Manuscrito
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A matéria V
À primeira vista, nada parece tão profundamente variado, tão essencialmente diferente, como as diversas substâncias que formam a composição do mundo.
Entre os objetos que a arte ou a natureza diariamente coloca diante de nossos olhos, há dois que mostram uma identidade ou apenas um indício de composição?
Que dessemelhança, do ponto de vista da solidez, da compressibilidade, do peso e das múltiplas propriedades dos corpos, entre o gás atmosférico e um filão de ouro, entre a molécula aquosa da nuvem e o mineral ósseo que forma a estrutura do globo terrestre? Que diversidade inimaginável entre o tecido químico das variadas plantas que ornamentam o reino vegetal e o dos representantes não menos numerosos da animalidade sobre a Terra!
No entanto, pode-se estabelecer como princípio absoluto que todas as substâncias conhecidas e desconhecidas, por mais diferentes que possam parecer, seja do ponto de vista de sua constituição íntima, seja do ponto de vista de sua ação recíproca, são, na verdade, apenas os diferentes modos em que a matéria se apresenta, apenas as variedades em que foi transformada sob a direção das inúmeras forças que a governam.
A química, cujo progresso tem sido tão rápido desde minha época, quando os próprios adeptos ainda a relegavam apenas ao reino secreto da magia, esta nova ciência que pode ser considerada justamente como filha do século observador e como tendo uma base única, muito mais sólida do que suas irmãs mais velhas. Com base no método experimental, a química, digo eu, fez bom uso dos quatro elementos primitivos que os antigos haviam convencionado a reconhecer na natureza; ela mostrou que o elemento terrestre não passa da combinação de diversas substâncias variadas ao infinito; que o ar e a água também são decomponíveis, que eles são o produto de um certo número de gases equivalentes; que o fogo, longe de ser também um elemento principal, é apenas um estado da matéria resultante do movimento universal a que está sujeito e de uma combustão sensível ou latente. Por outro lado, ela encontrou um número considerável de princípios até então desconhecidos, que lhe permitiram formar, por suas combinações específicas, as diversas substâncias, os diversos corpos que estudou, e que agem simultaneamente segundo certas leis e em certas proporções, no trabalho executado no grande laboratório da natureza. Esses princípios, ela os denominou: corpos simples, indicando com isso que são essencialmente definidos uns com os outros, primitivos e indecomponíveis, e que nenhuma operação saberia reduzi-los em partes relativamente mais simples do que eles mesmos.
Mas lá onde param as observações do homem auxiliado pelos sentidos artificiais os mais impressionantes, o trabalho da natureza continua; lá onde o vulgo toma a aparência pela verdade, lá onde o praticante eleva o véu e distingue o começo das coisas, o olho daquele que foi capaz de compreender o modo de ação da natureza vê, sob os materiais constituintes do mundo, apenas a matéria cósmica primitiva, simples e una na concepção dos universos, diversificados, em certas regiões, na época de seu nascimento, partilhados em corpos solidários durante sua vida, e desmembrado um dia no receptáculo do espaço, quando cai sob a mão da decomposição e da morte.
Há questões que nós, Espíritos apaixonados pela ciência, não saberíamos aprofundar, e sobre as quais só podemos expressar opiniões pessoais mais ou menos conjunturais; em tais questões, manterei-me calado ou justificarei minha maneira de ver. Para aqueles, portanto, que estarão tentados a ver em minhas palavras apenas uma teoria casual, eu diria: Abrace, se [2] possível, num olhar investigativo, a multiplicidade das operações da natureza e reconhecerá que se não admitirmos a unidade da matéria é impossível explicar, não direi apenas as formações dos sóis e das esferas, mas, sem ir tão longe, a germinação de um grão sob a terra ou a produção de um inseto.
Se observamos uma tal diversidade na matéria, é porque as forças que presidiram as suas transformações, as condições nas quais elas são produzidas são em número ilimitado, as combinações variadas da matéria não poderiam ser elas mesmas ilimitadas.
Portanto, quer a substância que consideramos pertença aos fluidos propriamente ditos, isto é, aos corpos imponderáveis, quer pertença aos caracteres e propriedades ordinários da matéria, existe em todo o universo apenas uma substância primitiva: o cosmo dos uranógrafos.
Galileu
Caligrafia atribuída a Allan Kardec.↩︎


]copie[1
La Matière V
Au premier abord rien ne paraît si profondément varié, si essentiellement distinct, que les diverses substances qui forment la composition du monde.
Parmi les objets que l’art ou la nature fait journellement passer sous nos regards, en est-il deux qui accusent une identité ou seulement une parité de composition ?
Quelle dissemblance au point de vue de la solidité, de la compressibilité, du poids et des multiples propriétés des corps, entre le gaz atmosphérique et le filon d’or, entre la molécule aqueuse du nuage et celle du minéral osseux qui forme la charpente du globe ? quelle inimaginable diversité entre le tissu chimique des plantes variées qui décorent le règne végétal et celui des représentants non moins nombreux de l’animalité sur la terre !
Cependant vous pouvons poser en principe absolu que toutes les substances connues et inconnues, quelque dissemblables qu’elles paraissent soit au point de vue de leur constitution intime, soit sous le rapport de leur action réciproque, ne sont en fait que des modes divers sous lesquels la matière se présente, que des variétés en lesquelles elle s’est transformée sous la direction des forces sous nombre qui la gouvernent.
La chimie dont les progrès ont été si rapides depuis mon époque où les adeptes eux-mêmes ne le reléguaient encore que dans le domaine secret de la magie, cette nouvelle science que l’on peut à juste titre considérer comme enfant du siècle observateur et comme uniquement basée, bien plus solidement que des sœurs ainées, sur la méthode expérimentale, la chimie dis-je, a fait beau jeu des quatre éléments primitifs que les anciens s’étaient accordés à reconnaître dans la nature ; elle a montré que l’élément terrestre n’est que la combinaison de substances diverses variées à l’infini ; que l’air et l’eau sont également décomposables, qu’ils sont le produit d’un certain nombre d’équivalents de gaz ; que le feu, loin d’être lui aussi un élément principal, n’est qu’un état de la matière résultant du mouvement universel auquel elle est soumise et d’une combustion sensible ou latente. En revanche, elle a trouvé en nombre considérable des principes jusqu’alors inconnus, qui lui ont paru former, par leurs combinaisons déterminées, les diverses substances, les divers corps qu’elle a étudiés, et qui agissent simultanément, suivant certaines lois et en certaines proportions, dans les travaux opérés au grand laboratoire de la nature. Ces principes, elle les a dénommés : corps simples, indiquant par là qu’ils sont essentiellement définis les uns d’avec les autres, primitifs et indécomposables, et que nulle opération ne saurait les réduire en parties relativement plus simples qu’eux-mêmes.
Mais là où s’arrêtent les appréciations de l’homme aidé même de ses sens artificiels les plus impressionnables, l’œuvre de la nature se continue ; là où le vulgaire prend l’apparence pour la réalité, là où le praticien soulève le voile et distingue le commencement des choses, l’œil de celui qui a pu saisir le mode d’action de la nature ne voit sous les matériaux constitutifs du monde que la matière cosmique primitive, simple et une à la conception des univers, diversifiée, en certaines régions, à l’époque de leur naissance, partagée en corps solidaires durant leur vie, et démembrée un jour dans le réceptacle de l’étendue, lorsqu’ils tombent sous la main de la décomposition et de la mort.
Il est de ces questions que nous-mêmes, Esprits amoureux de science, ne saurions approfondir, et sur lesquelles nous ne pourrions émettre que des opinions personnelles plus ou moins conjecturales ; sur ces questions-là je me tairai(1) ](oublié)[ {(1) ou justifierai ma manière de voir.}, mais celle-ci n’est pas de ce nombre. À ceux donc qui seraient tentés de ne voir dans mes paroles qu’une théorie hasardée je dirai : Embrassez, s’il est [2] possible, dans un regard investigateur la multiplicité des opérations de la nature et vous reconnaîtrez que si l’on n’admet l’unité de la matière il est impossible d’expliquer, je ne dirai pas seulement la formation des soleils et des sphères, mais sans aller si loin, la germination d’une graine sous terre ou la production d’un insecte.
Si l’on observe une telle diversité dans la matière, c’est parce que les forces qui ont présidé à ses transformations, les conditions dans lesquelles elles se sont produites étant en nombre illimité, les combinaisons variées de la matière ne pouvaient qu’être illimitées elles-mêmes.
Donc, que la substance que l’on envisage appartienne aux fluides proprement dits, c’est-à-dire aux corps impondérables, ou qu’elle soit revêtue des caractères et des propriétés ordinaires de la matière ; il n’y a dans tout l’univers qu’une seule substance primitive : le <cosme / cosmo> des uranographes.
Galilée
Caligrafia atribuída a Allan Kardec.↩︎