Manuscrito
/1/ Paris, 14 de setembro de 1863.
Meu bom amigo, recebi tua carta na sexta-feira e pretendia te responder no sábado, mas não tinha ainda a comunicação do senhor d’Ambel; ele se ofereceu para fazê-la, mas preferi que ele a preparasse após um período para reflexão. Chego da avenida de Ségur; está tudo bem, a locatária Valler pagou o aluguel e começa a se mudar hoje. A senhora Henry veio jantar comigo; o tempo estava maravilhoso, o que esta manhã me fez lamentar ter deixado o campo; este clima bom me encanta por tua causa e estou muito feliz por tua saúde, que está se recuperando totalmente. Coloquei cerca de 100 sacos em nosso jardim; vês que trabalho por ti, para que comas uvas. Também colhi parte das peras. Fui levar a senhora Henry e comecei minha noite às 9 horas, que durou até as 11h30, quando a senhorita Marie voltou para casa.
Esqueci de te dizer que recebeste uma carta do senhor Demeure, que perguntava se ele te seria útil em Lyon, aonde ele vai; ele não recebeu resposta.
Recebi da gráfica dois exemplares de agosto, sem aviso prévio.
Quando me aprontava, na quinta-feira, para ir à casa da senhora Delglande, chegou uma dama do México, que tinha uma grande vontade de te conhecer; todos os seus filhos são médiuns, ela comprou tudo o que há de interessante, das coleções e das assinaturas de 63 e 64, o que totalizou 86 francos. Foi um bom dia, mas desde então não fiz absolutamente nada.
O jantar da senhora Delglande tinha como convidados o Efemet, a família Thevenot, o senhor Rossey e sua esposa e um jovem que provavelmente será um marido. /2/ É um leiloeiro que agrada enormemente os pais; ele não tem pai, nem mãe, nem irmão, nem irmã; de fortuna e boa saúde. Marie está um pouco relutante para dizer sim, mas frequentemente ele envia belíssimas flores, que são aceitas, o que me parece um começo de compromisso; ele está bem fisicamente, quanto ao resto, não podemos julgar em tão pouco tempo. Ele a havia pedido há dois anos, época em que morava com eles.
Informaram-me da morte da mãe da senhora Taigny.
Vi o senhor Didier, que foi ver a lavadeira d’Étrépilly, e voltou encantado com a pobre velha, cuja aparência reflete tudo o que se pode achar de vulgar, mas cuja conversa é idêntica à de suas cartas. Ela tem, em seu jardim, um berço à beira de um pequeno riacho, aonde ela conduziu o senhor Didier; é aí, diz ela, o local onde venho meditar e me recolher. Ela tem três filhos, todos professores. Foi preciso muita força de vontade para poder, em sua posição, dar-lhes educação; seu marido é carpinteiro. O senhor Didier se propõe a publicar seu manuscrito.
Não sei o nome dessa senhora de Bourg. Ele veio do mundo nesse momento, e eu sequer tive tempo para lhe perguntar como é que ela sabia que tu eras deste país; mas ela voltará, ela ainda não acredita e é, porém, um espírito forte, que certamente chegará. De resto, Paris progride de maneira notável; o senhor d’Ambel te contará sobre a conversa da senhora Dauban, que /3/ garante que Louis Desnoyers se rendeu, na sequência de uma comunicação em que ele havia evocado mentalmente um garotinho de três anos e meio. Após uma resposta do menino, ele pede que lhe conte algumas circunstâncias de sua vida; ele respondeu: tu te lembras da tua tristeza quando, um dia, um rato mordeu meu nariz em meu berço; a que Desnoyers respondeu: que o comitente venha pessoalmente dizer que o espiritismo é uma bobagem. Isto se passou na casa da senhorita Rodière.
O senhor Pathey, voltando de viagem, encontrou em seu vagão um padre que é muito favorável à doutrina espírita. Também é citado o padre de Saint-Ouen, que aprova nossas crenças.
Um cônego de Turim foi à casa do senhor Delanne, onde sempre há muitas reuniões; o casal Dozon é muito assíduo no local; na última vez, ela teve uma bela comunicação de Lamennais. Esse cônego fez uma evocação em latim e outra em polonês, ambas mentalmente. A senhora Delanne respondeu nas duas línguas. Ao sair, o senhor Delanne perguntou seu nome (ele estava em [ileg.]), ele deu um cartão e, depois, por remorso, tirou outro, dizendo que era seu o nome, e que não queria enganá-lo. Ele voltou lá uma segunda vez, e disse então que tinha ido visitar uma importante personalidade eclesiástica, e essa pessoa distinta lhe havia contado um fato muito importante; ele tinha trancado, em um quarto escuro, um jovem de 16 anos, médium e desenhista; esse jovem, depois de 20 minutos, bateu à porta para que a abríssemos, dizendo que sua mão já havia parado; olhamos o que ele havia feito, e era um desenho de Cristo e outro da Virgem. /4/ Os desenhos foram dados a um desenhista, para que fizesse uma cópia; este demorou 45 minutos para fazê-las muito imperfeitamente. Acreditamos que seja o arcebispo de Paris. Tu vês que aqui acontecem fatos muito importantes, que são convincentes a todos que participam ou que ouvem sobre eles.
A senhora Daubon reuniu, em sua casa, vários espíritas para festejar São Luís; ela deve me dar sua comunicação, que diz ser muito bela; ela fez vários novos adeptos importantes. O senhor d’Ambel me disse que ele não tinha espaço para te dar esses detalhes. Ele te fala do pobre Costeau, cuja esposa ficará muito infeliz, pois ele morreu no hospital. Pedi para dizerem à mulher para ela vir me ver[;] se ela precisar, dar-lhe-ei 10 francos, enquanto espero uma assinatura. Penso que será necessário.
Ontem vi Tailleur; ele permanece na mesma posição. Ele luta, o pobre homem! Fala-se muito de desapropriação, que começou a ser feita nas duas extremidades da rua; será preciso derrubar o seu bloco para terminar o percurso. Ele espera um pouco para janeiro. Ele pouco vê a senhora de Fort, é ainda uma tristeza para ele.
O padre Marouzeau publicou sua brochura; foi impressa pelo senhor Vézy pai; parece que ele ataca o presidente e os médiuns, pobre homem.
O senhor Percheron te enviou um caderno de comunicações. Ele pergunta o que pensamos dele. O senhor Canu o lê nesse momento, e em seguida lhe responderemos.
Ele veio no sábado, da parte do senhor Sardou pai, um membro da academia, chefe de instituição em L’Aigle, que te trouxe um livro datado de dois séculos atrás.
/1/ {Adeus, meu bom amigo. Estou ansiosa por te beijar e ver cessar minha viuvez. Mais uma semana, um domingo e começarei a contar os dias; eu remarco com os visitantes para a primeira semana de outubro, para que tu possas ficar em Ségur; a primeira sexta-feira é dia 2 de outubro, sessão particular; o senhor Levent vem fazer uma visita e me pede para convidá-los para jantar, mas não farei isso.}
/2/ {Eu pretendia responder à minha cara senhora Foulon, que me escreveu; será a primeira vez; dá a ela meus cumprimentos, recomenda que ela se cuide; diz que lhe agradeço por cuidar de ti, assim como à senhora <Tombarel/Lombard>, a quem eu cumprimento, assim como à sua filha.}
/3/ {O senhor d’Ambel me pediu 100 francos emprestados, os quais lhe darei; ele devolveu os 60 francos. Todos te mandam saudações. Os Deglande foram muito gentis, sobretudo o senhor, eles me visitaram. Recebi também uma carta da senhora Barboule de la Motte, que pede que rezemos a uma pessoa pela qual ela tem afeição; eu lhe responderei no teu retorno.}
/4/ {Está impresso em inglês; eu o dei ao senhor Canu; esse senhor diz que há fatos muito curiosos, perfeitamente concordantes com os fatos espíritas; dei a ele a pequena brochura e um número da Revista. Acabo de ver o senhor <Rulle/Ril>, que não recebeu seu exemplar; não sei se havia sido endereçado a Bordeaux.}




/1/ Paris le 14 7bre 1863.
Mon bon ami J’ai reçu ta lettre vendredi et je comptais te répondre samedi, mais je n’avais pas encore la com.on de M.r d’Ambel, il m’a bien proposé de la faire mais j’ai mieux aimé qu’il la fît à tête reposée. J’arrive de l’avenue de Ségur ; tout va bien, la loc.re Valler a payé son terme et commence à déménager aujourd’hui. M.de Henry est venue diner avec moi, il faisait un temps admirable, qui ce matin me donnait des regrets de quitter la campagne ; ce beau temps me charme pour toi & je suis bien heureuse que ta santé se remette tout à fait, j’ai mis à peu près 100 sacs dans notre jardin, tu vois que je travaille pour toi afin que tu manges du raisin. J’ai cueilli aussi une partie des poiriers. Je suis allée reconduire Mme Henry et j’ai commencé ma soirée à 9 h qui a duré jusqu’à 11 heures ½ ; heure où M.lle Marie est rentrée.
J’ai oublié de te dire que tu avais une lettre de M.r Demeure qui te demandait s’il pouvait t’être utile à Lyon où il allait ; on ne lui a pas répondu.
J’ai reçu de l’imprimerie 2 n.os d’août sans autre avis.
Au moment où je me préparais jeudi d’aller chez M.ade <Delglande> est arrivée une dame de Mexico, qui avait un grand désir de faire ta connaissance, tous ses enfants sont médiums, elle a acheté tout ce qu’il y a d’intéressant avec les collections et les ab.ts de 63 et 64, ce qui faisait 86 f. C’était une bonne journée mais depuis je n’ai absolument rien fait.
Le diner de M.de Deglande avait pour convives <l’Efemet> famille Thevenot, M.r Rossey et sa dame & un jeune homme qui probablement sera un mari. /2/ C’est un commiss.re priseur qui plait infiniment aux parents, il n’a ni père ni mère ni frère ni sœur ; de la fortune et un bon état ; Marie se fait un peu prier pour dire oui, mais il envoie souvent des fleurs très belles qu’on accepte, ce qui me semble un commencement d’engagement ; il est bien physiquement, quant au reste on n’en peut pas juger dans si peu de temps. Il l’avait demandée il y a deux ans, époque où il habitait chez eux.
Ils m’ont appris la mort de la mère de M.de Taigny.
J’ai vu M.r Didier qui est allé voir la blanchisseuse d’Étrépilly, il est revenu enchanté de cette pauvre vieille, dont l’apparence est tout ce qu’on peut trouver de vulgaire, mais dont la conversation est identique à ses lettres, elle a dans son jardin un berceau au bord d’une p.te rivière, où elle a conduit M.r Didier, c’est là, dit-elle où je viens méditer et me recueillir. Elle a trois fils qui sont tous trois instituteurs. Il a fallu de grands efforts de volonté pour pouvoir, dans sa position, leur donner de l’éducation ; son mari est couvreur. M.r Didier se propose de publier son manuscrit.
Je ne sais pas le nom de cette dame de Bourg. Il est venu du monde dans le moment et je n’ai pas même eu le temps de lui demander comment elle savait que tu étais de ce pays ; mais elle reviendra, elle ne croit pas encore & cependant c’est un esprit fort qui arrivera certainement ; du reste Paris progresse d’une manière remarquable, M.r d’Ambel te dira la conversation de M.de Dauban qui /3/ <qui> assure que Louis Desnoyers s’est rendu à la suite d’une communication où il avait évoqué mentalement un jeune enfant de 3 ans ½. Après une réponse de l’enfant, il lui demande de lui dire quelques circonstances de sa vie, il répondit : te rappelles-tu ton chagrin lorsqu’un jour un rat me mordit le nez dans mon berceau, à quoi Desnoyers répondit : que commettant vienne à présent me dire que le spiritisme est une bêtise. Ceci s’est passé chez M.elle Rodière.
M.r Pathey revenant de voyage a rencontré dans le wagon un curé qui est très partisan de la doctrine spirite. On cite aussi le curé de St Ouen qui approuve nos croyances.
Un chanoine de Turin est allé chez M.r Delanne où il y a toujours des réunions très nombreuses ; M.r et M.de Dozon y sont très assidus, la d.re fois elle a eu une belle com.on de Lamennais. Ce chanoine a fait une évocation en latin & 1 en polonais, toutes deux mentalement. M.de Delanne a répondu dans les deux langues. En sortant M.r Delanne lui a demandé son nom, (il était en [illis.]) il a donné une carte et puis par remords de conscience il en a tiré une autre disant que c’était son nom et qu’il ne voulait pas le tromper. Il y est retourné une seconde fois, et alors il a compté qu’il était allé visiter un haut personnage ecclésiastique, que ce haut personnage lui avait rapporté un fait très important ; il avait enfermé dans une chambre à la <brune> un jeune homme de 16 ans, médium dessinateur, ce jeune homme au bout de vingt minutes frappe pour qu’on lui ouvre, disant que sa main ne marchait plus ; on regarde ce qu’il a fait et c’était un dessin du Christ et 1 autre de la vierge. /4/ On a donné les deux dessins à un dessinateur pour en faire une copie, il y a passé trois quarts d’heures pour le faire très imparfaitement. On croit que c’est l’archevêque de Paris. Tu vois qu’il se passe ici des faits très importants qui amènent la conviction dans tous qui assistent ou qui en entendent parler.
M.de Daubon a réuni chez elle plusieurs spirites pour fêter S.t Louis, elle doit me donner sa <communi.ns> qu’elle dit fort belle, elle a fait plusieurs nouveaux adeptes très importants. M.r d’Ambel m’a dit qu’il n’avait pas la place de te donner ces détails. Il te parle de ce pauvre Costeau dont la femme va rester bien malheureuse car il est mort à l’hôpital. J’ai fait dire à la femme de venir me voir si elle en a besoin de lui donnerai 10f. en attendant qu’on fasse une souscription. Je pense que ce sera nécessaire.
J’ai vu hier Tailleur, il est toujours dans la même position. Il lutte le pauvre homme ! on parle beaucoup d’expropriation les deux extrémités de la rue sont commencées il faudra bien qu’on abatte son pâté de maison pour finir le parcours. Il espère un peu pour janvier. Il voit très peu M.de Fort, c’est encore un chagrin pour lui.
Le curé Marouzeau a publié sa brochure, elle a été brochée chez M.r Vézy père, il paraît qu’il prend à parti le président et les médiums, pauvre homme.
M.r Percheron t’a envoyé un cahier de comm.on. Il demande ce qu’on en pense. M.r Canu le lit dans ce moment, ensuite on lui répondra.
Il est venu samedi de la part de M.r Sardou père un membre de l’académie chef d’institution à Laigle qui t’a apporté un livre qui date de deux siècles.
/1/ {Adieu mon bon ami. Il me tarde bien de t’embrasser et de voir cesser mon veuvage. Encore une semaine un dimanche & je commencerai à compter les jours ; je renvoie les visiteurs à la 1ère semaine d’octobre parce que tu pourrais rester à Ségur ; le 1er vendredi est le 2 8bre séance particulière ; M.r Levent vient faire visite et m’engager à aller leur demander à diner mais je n’irai pas.}
/2/ {Je comptais mettre un mot pour ma bonne Mme Foulon qui m’a écrit ; ce sera pour la 1ère fois ; fais bien mes tendres amitiés, recommande-lui de se soigner à elle tout seule ; dis-lui que je la remercie de ses attentions pour toi ainsi que Mme <Tombarel/Lombard> que j’embrasse ainsi que sa fille.}
/3/ {M.r d’Ambel m’a demandé 100 f. à emprunter que je vais lui donner ; il a rendu les 60f. Tout le monde te fait mille amitiés. Les Deglande ont été très aimables ils m’ont fait visite & surtout M. J’ai aussi une lettre de Mme Barboule de la Motte qui demande qu’on prie pour une personne à laquelle elle s’intéresse ; je lui répondrai à ton retour.}
/4/ {C’est imprimé en anglais ; je l’ai donné à M. Canu ; ce M. dit qu’il y a des faits très curieux parfaitement en rapport avec les faits spirites ; je lui ai donné la pte brochure et 1 n° de la Revue. Je viens de voir Mr <Rulle/Rul> qui n’a pas reçu son n°, je ne sais pas s’il avait été adressé à Bordeaux.}
[177] | 06/09/1863 | Carta de Hipolite Rivail para Amélie Boudet |
[234] | 09/09/1863 | Carta de Amélie-Gabrielle Boudet para Allan Kardec |
[185] | 11/09/1863 | Carta de Allan Kardec para Amélie Boudet |
[186] | 15/09/1863 | Carta de Allan Kardec para Amélie Boudet |
[273] | 15/09/1863 | Carta de Allan Kardec para Amélie-Gabrielle Boudet |
[235] | 18/09/1863 | Carta de Amélie-Gabrielle Boudet para Allan Kardec |