Manuscrito

Comunicação [27/01/1865]

27 de janeiro de 1865

Médium: senhora Cazemajour

Por que duvidar que eu esteja perto de você? Assim, você me impediu de expressar a alegria com que transborda meu coração, enfraquecido, porém, pela tristeza que me causa a imensa dor que sente, pela minha morte, aquela que foi minha companheira aqui embaixo.

Tive de me manifestar em outro lugar por causa de sua dúvida; mas volto; você é mulher e mãe, compreenderá melhor aquilo que tenho a lhe dizer para consolar os seres amados que se apoiavam em mim em vida e que encontrarão apoio ainda mais firme na morte.

Eu não os deixei; a tumba não sufocou, sob sua fria e lúgubre mortalha, a parte sutil de meu ser que se chama inteligência e Espírito; e é este ser pensante e amoroso, que vive em liberdade nas esferas espirituais, que os protegerá até a abençoada hora do eterno reencontro.

As almas, ao deixarem a Terra, traçam no espaço um sulco luminoso, rastro fosforescente e atraente, laço de amor que as faz se corresponderem, desde os limites mais extremos dos mundos superiores até as regiões infinitas onde gravitam os mundos habitados por aqueles que lá estão em expiação. Não é uma imagem, é a realidade; ao morrer, você reconhecerá no espaço a esteira traçada pelo ser amado que o terá precedido na Eternidade; seu brilho enfeixado forma um foco de luz e uma imensa atração, centro de solidariedade e de amor.

Pobres adoradas! Elas logo compreenderão o quanto minha morte foi vantajosa para elas, no sentido material. As obras de Proudhon morto venderão mais do que as obras de Proudhon vivo e assegurarão a modesta comodidade que fui incapaz de dar-lhes. Elas se tornarão espíritas para retomar comigo nossas doces conversas /2/ de outrora. Eu não era espírita, é verdade, mas tinha fé no futuro que me parece agora tão resplandecente, de modo que me fascina.

Não, eu não era um utópico; eu era um apóstolo fervoroso do progresso humano. Eu estava enganado quanto aos meios a serem usados para conduzir os homens até ele, mas agora vejo, compreendo; amo, inclusive, meus detratores, que são apenas, como eu mesmo o fui, instrumentos da Providência, e consagrarei doravante todas as minhas faculdades de Espírito, no presente e no futuro, para me dedicar ao cumprimento das grandes coisas que me são reveladas.

Proudhon.

001
001
002
002

Du 27 Janvier 1865

Méd. Mad. Cazemajour

Pourquoi douter de ma présence près de vous ? Vous m’avez ainsi empêché d’épancher la joie dont mon cœur surabonde, mais affaiblie cependant par le chagrin que me cause l’immense douleur que ressent de ma mort, celle qui était ma compagne ici-bas.

J’ai dû me manifester autre part, à cause de votre doute ; mais je reviens ; vous êtes femme et mère, vous comprendrez mieux ce que j’ai à vous dire pour consoler les êtres aimés qui s’appuyaient sur moi dans la vie, et qui y trouveront encore un plus ferme appui dans la mort.

Je ne les ai pas quittés ; la tombe n’a pas étouffé, sous son froid et lugubre suaire, la partie subtile de mon être qui s’appelle intelligence et Esprit ; et c’est cet être pensant, aimant qui vit en liberté dans les sphères spirituelles qui les protégera jusqu’à l’heure bénie de l’éternelle réunion.

Les âmes, en quittant la terre, tracent dans l’espace un sillon lumineux, traînée phosphorescente et attractive, lien d’amour qui les fait se correspondre des plus extrêmes limites des mondes supérieurs jusqu’aux régions infinies où gravitent les mondes habités par celles qui y sont en expiation. Ce n’est pas une figure, c’est la réalité ; en mourant vous reconnaîtrez dans l’espace le sillage tracé par l’être aimé qui vous aura précédé dans l’Eternité ; leur rayonnement réuni forme un foyer de lumière et d’attraction immense, centre de solidarité et d’amour.

Pauvres bien aimées ! Elles comprendront bientôt combien ma mort a été avantageuse pour elles, sous le rapport matériel. Les œuvres de Proudhon mort, se vendront mieux que les œuvres de Proudhon vivant, et leur assureront la modeste aisance que j’ai été impuissant à leur créer. Elles deviendront spirites pour reprendre avec moi nos douces causeries /2/ d’autrefois. Je n’étais pas spirite, il est vrai, mais j’avais cependant foi dans l’avenir qui m'apparaît maintenant si resplendissant que j’en suis ébloui.

Non, je n’étais pas un utopiste ; j’étais un apôtre fervent du progrès humain. Je m’étais trompé sur le moyen à employer pour y conduire les hommes ; mais maintenant je vois, je comprends ; j’aime même mes détracteurs qui ne sont comme j’étais moi-même que des instruments de la providence, et je consacrerai désormais toutes mes facultés d’Esprit dans le présent et dans l’avenir pour concourir à l’accomplissement des grandes choses qui me sont révélées.

Proudhon.

18/01/1865 Rascunho de carta para a senhora Ebert
22/01/1865 Rascunho de carta para o senhor Vincent
24/01/1865 Evocação
29/01/1865 Comunicação
29/01/1865 Comunicação
31/01/1865 Comunicação/Diálogo