Manuscrito
Médium senhorita Chedeaux
20 de Dezembro de 1863
Ação do Cérebro na Mediunidade
O cérebro é o ponto de chegada e de partida de todas as influências espirituais e materiais; é onde as sensações espirituais chegam para serem impressas no encarnado. É aí também que se repercute e chega a sensação física.
Dizemos, geralmente, que o cérebro é a sede das sensações; ele é o recipiente, mas não o motor primitivo. As sensações são o produto das combinações fluídicas nervosas materiais, e o fluido que as coordena e as transmite ao cérebro se chama “sensitivo”, conforme o trabalho que lhe é próprio.
Como o centro do aparelho sensitivo nervoso humano está no cérebro, todas as sensações corporais chegam ali, e o Espírito as sente através da parte material e fluídica de seu corpo, que é, no momento de sua encarnação, o transmissor de diversos gêneros de suas sensações. Mas o cérebro também é o refletor das sensações espirituais do Espírito; é ativo e passivo ao mesmo tempo; ele dá e recebe. Há nele, então, uma junção dessas diversas sensações. É essa dupla função que frequentemente produz, na mediunidade, um problema, cujas comunicações contraditórias são o resultado, quando os Espíritos que influenciam o médium agem simultaneamente e com ideias diferentes ou opostas. Então, é através dos fluidos cerebrais de diferentes naturezas que o médium é influenciado. Quando digo médium, também poderia dizer encarnado; que ele esteja ou não em união mediúnica, o efeito é o mesmo; a única diferença que há é que ele, o médium, recebe influências externas, ao invés de suas próprias; não há nada mais na mediunidade senão o desaparecimento voluntário da personalidade do médium em benefício do Espírito desencarnado que o influencia.
Eu repito que os fluidos cerebrais são de diversas naturezas, que influenciam o encarnado de vários modos, dependendo se são, eles mesmos, influenciados por fluidos materiais ou fluidos espirituais. A ação sempre parte do cérebro, mas ela vem do espiritual ou do material, e, embora o efeito frequentemente pareça o mesmo, sendo a causa muito diferente, também o são as comunicações.
Os médiuns que quiserem estudar as diferentes sensações que eles experimentam quando se colocam em união mediúnica, reconhecerão facilmente de qual ponto parte a influência. Para isso, vejamos como procede o Espírito que se comunica com o encarnado pelo fluido. Ele começa projetando seu próprio fluido sensitivo sobre o do encarnado; esse fluido, <assim> eletrizado, age sobre as moléculas fluídicas materiais, que se agitam e se precipitam em direção ao sentido ou ao membro que o Espírito quer influenciar; há, para essa parte, então, crescimento do poder de impulsão.
Tendo depositado seu instrumento, o Espírito imprime nele o movimento reprodutor de seu pensamento, se for em um membro que ele age ou a sensação reprodutiva desse pensamento, ou se for um sentido. Ora, o movimento e as sensações tendo o mesmo aparelho /2/ e o mesmo fluido, chegam ao mesmo destino: o cérebro.
Esse é o trabalho operado pela mediunidade corporal e semi-corporal. Mas, na mediunidade espiritual, o trabalho é feito na direção inversa.
O Espírito, que sempre é um Espírito suficientemente desmaterializado para poder agir com facilidade sobre os fluidos espirituais, se une através de seus fluidos espirituais similares aos do encarnado, e a este lhe transmite, assim, sua sensação espiritual; é a primeira preparação: a intuição; depois, ele age sobre o fluido espiritual operante, que transmite essa sensação ao cérebro, que a recebe, apropria-se dela e materializa-a fluidicamente ao lhe dar um corpo que é sua representação; esse segundo trabalho é aquele da voz interior.
Se é o encarnado em pessoa quem recebe o trabalho de seu próprio espírito, não há mediunidade; há aquilo que chamais de “pensamento”, de “reflexão”; mas, quando através da união mediúnica é dado a um espírito o direito de vos enviar suas sensações e seus próprios pensamentos, tal voz interior não é mais a vossa, e estais ciente disso, já que ela exprime pensamentos ou vislumbres espirituais que não vos são próprios, pois ela vos surpreende, vos instrui e vos eleva além do vosso progresso atual.
Esse estudo é bastante difícil para os iniciantes no espiritismo e na mediunidade; mas para os médiuns que já lutaram contras os obstáculos mediúnicos e que já conquistaram, [assim] posso dizê-lo, certa experiência material, essa instrução pode colocá-lo na via das observações e encaminhá-los para o trabalho mediúnico, ao fazê-los reconhecer aquilo que vem da espiritualidade pura daquilo que vem da sensação, que é sempre mais inferior, dado que se origina da materialidade.
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Méd. Mlle. Chedeaux
20 Décembre 1863
Action du Cerveau dans la Médianimité
Le cerveau est le point d’arrivée et le départ de toutes les influences spirituelles et matérielles ; c’est là où aboutissent les sensations spirituelles pour être imprimées à l’incarné. C’est là aussi où se répercute et aboutit la sensation physique.
On dit généralement que le cerveau est le siège des sensations, il en est le récipient, mais non le moteur primitif. Les sensations sont le produit des combinaisons fluidiques nerveuses matérielles, et le fluide qui les coordonne et les transmet au cerveau s’appelle sensitif d’après le travail qui lui est propre.
Comme l’appareil sensitif nerveux humain a son centre dans le cerveau, toutes les sensations corporelles y aboutissent et l’Esprit le ressent par cette partie matérielle et fluidique de son corps, qui est dans le moment de son incarnation, le transmetteur des divers genres de ses sensations. Mais le cerveau est aussi le répercuteur des sensations spirituelles de l’Esprit; il est actif et passif à la fois ; il donne et reçoit ; il y a donc en lui jonction de ces diverses sensations. Cette double fonction est ce qui souvent produit dans la médiumnité un trouble dont les communications contradictoires sont le résultat, lorsque les Esprits qui influencent le médium agissent simultanément et avec des idées différentes ou opposées. Donc, c’est par les fluides cérébraux de différentes natures que le médium est influencé. Quand je dis médium, je puis dire aussi l’incarné ; qu’il soit ou non en union médianimique l’effet est le même, la seule différence qu’il y ait, c’est que médium, il reçoit les influences étrangères au lieu des siennes propres ; il n’y a en plus dans la médiumnité que la disparition volontaire de la personnalité du médium au profit de l’Esprit désincarné qui l’influence.
Je répète que les fluides cérébraux sont de diverses natures et qu’ils influencent diversement l’incarné selon que ces fluides sont eux-mêmes influencés par des fluides matériels ou par des fluides spirituels. L’action part toujours du cerveau, mais elle vient du spirituel ou du matériel, et quoique souvent l’effet paraisse le même la cause étant bien différente, les communications le sont aussi.
Les médiums qui voudront étudier les différentes sensations qu’ils éprouvent lorsqu’ils se mettent en union médianimique reconnaîtront facilement de quel point part l’influence. Pour cela, voyons comment procède l’Esprit qui se met en rapport de fluide avec l’incarné. Il commence par projeter son fluide sensitif à lui, sur celui de l’incarné, ce fluide <ainsi> électrisé agit sur les molécules fluidiques matérielles qui s’agitent et se précipitent vers le sens ou le membre que veut influencer l’Esprit, il y a donc vers cette partie accroissement de puissance d’impulsion.
L’Esprit ayant déposé son instrument lui imprime le mouvement reproducteur de sa pensée si c’est sur un membre qu’il agit, ou la sensation reproductrice de cette pensée, si c’est sur un sens, or le mouvement et les sensations ayant le même appareil /2/ et le même fluide arrivent au même but, au cerveau.
Cela est le travail opéré pour la médiumnité corporelle et la semi-corporelle, mais pour la médiumnité spirituelle le travail se fait en sens inverse.
L’Esprit qui est toujours un Esprit assez dématérialisé pour pouvoir agir facilement sur les fluides spirituels, s’unit par ses fluides spirituels similaires à ceux de l’incarné, et lui transmet ainsi sa sensation spirituelle, c’est la première préparation l’intuition, puis, il agit ensuite sur le fluide spirituel agissant qui transmet cette sensation au cerveau qui la reçoit se l’approprie et la matérialise fluidiquement en lui donnant un corps qui en est la représentation ; ce second travail est celui de la voix intérieure.
Si c’est l’incarné lui-même qui reçoit le travail de son propre esprit, il n’y a pas médianimité, il y a ce que vous appelez pensée, réflexion ; mais quand par l’union médianimique vous avez donné à un esprit le droit de vous faire parvenir ses sensations, sa pensée à lui, cette voix intérieure n’est plus la vôtre, et vous vous en rendez bien compte puisqu’elle exprime des pensées ou des aperçus spirituels qui ne sont pas du tout de votre acquis, puisqu’elle vous étonne, vous instruit et vous élève hors de votre avancement actuel.
Cette étude est assez difficile pour les débutants dans le spiritisme et la médianimité ; mais pour les médiums ayant déjà lutté contre les obstacles médianimiques, et ayant acquis si je puis dire, une expérience matérielle, cette instruction peut les mettre sur la voie des observations et les diriger dans le travail médianimique en leur faisant reconnaître ce qui vient de la spiritualité pure de ce qui vient de la sensation qui est toujours plus inférieure puisqu’elle dérive de la matérialité.
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[68] | 12/12/1863 | Rascunho de carta para o senhor Dalmazzo |
[80] | 15/12/1863 | Rascunho de carta para o senhor Rousset |
[294] | 18/12/1863 | Comunicação |
[69] | 31/12/1863 | Rascunho de carta para o senhor Matrat |
[70] | 31/12/1863 | Rascunho de carta para o senhor Dijoud |
[71] | 06/01/1864 | Rascunho de carta para o senhor Boudou |