Manuscrito
Paris, 2 de dezembro de 1863.
Meu caro senhor Jourdan,
Venho um pouco tardiamente, mas sem que haja negligência voluntária de minha parte, agradecer-lhe pela sua gentil e bondosa carta. Eu já conhecia suas simpatias pelos nossos princípios e quando eu disse: senão por todos, ao menos por alguns, foi precisamente à prática das comunicações de além-túmulo que eu fazia alusão, conhecendo sua opinião a respeito. O senhor diz que me ficaria grato se lhe desse uma explicação sobre tal assunto. Como isso seria muito extenso para uma carta e, aliás, serviria apenas para um leitor, preferi dar-lhe no número da Revista que o senhor vai receber. Todavia, como o senhor me disse que sua carta era confidencial, julguei que não devia citar seu nome. Pouco mais tarde, terei outras considerações a submeter-lhe por escrito, porque elas não permitem ainda publicidade. O Espiritismo não disse ainda e não deve ter dito sua última palavra.
Quanto ao pedido que o senhor me faz de expor na Revista algumas de suas opiniões pessoais sobre a doutrina, acedo com boa vontade, porque sei de antemão que suas críticas não serão o fruto de uma hostilidade sistemática, preconcebida e maldosa.
A seu amigo de Argel que afirma que escondo meu verdadeiro nome sob um nome suposto, responderei que nove décimos dos escritores fazem uso de pseudônimos e que não vejo por que não me seria permitido usar desse direito como qualquer outro. Há, entretanto, uma diferença entre mim e eles: é que a maior parte dos seus pseudônimos são de pura fantasia, enquanto o meu tem sua razão de ser e sua utilidade para a natureza de meus trabalhos; é o que farei saber quando chegar o tempo oportuno para isso; neste momento seria prematuro. Quanto ao meu nome oficial, eu o oculto tão pouco que recebo diariamente cartas sob esse nome para meus negócios pessoais; que publiquei com ele há 40 anos numerosas obras que tiveram e ainda têm bom êxito; que, enfim, esse nome está em todas as suas letras no almanaque dos 500 mil endereços, na lista dos eleitores, dos proprietários da sétima circunscrição e dos membros de mais de uma sociedade cultural.
Se isso não fosse senão para o senhor, responderia voluntariamente à pergunta, mas não tenho nenhum motivo para satisfazer à curiosidade desse seu amigo de Argel, basta-me provar-lhe que não me escondo.
Queira receber.


Paris le 2 Décembre 1863.
Mon cher Monsieur Jourdan,
Je viens un peu tardivement, mais pourtant sans qu’il y ait négligence volontaire de ma part, vous remercier de votre bonne et gracieuse lettre. Je connaissais déjà vos sympathies pour nos principes, et quand j’ai dit : sinon pour tous, du moins pour quelques-uns c’est précisément à la pratique des communications d’outre-tombe que je faisais allusion, sachant votre opinion à cet égard. Vous dites que vous me saurez gré de vous donner une explication à ce sujet ; comme ce serait trop long pour une lettre et que d’ailleurs cela ne servirait que pour un, j’ai préféré vous la donner dans le no de la Revue que vous allez recevoir, toutefois, comme vous m’avez dit que votre lettre était confidentielle, j’ai cru devoir ne pas vous nommer. Un peu plus tard, j’aurai d’autres considérations à vous soumettre par écrit, parce qu’elles ne comportent pas encore la publicité. Le Spiritisme n’a pas encore dit et ne doit pas avoir dit son dernier mot.
Quant à la demande que vous me faites d’exposer dans ma Revue quelques-unes de vos opinions personnelles sur la doctrine, j’y accède très volontiers parce que je sais d’avance que vos critiques ne seront pas le fait d’une hostilité systématique préconçue et malveillante.
À votre ami d’Alger qui prétend que je cache mon véritable nom sous un nom supposé, je répondrai que les neuf-dixièmes des écrivains font usage du pseudonyme et que je ne vois pas pourquoi il ne me serait pas permis d’user de ce droit comme un autre. Il y a cependant une différence entre eux et moi : c’est que la plupart des pseudonymes sont de pure fantaisie, tandis que le mien a sa raison d’être et son utilité pour la nature de mes travaux ; c’est ce que je ferai connaître quand il en sera temps ; pour l’instant ce serait prématuré. Quant à mon nom officiel, je le cache si peu que je reçois tous les jours des lettres sous ce nom pour mes affaires personnelles ; que j’ai publié sous ce nom, depuis 40 ans, d’assez nombreux ouvrages qui ont eu et ont encore un beau succès, qu’enfin ce nom est en toutes lettres dans l’almanach des cinq cent mille adresses sur la liste des electeurs des propriétaires du 7e arrondissement et des membres de plus d’une société savante.
Si ce n’était que pour vous cher Monsieur je répondrais volontiers à la question, mais je n’ai aucun motif de satisfaire la curiosité de ce Monsieur ; il me suffit de lui prouver que je ne me cache pas.
Recevez.