Manuscrito
Sociedade de Paris
Sessão de 1º de abril de 1864
Médium: senhorita Béguet
Pude, há alguns dias, comunicar-me aqui e dizer, em algumas palavras vagas e detalhadas, o conjunto de um pensamento que inquieta minha alma. Sofro, sim, sofro pelo mal que fiz e pelo bem que omiti. Enlutei a alma de toda uma geração com um novo ensinamento. Embora bom na realidade, a aparência e a reação a ele foram ruins e, por meio dos meus escritos, perdi mais homens do que os levei ao bem. É que, com o ridículo, não se faz um sábio, e a sátira amarga e repele, em vez de atrair. Querendo destruir o império dos sacerdotes, empurrei os homens para o mais completo ateísmo, pois ainda não estavam preparados para receber essas verdades. Fui mal compreendido e fiz uma obra incompleta, semeando em um campo que ainda não havia sido arado. Eu não disse: Ah, homens, escutem! Vocês são, <rei>, livres de si mesmos, independentes, podem agir de acordo com as inclinações dos seus corações. Que importa, uma vez que, após essa vida efêmera, tudo termina? Ah, não, sem dúvida; escrevi, ao contrário, em uma de minhas páginas: se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo.
Mas, durante vários séculos, todos os que estavam habituados a ver Deus na figura do sacerdote foram abalados por essa nova filosofia. Assim nasceu o ateísmo, que eu inspirei, não ensinei.
Mais feliz, vocês iluminam os corações mais submissos; mais fortes, falam com a alma pela santa persuasão, que dá credibilidade àquilo que escrevem, e a fé que move montanhas os ajuda e lhes dá o verdadeiro talento. Infeliz do filósofo que ensina aquilo em que, muitas vezes, ele sequer acredita; seus escritos são falsos, pois /2/ são o reflexo de seu orgulho, não dos pensamentos de seu coração. Que vasto campo eu poderia ter semeado; que recompensas eu teria conquistado! O que tenho eu, infelizmente? As lembranças e o sofrimento.
Com uma imaginação ardente e poética, eu teria feito do meu século o século dos sábios pensadores, preparando-os para receberem os benefícios que Deus estava preparando para o seu. Tudo acabou, tudo está perdido para mim. Resta-me apenas uma prancha após o naufrágio: é a esperança em Deus e nas boas orações de vocês. Volto aqui para pedi-las. Ainda gosto de ver, entre as mãos dos médiuns, a pluma, que me lembra o momento de felicidade que experimentei, frequentemente, ao escrever a ideia de que meu coração se arrependeu; minha felicidade era encontrar em minha imaginação algumas frases poéticas, alguns sonhos dourados; minha filosofia era para todos, nada para mim,
Voltaire.



Société de Paris
Séance du 1er Avril
1864
Med. Mlle. Béguet
J’ai pu il y a quelques jours me communiquer ici et donner en quelques paroles vagues et détaillées l’ensemble d’une pensée qui inquiète mon âme. Je souffre, oui, je souffre du mal que j’ai fait et du bien que j’ai omis. J’ai jeté le deuil dans l’âme de toute une génération par un nouvel enseignement. Quoique bonne en réalité, l’apparence et la réaction en furent mauvaises et je perdis par mes écrits plus d’hommes que je n’en ramenai au bien. C’est qu’avec le ridicule on ne fait pas de sage et la <satyre> aigrit et repousse au lieu d’attirer en voulant détruire l’empire des prêtres je poussai les hommes à l’athéisme le plus complet, parce qu’ils n’étaient point préparés encore à recevoir ces vérités. Je fus incompris et ne fis qu’une œuvre incomplète en semant dans un champ qui n’avait point été labouré. Je n’ai point dit : Ô hommes, écoutez ! Vous êtes, roi, libres de vous-même, indépendants, vous pouvez agir selon les penchants de votre cœur. Qu’importe ? Puisqu’après cette vie éphémère tout est fini ? Oh, non, sans doute, j’écris au contraire dans une de mes pages : Si Dieu n’existait point, il faudrait l’inventer.
Mais depuis plusieurs siècles, tous habitués à voir Dieu dans le prêtre furent ébranlés par cette philosophie nouvelle. De là naquit l'athéisme que j’ai inspiré non enseigné.
Plus heureux vous jetez la lumière dans des cœurs plus soumis ; plus forts vous parlez à l’âme par la persuasion sainte que donne la confiance en ce que vous écrivez, et la foi qui transporte les montagnes vous aide et vous donne le vrai génie. Malheur au philosophe qui enseigne ce que souvent il ne pense pas ; ses écrits sont faux parce qu’ils /2/ sont le reflet de son orgueil, non les pensées de son cœur. Quel champ vaste j’aurais pu ensemencer ; que de récompenses j’aurais acquises ! Qu’ai-je, hélas ? Les souvenirs et la souffrance.
D’une imagination ardente et poétique, j’aurais fait de mon siècle le siècle des sages penseurs, en les préparant à recevoir les bienfaits que Dieu préparait au vôtre. Tout est passé, tout est perdu pour moi. Il me reste une planche après le naufrage : c’est l’espérance en Dieu et en vos bonnes prières. Je reviens ici en demander. J’aime encore a voir entre les mains des médiums la plume qui me rappelle le moment de <bonheurs> que j’ai goûté souvent écrivant l’idée que mon cœur repentait ; ma joie était de trouver dans mon imagination quelques phrases poétiques quelques rêves dorés; ma philosophie était pour tous, rien pour moi,
Voltaire.