel /2/ est le crime capital de toute une existence, qui pour son énormité, vous ferme à tout jamais les portes du ciel et vous plonge dans <c’est> [cet] enfer ; faut-il avoir tué son père, sa mère ou son prochain, avoir trahi son ami, volé son voisin, violé pillé saccagé, avoir porté la désolation dans son entourage et même au delà ; non car si avant de mourir, vous avez eu le temps de dire du bout des lèvres, « je me repens » à un prêtre qui vous absoudra, vous êtes sauvé et vous <entré> [entrez] dans le royaume de Dieu pour y jouir d’un éternel bonheur.
Que faut-il donc alors ??? Il faut mes amis, vous le savez, on vous <l’as> [l’a] dit bien des fois, on le dit encore à vos femmes à vos enfants, à tous les esprits faibles ; il suffit pour aller en enfer, de mourir dans l’impénitence finale, mourir sans vouloir se confesser, ou mourir en état de péché mortel.
Ainsi mes amis, nous avons un Dieu qui nous crée, nous, <jettent> [jette] sur terre, pour nous faire tirer à la loterie du confessionnal le billet d’absolution qui doit nous ouvrir les portes du ciel.
Voilà le ciel et l’enfer, tel que l’on vous le fait, mais rendez grâce <a> [à] ce Dieu de justice et de bonté qui, loin longe de vouloir la perdition d’aucune de ses créatures, lui tend les bras et lui ouvre toujours son sein, son cœur est assez grand pour nous recevoir tous, et s’il a voulut nous éprouver et nous faire gagner, par les épreuves des incarnations successives un bonheur éternel et parfait, c’est à nous de courber la tête, et de chercher par la pratique du bien, à nous <rapprocher> de lui ; le ciel c’est lui, c’est sa contemplation, son amour ; l’enfer c’est vous avec vos vices, vos travers et vos méchancetés, ce sont vos incarnations multiples où vous souffrez moralement et physiquement, en raison du mal que vous avez fait dans vos existences précédentes, l’enfer c’est encore l’état où vous êtes, lorsque dépouillé de votre enveloppe matérielle, vous envisagez le mal que vous avez fait, et la distance qui vous sépare encore du but ; l’enfer c’est tout ce qui n’est pas dans la loi du bon, du beau et du bien et dont par intention souffre l’humanité, car déjà de la terre, vous souffrez de vos propres erreurs, et /3/ vos vices servent à vous flageller les uns les autres ; l’enfer c’est tout ce qui tient l’esprit éloigné de Dieu, c’est l’ardeur constante à vouloir se rapprocher de lui, qui est la flamme qui consume et la perspective de toutes les difficultés à surmonter, de tous les défauts à corriger, en un mot de ce creuset d’épuration par lequel il faut passer avant d’arriver au but ; voilà le vrai enfer... l’enfer où l’on souffre les douleurs les plus terribles, et que vous ne comprendrez bien qu'à l’état d’esprit et dématérialisé mais ces peines ne seront pas éternelles, et il ne tient qu'à vous de les abréger, et de venir prendre place à ce banquet sans fin, auquel nous sommes tous conviés.
Le juge est juste, chaque bonne action vous sera comptée. Allons mes amis, vous qui savez, vous qui apprenez tous les jours avec quelle facilité on peut marcher dans la voie du bien, montrez à tous ceux qui vous approchent et qui ne connaissent pas le Spiritisme et ses salutaires influences, dites leurs ce que c’est, initiez-les à la sublime pure et simple morale du Christ, et de proche en proche vous vous répandrez partout et dans toutes les directions, tandis que si vous vous resserrez les uns contre les autres et gardez pour vous et les vôtres les enseignements que vous recevez, vous pécheriez en cela par l’égoïsme qui vous retiendrai longtemps encore écarté du droit chemin. Allez mes amis, faites-vous les apôtres de votre croyance répandez de bon grain et vous récolterez de bons fruits que la charité vous serve de jalon et vous ne vous écarterez jamais de la bonne route, suivez les conseils que nous vous donneront toujours ; travaillez<,> propagez la doctrine, vous ferez des adeptes et surtout des heureux, à commencer par vous, c’est ce que je vous souhaite,
<Ebelmaune> esprit protecteur.