Manuscrito

Comunicação [04/06/1866]

Grupo do senhor Delanne.

Sessão de 4 de junho de 1866.

Médium: senhor Desliens.

Decididamente, o vento sopra em direção às coisas sérias; tal é a frase que vós ouvis repetir de vossos amigos, de vossos conhecidos, de qualquer pessoa que vós encontrais. Sentimos vagamente que os governos, as questões comerciais, políticas, científicas e morais estão vindo à luz; cada um se pergunta em vão o que sairá disso, mas não se pode duvidar de que estamos sobre um vulcão cujas mil bocas vão vomitar, ao mesmo tempo, ideias novas e velhas, antigos e novos sistemas filosóficos. A atmosfera moral é pesada, difícil; todos se sentem desconfortáveis; não estamos mais satisfeitos com o que temos e tememos entregar-nos a ensinamentos que ainda não conhecemos; tal é a cota comum das épocas de transição. Arremessados, sem força, sem energia, deixamo-nos levar pela corrente, sem lhe opor resistência, sem colaborar para o movimento, esperando tudo da Providência ou do acaso, essa providência de muitas pessoas! O que resultará de tudo isso? Muitos descontentes e, como sempre, poucos satisfeitos.

É de se notar que o espírito humano jamais admite de bom grado os benefícios que a ciência ou a natureza lhe trazem; somente se admitem por força os novos meios materiais de ação; é somente pela violência que as novas verdades surgem; ao menos, até aqui tem sido assim, não que fosse necessário sangue para as assentar solidamente, mas por causa do pouco avanço real daqueles que eram seus detentores. Acautelai-vos, espíritas, que não tenhamos um dia de vos dirigir a mesma repreensão; o fanatismo e o espírito de partido não deram ainda a sua última palavra. <Não sejais tolerantes como muitos outros, enquanto fordes os mais frágeis, prontos a esmagar os vossos adversários, tão logo tiverdes adquirido a supremacia.>

Tolerância e caridade para todos, tal é o vosso lema; que ele não seja a rubrica banal de uma nova seita, /2/ mas o símbolo de paz e de amor da crença universal.

Sede tolerantes com todos que vos combatem, mas, sobretudo, sede-o entre vós; não julgueis vosso condiscípulo que pensa diversamente de vós e não o condeneis antes de o terdes julgado, porque as crenças dele não estão sempre de acordo com as vossas, mas, sem preconceito, ide até ele e dizei-lhe: eu creio desse modo, contudo, se vossas ideias forem melhores que as minhas, eu as adotarei imediatamente. Eu não sou partidário de um sistema, eu me ligo sem absolutismo àquilo que acredito ser a verdade; se for esse um erro, eu o abandonarei sem lamentar. Fazei como eu, e não regozijemos nossos inimigos pelo espetáculo das nossas divisões; discutamos, é a discussão que faz brotar a luz.

Guardai-vos de encerrar em vosso seio as instruções que vos foram dadas. O ensinamento dos Espíritos é um fogo que consome aquele que pretende tê-lo somente para si, ao passo que é destinado a trazer um suave e vivo calor aos corações que o compartilham com aqueles que estão dele privados. - Não é bom que o homem esteja só, já foi dito com razão; é correto dizer também: não é bom que uma ideia esteja só e em somente um espírito; se é falsa, ela deve ser arrancada e queimada; se é verdadeira, que todos desfrutem dos benefícios que ela encerra.

Os mais diferentes sistemas são ditados por diferentes Espíritos para um mesmo problema moral; não vos assusteis com isso, a unidade se fará. Quem vos disse que tínheis a verdade? Quem vos disse que a tínheis completamente? O mais provável é que haja um retalho aqui e ali e, de todos os retalhos reunidos, brotará um conjunto admirável que constituirá a lei universal. - Trabalhai, portanto, em concerto, aceitai a opinião de Paulo e guardai-vos de rejeitar a de Pedro, mas rogai a cada um manifestar a sua opinião. Um homem, um Espírito se enganam; mas todos os homens, todos os Espíritos, têm grande probabilidade de não se enganarem.

Estudai, discuti, mas sede unidos sempre.

Moki.

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Groupe de Mr Delanne.

Séance du 4 Juin

1866.

Médium : M. Desliens.

Décidément le vent souffle aux choses sérieuses ; telle est la phrase que vous entendez répéter par vos amis, par vos connaissances, par tous les indifférents que vous rencontrez. On sent vaguement que les gouvernements, les affaires de Commerce, politiques, scientifiques et morales sont en enfantement ; chacun se demande vainement ce qu’il en sortira, mais l’on ne peut douter que l’on ne soit sur un volcan dont les mille bouches vomiront à la fois, idées nouvelles et vieillies, anciens et nouveaux systèmes philosophiques. L’air moral est lourd, pesant ; chacun se sent mal à l’aise ; on n’est plus satisfait de ce que l’on possède et on craint de se livrer à des enseignements que l’on ne connaît pas encore ; c’est le lot ordinaire des époques de transition. Balloté, sans force, sans énergie, on se laisse emporter par le courant, sans y résister, sans aider au mouvement, attendant tout de la Providence ou du <hazard>, cette providence d’un grand nombre ! Que resultera-t-il de tout cela ? Bien des mécontents et comme toujours, peu de satisfaits.

Il est à remarquer que l’esprit humain n’accepte jamais volontiers les bienfaits que la science ou la nature lui apportent ; on n’admet que par force les nouveaux moyens d’action matériels ; ce n’est que par la violence que les vérités nouvelles se font jour ; du moins, jusqu’ici, il en a été ainsi, non qu’il fallût du sang pour les asseoir solidement, mais en raison du peu d’avancement véritable de ceux qui s’en faisaient les détenteurs. Prenez garde, spirites, que l’on n’ait un jour, à vous adresser le même reproche ; le fanatisme et l’esprit de parti n’ont pas encore dit leur dernier mot. Ne soyez pas tolérants comme tant d’autres, tant que vous êtes les plus faibles, prêts à écraser vos adversaires, dès que vous aurez acquis la suprématie.

Tolérance et charité pour tous, telle est votre devise, qu’elle ne soit pas la rubrique banale d’une nouvelle secte, /2/ mais le symbole de paix et d’amour de la croyance universelle.

Soyez tolérants pour tous ceux qui vous combattent, mais surtout, soyez-le entre vous ; ne jugez pas votre condisciple qui pense autrement que vous et ne le condamnez pas après l’avoir jugé parce que ses croyances ne sont pas constamment d’accord avec les vôtres, mais sans parti pris, allez à lui et dites-lui : je crois ainsi, mais cependant, si vos idées étaient meilleures que les miennes, sur l’heure je les adopterais. Je ne fais pas le partisan d’un système, je me rallie sans absolutisme à ce que je crois la vérité ; si c’est l’erreur, je l’abandonnerai sans regret. Faites comme moi, et ne réjouissons pas nos ennemis par le spectacle de nos divisions ; discutons, c’est de la discussion que jaillit la lumière.

Gardez-vous de renfermer en votre sein les instructions qui vous ont été données. L’enseignement des Esprits est un feu qui consume celui qui prétend le posséder à lui seul tandis qu’il est destiné à porter une douce et vive chaleur dans les cœurs qui le partagent avec ceux qui en sont privés. - Il n’est pas bon que l’homme soit seul a-t-on dit avec raison ; il est juste de dire aussi ; il n’est pas bon qu’une idée soit seule et dans un seul Esprit ; si elle est fausse, elle doit être arrachée et brûlée ; si elle est vraie, que tous jouissent des bienfaits qu’elle renferme.

Les systèmes les plus différents sont dictés par différents Esprits sur un même problème moral ; ne vous en effrayez pas, l’unité se fera. Qui vous dit que vous possédiez la vérité ? Qui vous dit que vous la possédiez toute entière ? Ce qu’il y a de plus probable, c’est qu’il y en a un lambeau ici et là et de tous ces lambeaux réunis, jaillira, au moment opportun, l’ensemble admirable qui constituera la loi universelle. - Travaillez donc de concert, admettez l’avis de Paul et gardez-vous de repousser celui de Pierre, mais priez chacun de manifester son opinion. Un homme, un Esprit se trompent ; mais, tous les hommes, tous les Esprits ont de grandes chances de probabilités pour ne pas se tromper.

Étudiez, discutez, mais soyez unis toujours.

Moki.

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