Manuscrito

Impresso [14/09/1865]

]Davenport

Petit Journal

14 de setembro de 1865[

OS IRMÃOS DAVENPORT E O SENHOR ROBIN.

A polêmica levantada pelos jornais por causa dos fenômenos supostamente sobrenaturais manifestados pelos irmãos Davenport havia atraído à sala Herz, ontem à noite, um grande número de curiosos. Queríamos ver e analisar as experiências e termos certeza da veracidade das explicações naturais dadas pelo senhor Robin.

A sala estava incrédula, não era hostil; infelizmente, a descrença se mostrou ruidosa e, à medida que o sobrenatural se dissipava, graças à perspicácia de algumas pessoas, o barulho ficou mais alto...

Retomemos, porém, a história desde o início da sessão.

Por volta das 20h30, uma orquestra, ou melhor, um quarteto tocava uma espécie de abertura; ele foi obrigado a parar: não era essa a música que se aguardava.

Nesse momento, o senhor Boudet, um jornalista político que havia gentilmente servido como intérprete para os irmãos Davenport, veio anunciar ao público que a sessão estava prestes a começar e pediu que fosse escolhida uma comissão para examinar o armário e supervisionar as experiências.

O senhor Henri de Pène, editor-chefe da Gazette des Étrangers, e o senhor visconde Clary aceitaram a missão e subiram ao palco.

Os irmãos Davenport e seu parceiro, o senhor Fay, apresentaram-se e foram aplaudidos.

No palco há um armário levantado sobre suportes. Ele é bastante profundo; tem três painéis que abrem em frente ao público; contém um pandeiro, um violão, um megafone, um sino e outros instrumentos barulhentos.

Os irmãos Davenport entraram no armário, um de frente para o outro, e se amarraram.

Um espectador, insatisfeito com a ajuda dos voluntários, ofereceu seus serviços, declarando que poderia amarrar as mãos e os pés dos irmãos Davenport tão bem que seria impossível para eles se livrarem das cordas sem a intervenção de terceiros ou sem a utilização de um sistema desconhecido do público.

O senhor Duchemin — esse é o nome do habilidoso manipulador de cordas — amarrou os dois irmãos, e as portas do armário foram fechadas.

Dizia-se que alguns segundos eram suficientes para que os fenômenos ocorressem.

Cinco minutos se passaram; o público não viu nem ouviu nada; as vaias começaram a chover de todos os lados. Decididamente, o senhor Duchemin não estava se gabando.

Finalmente um dos irmãos, apenas um, saiu do armário com suas mãos e pés livres.

As portas do armário foram novamente fechadas, e demorou mais cinco minutos para que o segundo se soltasse.

Os irmãos Davenport anunciaram que eles próprios iriam se amarrar e fazer suas experiências.

Negligenciamos propositalmente as rumorosas manifestações da impaciência do público, que ainda esperava; mas a catástrofe era iminente.

De fato, quando estávamos prestes a ouvir o som dos címbalos, o toque do sino etc., um espectador, o senhor C…, engenheiro em Rouen, descobriu o truque usado pelos irmãos Davenport para se desprenderem; ele foi abrir uma das portas e mostrou que a travessa de madeira à qual todas as cordas estavam presas tinha sido removida.

É bastante compreensível que, ao remover o ponto de fixação, as cordas, não mais apertadas, se distendem e deixam os pés e as mãos livres para que os supostos médiuns peguem os instrumentos e façam um barulho estrondoso. Quando termina a algazarra, os irmãos voltam aos seus lugares e amarram os pés e as mãos como antes. Isto é o que o senhor Robin havia explicado.

Nesse momento, o tumulto foi terrível na sala Herz; os irmãos Davenport desapareceram; o público subiu ao palco, examinando impiedosamente o armário agora desencantado.

A polícia teve que intervir; o senhor Bernard Derosne, a quem os irmãos Davenport haviam sido encaminhados e que os tinha patrocinado em Paris, disse que os ingressos retirados no escritório seriam reembolsados.

E depois de meia hora de discussões, reclamações, gritos e piadas, a sala foi evacuada e o dinheiro, devolvido.

A sessão particular, que ocorreria após a sessão pública, não foi realizada.

Agora uma palavra sobre a apresentação de segunda-feira no teatro Robin. Baseamo-nos no jornal L’Entr’acte.

Na segunda-feira, o Teatro Robin foi literalmente invadido de manhã cedo por uma multidão após o anúncio das experiências no armário misterioso.

Toda Paris está ciente da polêmica entre os irmãos Davenport e o famoso físico; toda Paris leu com grande interesse as respostas espirituosas de Robin ao desafio dos espíritas americanos.

Um armário foi montado na frente do público: o assistente de Robin, seu médium, foi fortemente amarrado com uma corda de 14 metros e depois trancado. Imediatamente ouviu-se um barulho terrível. Quando a porta foi aberta, o médium foi encontrado atado como antes. Qual era esse mistério? Não havia mistério! O assistente do físico recomeçou suas experiências, com a porta aberta, e mostrou que os espíritos não participam do jogo; que as famosas e tão comentadas aparições só existem em imaginações demasiado crédulas e ingênuas, resumindo-se a engenhosos truques de habilidade que Robin compreendeu à primeira vista.

Seria difícil ter uma ideia do sucesso de Robin e da hilaridade causada por suas alusões espirituais.

Passamos agora a palavra ao nosso colaborador, o senhor Pierre Véron, que tira conclusões da sessão de ontem à noite.

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]Davenport

Petit journal

14 7bre 1865[

LES FRÈRES DAVENPORT ET M. ROBIN.

La polémique soulevée par les journaux à l’occasion de phénomènes prétendus surnaturels manifestés par les frères Davenport, avait attiré, hier soir, un grand nombre de curieux à la salle Herz. On voulait voir, et voir de près, les expériences, et s’assurer de la vérité des explications naturelles données par M. Robin.

La salle était incrédule, elle n’était pas hostile ; malheureusement, l’incrédulité s’est montré bruyante, et à mesure que le surnaturel s’évanouissait, grâce à la perspicacité de certaines personnes, le bruit devenait plus fort…

Mais prenons notre récit dès le début de la séance.

A huit heures et demie environ, un orchestre, ou plutôt un quatuor, a joué une sorte d’ouverture ; il a été obligé de cesser : ce n’était pas de la musique que l’on voulait.

A ce moment, M. Boudet, un journaliste politique qui avait bien voulu servir d’interprète aux frères Davenport, est venu annoncer au public que la séance allait commencer, et a demandé qu’une commission fût choisie pour examiner l’armoire et surveiller les expériences.

M. Henri de Pène, rédacteur en chef de la Gazette des Étrangers, et M. le vicomte Clary ont accepté cette mission et sont montés sur la scène.

Les frères Davenport et M. Fay, leur associé, se sont présentés et ont été applaudis.

Sur la scène se trouve une armoire élevée sur des supports. Cette armoire est assez profonde ; elle a trois panneaux qui s’ouvrent devant le public ; elle contient un tambour de basque, une guitare, un porte-voix, une clochette, et d’autres instruments de tapage.

Les frères Davenport se sont placés dans l’armoire, vis-à-vis l’une de l’autre, et se sont fait attacher.

Un spectateur, mécontent de la manière de faire des commissaires bénévoles, a offert ses services, déclarant qu’il saurait si bien lier les mains et les pieds des frères Davenport, qu’il leur serait impossible de se débarrasser des cordes sans l’intervention d’une tierce personne ou l’emploi d’un système inconnu du public.

M. Duchemin, — c’est le nom de l’habile manieur de cordes, — a attaché les deux frères, et les portes de l’armoire ont été fermées.

On avait dit que quelques secondes suffisaient pour que les phénomènes se produisissent.

Cinq minutes se sont écoulées ; le public n’a rien vu ni rien entendu ; les quolibets ont commencé à pleuvoir de tous côtés. Décidément, M. Duchemin ne s’était pas vanté.

Enfin un des frères, un seul, est sorti de l’armoire les mains et pieds libres.

Les portes de l’armoire ont été refermées, et cinq minutes ont été de nouveau nécessaires pour que le second se soit détaché.

Les frères Davenport ont fait annoncer qu’ils allaient se lier eux-mêmes et faire leurs expériences.

Nous négligeons à dessein les marques bruyantes de l’impatience du public, qui a attendu encore ; mais la catastrophe était imminente.

En effet, au moment où nous allions entendre le bruit des cymbales, le tintement de la clochette, etc., un spectateur M. C…. ingénieur à Rouen, a découvert le truc qui sert aux frères Davenport à se détacher ; il est allé ouvrir l’une des portes et a montré que la traverse de bois à laquelle aboutissaient toutes les cordes était enlevée.

On comprend très bien qu’en retirant ce point d’attache les cordes, n’étant plus serrées, se distendent et laissent les pieds et les mains libres de telle sorte que les prétendus médiums prennent les instruments et font un tapage d’enfer. Quand le charivari est fini, ils se remettent en place et s’attachent les pieds et les mains comme devant. C’est ce que M. Robin avait expliqué.

A ce moment le tumulte a été effroyable dans la salle Herz ; les frères Davenport ont disparu ; le public a escaladé la scène, examinant sans ménagement l’armoire désormais désenchantée.

M. le commissaire de police a dû intervenir ; M. Bernard Derosne, à qui les frères Davenport avaient été adressés et qui les avait patronnés à Paris, a dit que les billets pris au bureau allaient être remboursés.

Et après une demi-heure de discussions, de réclamations, de cris et de plaisanteries, la salle a été évacuée et la recette rendue.

La séance particulière qui devait suivre la séance publique n’a pas eu lieu.

Un mot maintenant sur la représentation de lundi, au théâtre Robin. Nous l’empruntons à l’Entr’acte :

Lundi, le théâtre Robin a été de très bonne heure littéralement envahi par une foule que l’annonce des expériences de l’armoire mystérieuse avait attirée.

Tout Paris est au courant de la polémique survenue entre les frères Davenport et le célèbre physicien ; tout Paris a lu avec un vif intérêt les spirituelles réponses de Robin au défi des spirites américains.

Une armoire a été établie devant le public : le préparateur de Robin, son médium, a été attaché fortement avec une corde mesurant quatorze mètres, puis enfermé. Immédiatement s’est fait entendre un charivari épouvantable. Quand la porte a été ouverte, on a retrouvé le médium garrotté comme devant. Quel était donc ce mystère ? Il n'y avait pas de mystère ! L’aide du physicien a recommencé ses expériences, la porte ouverte, et a montré que les esprits ne se mettent nullement de la partie ; que les fameuses apparitions dont il est tant question n’existent que dans les imaginations trop crédules et trop naïves, et se résument en d’ingénieux tours d’adresse que Robin a saisis à première vue.

Il serait difficile de se faire une idée du succès de Robin et de l’hilarité que provoquaient ses spirituelles allusions.

Nous laissons maintenant la parole à notre collaborateur, M. Pierre Véron, qui tire les conclusions de la séance d’hier soir.

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