Manuscrito
/4/ Senhora
Senhora Rivail
Rua Tiquetonne, n° 10
Paris
[Carimbo na frente] LYON 25 AGOSTO [41] [(68)]
[[illeg.], PARIS] AGOSTO 41 (60)
/1/ Segunda-feira, 23 de agosto.
Minha querida Amélie, acabei de receber a tua carta, que esperava receber esta manhã, e apresso-me a responder para te dar uma boa notícia. Quando digo boa, não é preciso imaginar maravilhas; mas finalmente acabo de obter promessas. Não sei até onde vão se prolongar, mas pelo menos tenho a garantia de ser ajudado pelo senhor Girardin; a título de que e até onde irá sua boa vontade, eu ainda ignoro. Eis o que aconteceu. O senhor Laborie sempre dizia ao senhor Quinson que não havia encontrado oportunidade de falar em particular com o senhor Girardin; enfim, chateado com esses atrasos e querendo acabar com isso, escrevi ao senhor Quinson uma longa carta, pedindo-lhe que informasse seu conteúdo ao senhor Laborie, e para pressionar por uma explicação. O senhor Laborie respondeu novamente que não havia falado com o senhor Girardin, mas que estava convencido de que não se devia contar com ele. O senhor Quinson pensou que tinha falado com ele e que ele havia dado uma resposta negativa. Sobre isso, escrevi imediatamente uma carta ao senhor Girardin que deve tê-lo impressionado, a não ser que seja insensível. Finalizei-a com o seguinte parágrafo:
“Expus francamente minha posição, senhor, e como vê, ela não é brilhante; venho, assim, solicitar-lhe, por sua bondade e por sua justiça, não o abandono de nenhuma parte do que lhe é legalmente adquirido, mas simplesmente ajuda e apoio para me reerguer e para facilitar os meios de reconstituir o meu futuro. Peço-lhe em nome e em memória de minha tia, como parente e como alguém a quem toda a sua fortuna teria ficado se a morte a tivesse atingido antes de ela tomar as providências. Ela era boa, generosa e justa; o senhor de Girardin possui as mesmas virtudes; faça em seu nome e em sua memória um ato de justiça e de reparação /2/ que pode ser realizado sem nenhum sacrifício de sua parte. Deixo a seu critério tanto a extensão quanto a natureza das condições do serviço que gentilmente me prestar; seja o que for, terá sido útil para mim; com isso, senhor, adquirirá um título eterno à minha gratidão e, se possível, acrescentará um à estima pública; pois veremos neste processo uma nova prova dos sentimentos de justiça que o inspiram e que são, com seus talentos, um dos melhores títulos para um avanço que desejo de todo o meu coração.”
Eu esperava uma resposta rápida de sim ou não, porque sabia que ele tinha de sair esta manhã para o sul. No entanto, não recebi nada e, acreditando que ele havia partido, pensei que ele queria esperar até que não estivesse mais em Lyon para me dar uma resposta evasiva; quando, esta manhã, eu o vi andando pela minha rua com outra pessoa e gesticulando muito, corri para casa, e ele me seguiu quase imediatamente. Sua abordagem foi extremamente graciosa e afável. Ele se desculpou muito sinceramente por um mal-entendido que me fez não ser recebido outro dia, quando me apresentei em sua casa para vê-los, ele e a sua esposa, e me fez prometer voltar lá esta noite. Ele disse-me, então, as coisas mais gentis. Por fim, ao abordar, não sem algum constrangimento, a questão principal, e o objeto da minha carta, disse-me que os desejos de minha tia a meu respeito estavam formalmente expressos em uma carta colocada nas mãos de um terceiro, e com uma liminar a ser usada, se necessário; que ele não podia, portanto, contrariar desejos que ele tinha de respeitar; mas que ele, como parente, e já que eu estava pedindo um serviço, faria a ele um prazer e um dever por ser-me útil; que eu poderia contar com ele, e que a senhora Girardin e ele seriam mais duas pessoas que ficariam contentes por estarem entre os que se interessaram por mim. Acrescentou que a posição em que eu me colocara em relação a ele, pela minha maneira de agir, criava uma espécie de obrigação para com ele e /3/ que teria sido mais do seu interesse se eu tivesse agido de outra forma. Que lamentava não poder cumprir imediatamente os seus planos, mas que os consideráveis encargos e despesas da sucessão até lhe causavam algum embaraço no momento; mas que, assim que o pagamento fosse efetivado, ele me provaria que não estava me fazendo uma promessa vã. Além disso, não explicou nem a cifra nem o modo de serviço. Se será como empréstimo, adiantamento ou doação, eu não sei; mas sua maneira de se explicar parecia indicar que ele não queria ser muito parcimonioso. Acredito que se ele quisesse se livrar de mim com uma quantia miserável, poderia tê-lo feito imediatamente. Talvez esta noite, na visita que lhe farei, ele seja mais explícito. Então, paciência; se ainda não tenho uma resposta positiva, pelo menos tenho esperanças que me parecem bastante fundamentadas.
Fico feliz em saber que as operações do banco estão indo muito bem. Quanto à senhora das amostras, sem dúvida seria lamentável se o negócio não fosse feito; mas haveria sérias desvantagens em vender em sua casa, como ela pretendia. Devemos exigir o depósito das amostras e manter em sigilo o endereço do vendedor. Só deve ser entregue ao comprador sob um bom sinal e em casos excepcionais. Em relação à comissão, é preciso cobrar 5% sobre o preço de venda e descontar do pagamento.
Não tendo mais nada para te dizer, termino minha carta pedindo-te que expresses a todos os nossos amigos como sou sensível ao interesse deles; embora eu não os liste, tu não esquecerás nenhum deles. Dá um beijo especial em minha pequena Louise, cujos escritos me deixaram muito feliz.
Dá um grande beijo ao meu tio, e diz-lhe que pensei, por sua carta, que o terceiro parecerista havia feito seu relatório, e que a sessão para a qual fui convocado era para ouvir a sua leitura. Entendo que, na atual circunstância, é difícil prever qualquer coisa.
Não te peço que me respondas porque é muito provável que eu não esteja mais em Lyon quando a tua carta chegar. Devo escrever-te para anunciar a minha chegada. Quanto às minhas finanças, acho que terei o suficiente para tudo, pois meus gastos aqui são muito pequenos.
/4/ Adeus, minha querida Amélie, continua te cuidando e, sobretudo, não faças nada imprudente que possa comprometer as tuas melhoras. Quanto a mim, também estou muito melhor; a inflamação das gengivas está desaparecendo; e sofro pouco e acidentalmente.
Com todo afeto,
HLDR.
/5/ Perdi, inadvertidamente, a hora e o correio, de modo que quando apareci para colocar minha carta era tarde demais, então sou forçado a esperar um dia, pelo que sinto muito, pois nunca se aprende algo bom cedo demais. Nada de novo desde ontem, exceto que fui à noite visitar o casal Girardin. Havia tanta gente que só falávamos de coisas alheias. Eles foram muito agradáveis. Madame Girardin é uma mulher pequena, de rosto enrugado, bastante fria e que me parece ter um profundo sentimento de tristeza. Sua irmã, ao contrário, é muito melhor, muito alegre e muito mais amável. Eles todos partem esta manhã para uma viagem de dez dias ao sul, a fim de se recuperarem das dolorosas emoções. O senhor Quinson também viaja hoje para Bourg, onde ficará por uma semana. Então, por ora, esse é o fim do assunto.
/6/ Tive a ideia de ver se seria possível ter um comércio de sedas ou schals [lenços ou cachecóis] em Paris; lamento não ter pensado nisso antes, pois teria me poupado tempo. Em breve saberei se isso é possível e, de qualquer modo, minha estada aqui não pode ser longa.






/4/ Madame
Madame Rivail
Rue Tiquetonne n° 10
Paris
[Cachets au recto] LYON 25 AOUT [41] [(68)]
[[illis.], PARIS] AOUT 41 (60)
/1/ Lundi 23 août.
Ma chère Amélie, je viens de recevoir ta lettre que je comptais bien recevoir ce matin, et je m’empresse de te répondre pour t’annoncer une bonne nouvelle. Quand je dis bonne il ne faut pas encore se créer des merveilles ; mais enfin je viens d’obtenir des promesses ; je ne sais pas jusqu’où elles s’étendront ; mais j’ai au moins l’assurance d’être aidé par Mr Girardin ; à quel titre et jusqu’où ira sa bonne volonté c’est ce que j’ignore encore. Voici ce qui s’est passé. Mr Laborie disait toujours à Mr Quinson qu’il n’avait point trouvé l’occasion de parler en particulier à M. Girardin ; enfin ennuyé de ces lenteurs et voulant en finir, j’écrivis à Mr Quinson une longue lettre avec prière de la communiquer à Mr Laborie, et de presser une explication. Mr Laborie lui répondit encore qu’il n’avait point parlé à Mr Girardin ; mais qu’il était persuadé qu’il ne fallait pas compter sur lui. Mr Quinson pensa qu’il lui avait parlé et qu’il avait fait une réponse négative. Sur ce j’écrivis aussitôt à Mr Girardin une lettre qui devait faire sur lui quelque impression à moins que ce ne fut un sans cœur. Je la terminai par le paragraphe suivant :
« Je vous ai exposé franchement ma position Mr, comme vous le voyez elle n’est pas brillante ; je viens donc solliciter de vous, de votre obligeance et de votre équité, non point l’abandon d’une portion quelconque de ce qui vous est légalement acquis, mais simplement aide et appui pour me relever, et me faciliter les moyens de reconstituer mon avenir. Je le sollicite au nom et en mémoire de ma tante, comme parent, et comme celui à qui toute sa fortune serait échue si la mort l’eut frappée avant qu’elle n’eut fait de dispositions. Elle était bonne, généreuse et juste, Mr de Girardin possède les mêmes vertus, faites en son nom et en mémoire d’elle un acte de justice et de réparation /2/ qui peut s’accomplir sans aucun sacrifice de votre part. Je m’en remets à vous pour l’étendue, comme pour la nature des conditions du service que vous voudrez bien me rendre ; quel qu’il soit vous m’aurez été utile ; par là, Mr, vous acquerrez un titre éternel à mes reconnaissances, et vous en ajouterez un, si c’est possible, à <l’estime> publique ; car on verra dans ce procédé une nouvelle preuve des sentiments d’équité qui vous animent, et qui sont avec vos talents un des plus beaux titres à un avancement que je désire de tous mes vœux. »
Je m’attendais à une réponse prompte en oui ou en non, car je savais qu’il devait partir ce matin pour le midi. Cependant je ne reçus rien et le croyant parti, je pensai qu’il avait voulu attendre de n’être plus à Lyon pour me faire quelque réponse évasive ; quand ce matin, je l’aperçus qui se promenait de long en large dans ma rue avec une autre personne et gesticulant beaucoup, je me hâtai de rentrer, et il me suivit presque aussitôt. Son abord fut extrêmement gracieux et affable. Il s’excusa avec beaucoup d’instance d’un malentendu qui m’avait fait ne pas être reçu l’autre jour lorsque je me présentai chez lui pour le voir ainsi que sa femme, et me fit promettre d’y retourner ce soir. Il me dit enfin les choses les plus obligeantes. Abordant enfin, non sans quelque embarras la question principale, et l’objet de ma lettre, il me dit que les volontés de ma tante, à mon sujet étaient exprimées d’une manière formelle dans une lettre déposée entre les mains d’une tierce personne, et avec injonction d’en faire usage au besoin ; qu’il ne pouvait donc point contrevenir à des volontés qu’il devait respecter ; mais que lui, comme parent, et puisque je réclamais un service, il se ferait un plaisir et un devoir de m’être utile ; que je pouvais compter sur lui, et que je trouverai en lui et en madame Girardin, deux personnes de plus qui s’estimeraient heureuses d’être comptées au nombre de celles qui me portaient intérêt. Il ajouta que la position dans laquelle je m’étais placé vis-à-vis de lui par ma manière d’agir, lui en faisait en quelque sorte une obligation /3/ qu’il eut été plus dans ses intérêts que j’eusse agi autrement que je ne l’avais fait. Qu’il regrettait de ne pouvoir réaliser immédiatement ses intentions, mais que les charges et les frais considérables de la succession, lui causaient même quelque embarras pour le moment ; mais qu’aussitôt que la liquidation serait opérée, il me prouverait qu’il ne me faisait pas une vaine promesse. Du reste il ne s’expliqua ni sur le chiffre, ni sur le mode de service. Sera-ce à titre de prêt, d’avance ou de don, c’est ce que je ne sais pas ; mais sa manière de s’expliquer semblerait annoncer qu’il ne voudrait pas être trop parcimonieux. Je crois que s’il eut voulu se débarrasser de moi avec une misérable somme, il eût pu le faire de suite. Peut-être ce soir sera-t-il plus explicite, dans la visite que je lui ferai. Patience donc ; si je n’ai pas encore le positif, j’ai au moins des espérances qui me paraissent assez fondées.
Je suis bien aise d’apprendre que les opérations de la banque marchent assez bien. Quant à la dame aux échantillons, il serait sans doute fâcheux que l’affaire ne se fit pas ; mais il y aurait de graves inconvénients à vendre chez elle, comme elle l’entendait. On doit exiger le dépôt des échantillons, et tenir l’adresse du vendeur secrète. Il ne faut la donner à l’acheteur qu’à bonne enseigne et dans des cas exceptionnels. À l’égard de la commission, il faut exiger 5 pour cent sur le prix de la vente, et retenir sur le paiement.
N’ayant rien autre chose à te mander, je termine ma lettre en te chargeant de témoigner à tous nos amis combien je suis sensible à leur intérêt ; quoique je n’en fasse pas la nomenclature tu n’en oublieras aucun. Embrasse bien surtout ma petite Louise dont l’écriture m’a fait beaucoup de plaisir.
Embrasse bien mon oncle pour moi, et dis-lui que je croyais d’après ta lettre que le tiers arbitre avait fait son rapport, et que la séance à laquelle j’étais convoqué était pour en entendre la lecture. Je conçois que dans l’état des choses, il soit difficile de rien préjuger.
Je ne t’engage pas à me répondre parce qu’il est plus que probable que ta lettre ne me trouverait plus à Lyon. Je t’écrirai pour t’annoncer mon arrivée. Quant à mes finances je pense que j’aurai assez pour tout, ma dépense ici étant fort peu de chose.
/4/ Adieu ma bonne Amélie, continue à te soigner et surtout ne fais pas d’imprudence, qui puisse compromettre le mieux que tu éprouves. Quant à moi je vais beaucoup mieux aussi ; l’inflammation des gencives est à peu près dissipée ; et je souffre peu et accidentellement.
Ton bien affectionné.
HLDR.
/5/ J’ai, par inadvertance, laissé passer l’heure et la poste, de sorte que lorsque je me suis présenté pour mettre ma lettre il était trop tard, je suis donc forcé de retarder d’un jour, ce dont je suis bien fâché, car on n’apprend jamais trop tôt quelque chose de bon. Rien de nouveau depuis hier, sinon que je suis allé dans la soirée faire visite à M. et Mme Girardin. Il y avait du monde de sorte qu’on n’a causé que de choses étrangères. Ils ont été très bien. Mme Girardin est une petite femme à figure chiffonnée, assez froide et qui m’a l’air d’affecter un profond sentiment de tristesse. Sa sœur au contraire est beaucoup mieux, très gaie, et beaucoup plus aimable. Ils partent tous ce matin pour faire un voyage dans le midi d’une dizaine de jours, pour se remettre de leurs émotions pénibles. M. Quinson part aussi aujourd’hui pour Bourg où il restera la semaine. Voilà donc cette affaire terminée jusqu’à présent.
/6/ J’ai eu l’idée de voir s’il serait possible d’avoir à Paris un dépôt de soieries ou de schals ; je regrette de ne pas y avoir songé plus tôt cela m’aurait fait gagner du temps. Du reste je saurai promptement si cela se peut, et dans tous les cas mon séjour ici ne peut être long.
[161] | 16/08/1841 | Carta de Hypolite Rivail para Amélie Boudet |
[116] | 20/08/1841 | Carta de Allan Kardec para Amélie Gabrielle Boudet |
[230] | 20/08/1841 | Carta de Allan Kardec para Amélie-Gabrielle Boudet |
[227] | 09/10/1841 | Carta de Allan Kardec para Amélie Gabrielle Boudet |
[162] | 12/10/1841 | Carta de Hypolite Rivail para Amélie Boudet |
[163] | 21/06/1842 | Carta de Hypolite Rivail para Amélie Boudet |