Manuscrito
[Carimbo] Lyon, 16 agosto [ileg.]
]Senhor Rivail[
Senhora
Senhora Rivail
Rua Tiquetonne, no 10
Paris
Segunda-feira, 16 de agosto.
Minha querida Amélie,
Escrevo-te como te anunciei em minha carta de ontem, e embora, como bem imaginas, não haja nada de conclusivo no que tenho a te dizer, o caso é importante demais, para economizar em mais uma carta; presumo bem tua impaciência em saber os mínimos detalhes.
Apresentei-me ontem, no horário marcado, no salão da senhora Mathevot; expressei meus cumprimentos ao senhor Girardin, dizendo-lhe que agradecia o convite que ele me fizera, e lhe disse que eu me havia proposto a vê-lo para pedir, como parente mais próximo, o lugar que eu devia ocupar no funeral. Ele me recebeu com toda a cortesia que se espera nessas circunstâncias; conversei algum tempo com ele sobre a senhora Mathevot, de sua doença etc., mas não de assuntos materiais. Na saída do enterro, ele me chamou para ir com ele na dianteira, e a cerimônia foi assim concluída, sem trocarmos outras palavras. As exéquias foram mais que simples, de acordo com a vontade da falecida; três sacerdotes acompanharam o corpo, que foi levado à igreja, onde somente algumas preces foram proferidas, mas sem missa, e de lá ao cemitério, situado sobre a montanha a mais de uma légua; o trajeto foi muito longo, e sobretudo muito penoso; sob calor escaldante, eu temia muito passar mal por causa do sol. O senhor Favre-Gilly, advogado, amigo da senhora Mathevot, leu diante do túmulo um pequeno discurso em que destacou a inesgotável bondade da senhora Mathevot e todas as qualidades que ela tinha ou não tinha. Na volta, a caminho de casa, o senhor Girardin me cumprimentou de uma forma especial e me perguntou se eu ainda ficaria alguns dias em Lyon; dada a minha resposta afirmativa, ele disse que teria a honra de me ver. Durante todo esse tempo, que foi bem longo, considerando-se a distância, conservei uma postura digna, grave e própria, sem afetação. Eu soube que isso foi notado e julgado como tal.
Assim que voltei, fui ver o senhor <Quinton> para inteirá-lo do que havia acontecido; ele fornece a esse negócio uma colaboração e um interesse que muito me deixam contente. Se eu for bem-sucedido, deverei uma parte disso a sua prudência e a seus bons conselhos.
Ele pensou que o momento era oportuno para sondar as disposições do senhor Girardin; mas acrescentou que era preciso fazê-lo com extremo cuidado, e principalmente evitar tudo o que, de alguma forma, pudesse ofender seu amor próprio. Vou ver esta noite, ele me disse, o senhor Laborie, amigo íntimo do senhor Girardin, que o vê todos os dias e que tem sobre ele certa influência; é o homem mais bem colocado para apoiar o senhor, ele acrescentou. Amanhã, às 8 horas, relatarei ao senhor a minha tentativa. De fato, esta manhã ele veio e me disse que o senhor Laborie aprovava inteiramente a ideia dessa reparação, que ela era justa e que, se estivesse no lugar do senhor Girardin, julgaria ter a obrigação de fazê-la, por honra. Ele também disse que, conhecendo o caráter suscetível do senhor Girardin, não seria apropriado provocá-lo bruscamente a respeito desse assunto; seria melhor que isso partisse dele mesmo, e que para tanto seria preciso aproveitar uma oportunidade para atraí-lo ao tema e lhe fazer nascer a ideia; assim, ele se encarregaria disso com mais boa vontade, tal era sua convicção.
O senhor <Quinton> me incumbiu de prevenir o senhor Girardin, fazendo-lhe imediatamente uma visita, na qual eu teria o cuidado de lisonjeá-lo muito, de lhe dizer que a senhora Mathevot não podia ter feito escolha melhor, de lhe falar da relação que havia existido entre mim e ela, do motivo de seu afastamento etc., que não deixaria de informar em detalhes o senhor Laborie, que aproveitaria essa circunstância para lhe suscitar a ideia de um sentimento de justiça a meu respeito, [...] espírito de justiça mesmo, seja para evitar que no [...] não se suspeitava por ter querido despojar [...]
De fato, fui à casa dele, onde fiquei bastante [...] creio que cumpri adequadamente meu papel [...] não vou relatar nossa conversa, que seria muito [...] mas na qual tive o cuidado de nada dizer que pudesse [...] muito pelo contrário. Ele me disse que mantinha essencialmente [...] eu estivesse presente na retirada dos selos; eu lhe respondi [...] se ele o exigia; mas que eu via minha <presença> [...] como inútil, declarando-lhe que eu tinha toda confiança nele, e o que seria feito diante dele eu veria como sendo feito diante de mim mesmo. Em seguida, nós nos despedimos. Eis onde me encontro; vês que não avancei muito; no entanto, tenho alguma esperança. Aconselho-te a consultar imediatamente; estando bem informado do pensamento do senhor Girardin, creio que poderemos vê-lo facilmente por meu intermédio. É um homem aparentemente da minha idade, aliás, mais jovem, um pouco maior, esguio, branco, de uma fisionomia elegante, cabelos curtos, sem barba nem suíças. Aparenta uma dignidade sem afetação, maneiras de um homem da sociedade. Responde-me logo depois do que vier a acontecer; embora, daqui até lá, eu provavelmente tenha novidades, será vantajoso, em caso contrário, saber o que se pensa.
Adeus, minha boa Amélie.
Mantém ainda a esperança e crê em mim sempre.
Com muito afeto,
H.L.D.R.





[Cachet] Lyon 16 août [ilis.]
]M.r Rivail[
Madame
Madame Rivail
Rue Tiquetonne, no 10
Paris
Lundi 16 août.
Ma chère Amélie,
Je t’écris ainsi que je te l’ai annoncé par ma lettre d’hier, et quoique, comme tu le penses bien, il ne peut y avoir rien de concluant dans ce que j’ai à te dire, l’affaire est trop importante, pour regarder à un port de lettre ; je conçois trop ton impatience de savoir les moindres particularités.
Je me suis présenté hier à l’heure dite dans le salon de Mad.me Mathevot ; j’ai présenté mes civilités à M.r Girardin en lui disant que je le remerciais de l’invitation qu’il m’avait fait donner, et lui dis que je m’étais proposé de le voir pour réclamer en ma qualité de plus proche parent la place que je devais occuper au convoi. Il me reçut avec toute la politesse convenable en pareille circonstance ; je causai quelque temps avec lui de M.e Mathevot, de sa maladie &c., mais nullement d’affaires d’intérêts. À la sortie du convoi il m’invita à me placer à la tête avec lui, et la cérémonie s’accomplit ainsi, sans échanger d’autres paroles. Les obsèques furent plus que simples, selon les intentions de la défunte ; 3 prêtres accompagnaient le corps, qui fut porté à l’église où quelques prières seulement furent dites, mais sans messe, et de là au cimetière qui est placé sur la montagne à plus d’une lieue ; le trajet fut très long, et surtout très pénible ; la chaleur accablante, et je craignais beaucoup d’attraper un coup de soleil. M.r Favre-Gilly avocat, ami de M.e Mathevot lut sur la tombe un petit discours dans lequel il fit ressortir l’inépuisable bonté de M.e Mathevot et toutes les qualités qu’elle avait ou n’avait pas. Au retour, M.r Girardin en rentrant chez lui me salua d’une manière particulière, et me demanda si j’étais encore pour quelques jours à Lyon ; sur ma réponse affirmative, il m’annonça qu’il aurait l’honneur de me voir. J’ai conservé pendant tout ce temps qui a été très long, vu l’éloignement, un maintien digne, grave et convenable sans affectation. J’ai su qu’il a été remarqué et jugé comme tel.
Aussitôt mon retour je suis allé voir M.r <Quinton> pour lui rendre compte de ce qui s’était passé ; il apporte dans cette affaire une obligeance et un intérêt dont je ne puis trop me louer. Si je réussis, je devrai bien quelque chose à sa prudence et à ses bons conseils.
Il pensa que le moment était opportun de faire sonder M.r Gilardin sur ses dispositions ; mais il ajouta qu’il fallait le faire avec des ménagements extrêmes, et surtout éviter tout ce qui pourrait froisser en quoique ce soit son amour propre. J’irai voir ce soir, me dit-il, M.r Laborie, ami intime de M.r Gilardin qui le voit tous les jours, et qui a sur lui une certaine influence ; c’est, ajouta-t-il, l’homme le mieux placé pour vous servir. Demain à 8 h j’irai vous rendre compte de ma démarche. Ce matin en effet il est venu, et m’a dit que M.r Laborie approuvait entièrement l’idée de cette réparation, qu’elle était juste, et que si lui était à la place de M.r Gilardin, il se croirait d’honneur obligé de la faire. Il ajouta que connaissant le caractère susceptible de M.r Gilardin, il ne serait pas convenable d’aller de but en blanc le provoquer sur ce chapitre ; qu’il vaudrait mieux que cela vint de lui même, et que pour cela il fallait saisir une occasion favorable pour l’y amener et lui en faire naître l’idée et qu’il s’en chargerait d’autant plus volontiers que telle était sa conviction.
M.r <Quinton> m’engagea à prévenir M.r Gilardin en lui faisant immédiatement une visite, dans laquelle j’aurais soin de le flatter beaucoup, de lui dire que M.me Mathevot ne pouvait faire un meilleur choix, de lui parler du rapport qui avait existé entre elle et moi, du motif de son éloignement &c., qu’il ne manquerait pas d’en rendre compte en détail à M.r Laborie, qui profiterait de cette circonstance pour lui ouvrir l’idée de sentiments justice à mon égard, [...] esprit de justice même, soit pour éviter que dans le [...] on ne le soupçonnât d’avoir voulu dépouiller la fai[...].
Je suis en effet allé chez lui, où je suis resté assez [...] je crois m’être acquitté convenablement de mon rôle [...] rapporterai pas notre conversation qui serait trop [...] mais dans laquelle j’ai eu soin de rien dire qui put [...] bien au contraire. Il m’a dit qu’il tenait <essentiellement> [...] je fusse présent à la levée des scellés ; je lui ai <répondu> [...] s’il l’exigeait ; mais que je regardais ma <présence> [...] comme inutile, lui déclarant que j’avais en lui toute confiance, et que ce qui serait fait devant lui, je le regarderais comme étant fait devant moi-même. Nous nous sommes quittés là-dessus. Voilà où j’en suis ; tu vois que je ne suis pas beaucoup plus avancé ; pourtant j’ai quelque espoir. Je t’engage à consulter immédiatement ; étant bien pénétré de la pensée de M.r Gilardin on pourra je crois le voir facilement par mon intermédiaire. C’est un homme à peu près de mon âge plutôt plus jeune, un peu plus grand, mince, blanc, d’une figure distinguée, cheveux courts, sans barbe, ni favoris. Air de dignité sans affectation, manières d’un homme du monde. Réponds moi de suite ce qu’on aura vu ; quoique d’ici là j’aurai probablement du nouveau, il me sera utile, en cas contraire, de savoir ce qu’on pense.
Adieu ma bonne Amélie ;
Conserve encore de l’espoir et crois moi toujours,
Ton bien affectionné,
H.L.D.R.
[159] | 08/10/1834 | Carta de Hypolite Rivail para Amélie Boudet |
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